O concerto, que há várias semanas estava esgotado, tinha início previsto para as 21h30, mas as redondezas do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) começaram a compor-se mais de uma hora antes. “Acho uma excelente iniciativa que comecem a trazer grandes nomes para sítios que habitualmente não estão tão habituados a recebê-los”, notou Mário, que juntamente com Inês, foi dos primeiros ao local para ver e ouvir The Tallest Man on Earth.

O estilo de balada melancólica de Kristian Madsson, quase a lembrar a figura de um trovador, tornava o concerto apelativo para casais que queriam um programa para uma noite de domingo. Humberto e Andreia já tinham esta noite planeada há muito tempo: “Comprámos o bilhete na altura de Natal. Foi a minha prenda de Natal para o Humberto”, contou ao JPN pouco antes das portas abrirem.

Já dentro da sala, o burburinho habitual foi cortado pelo aparecimento humilde de um artista despido de vedetismos. Naquela noite, o CCVF prestou a sua homenagem à voz, guitarra, banjo, piano e, até, à guitarra portuguesa apresentados pelo músico sueco no seu estado cruamente genuíno.

Para quem pensasse que o concerto seria à volta do novo EP, “When The Bird Sees The Solid Ground”, a entrada em cena de Kristian Madsson foi uma agradável surpresa. Depois de ter aberto a noite com o tema “To just Grow Away”, que já tem quase sete anos, seguiram-se outros clássicos como “Like the Wheel” ou “Garden”, música que arrancou as primeiras respostas da plateia. Tudo isto em cerca de 20 minutos cheios de intensidade.

Kristian Madsson, no seu jeito simples ia comunicando com o público de Guimarães. “Vocês são tão educados. Gosto disso! Não se preocupem que é a minha primeira vez cá e, por isso, não conheço ninguém”, brincou a certa altura do concerto. Não sendo comediante, a boa disposição de “The Tallest Man on Earth” foi arrancado sorrisos da plateia.

O tempo não passava, mas corria. Depois de tocar o tema “All I Keep Is Now”, Kristian Madsson decidiu voltar a conversar com o Centro Cultural Vila Flor. “A Anne (técnica de guitarras) está chateada comigo, porque me enganei na última música e não me dá a guitarra. Lá vou ter de ir para o piano”.

Sentado ao piano, Kristian Madsson tocou o tema “Little Nowhere Towns”, mais um tema já com uns aninhos. Um concerto de música vale, também, pela facilidade do artista em adaptar o seu repertório. The Tallest Man on Earth estava agradavelmente despreocupado com eventuais “guiões” na hora de definir uma setlist e isso tornava a noite ainda mais especial.

The Tallest Man on Earth deu três concertos em Portugal.

The Tallest Man on Earth deu três concertos em Portugal. Foto: Gonçalo Inácio

Deixem-me tocar mais uma canção triste”. Kristian Madsson soltou estas palavras num momento em que o seu dedilhado já denunciava um dos seus temas mais mediáticos: “Love is all”. A sala não ficou indiferente e reagiu com alegria à tal “canção triste” com palmas a compasso.

A versatilidade de Kristian Madsson materializou-se em cada dedilhado no tão característico banjo no momento de interpretar o tema “Time of the Blue”. Depois disso, lá apareceu o primeiro tema do novo EP do músico e, novamente, ao piano. “Somwhere in The Mountains, Somewhere in New York” teve contornos de momento solene e antecedeu uma sequência sublime de algumas das suas músicas mais conhecidas.

Kristian Madsson bem avisou: “Acreditem ou não, tenho uma canção alegre e vou tocá-la”. O tema “Thrown Right At Me” foi tocado a uma velocidade estonteante e o resultado foi, de forma bonita, bastante diferente da versão de estúdio. Nesta altura em que o concerto se aproximava do fim, não havia tempo para pausas. Entre “Thrown Right At Me” e “Then I Won’t Sing No More” houve uma transição que soou natural e que antecedeu o que, mais tarde ou mais cedo, ia acabar por acontecer.

“Posso tocar só mais duas músicas?”, perguntou Kristian Madsson. O Centro Cultural Vila Flor foi unânime a responder que sim e, como o público é soberano, The Tallest Man on Earth fechou um grande concerto com dois temas consagrados: “King of Spain” e “Dreamer”. Na hora de tocar o último tema, Kristian disse mesmo: “Esta canção é sobre vocês”.

Foram longos três minutos de dúvida.

Depois de, sem surpresa, ter sido aplaudido de pé, Kristian Madsson voltou para o esperado encore e voltou com uma companhia bem especial. “Ofereceram-me isto, mas ainda vou ter de praticar muito”, disse à plateia enquanto afinava uma guitarra portuguesa, pronto para tocar o tema “Sagres”, música sobre Portugal.

As surpresas não tinham acabado porque, mesmo nas últimas e com o público em êxtase, o músico sentou-se ao piano e tocou uns acordes de “The Winner Takes it All”, dos ABBA, a banda mais consagrada do país natal de Kristian Madsson. Começou com ABBA, mas o piano de The Tallest Man on Earth acabou na canção “Kids On The Run”, a última da noite e desta vez foi mesmo a última, pontuando a digressão lusa que passou também por Lisboa (sexta-feira) e Aveiro (sábado).

A plateia voltou a levantar-se para aplaudir aquele que, naquelas duas horas, se tinha tornado mais um conquistador de Guimarães.

Artigo editado por Filipa Silva