O número 262 da Rua de Costa Cabral, no Porto, alberga, desde setembro do ano passado, o “Todos P’ra Mesa“, um espaço de educação alimentar, workshops e pequenos eventos.

Com o desenvolvimento da tese de mestrado em Biotecnologia e Inovação, com vertente em Nutrição Pediátrica, Catarina Trindade sentiu a “necessidade” de criar um espaço onde pudesse “levar as crianças para a cozinha” e, ao mesmo tempo, ensinar-lhes mais sobre boa alimentação, com jogos e atividades lúdicas.

As sessões de educação alimentar, para crianças dos três aos 10 anos, funcionam uma vez por semana e são sempre “muito práticas” e “dinâmicas”. “Nós seguimos um programa proposto pelas direções-gerais de Saúde e da Educação, que tem determinados objetivos para cada faixa etária, e a ideia é, com um conjunto de sessões, atingir esses objetivos”, explica a nutricionista.

Levar uma criança para a cozinha, por norma, “resulta sempre”. “Elas querem, quanto mais não seja, pôr as mãos na massa, mesmo que não seja para fazer nada”, brinca Catarina. A jovem de 24 anos explica que o importante é envolver as crianças nas sessões, através da participação, e saber adaptar-se a cada criança e a cada sessão.

A cozinha do "Todos P'ra Mesa".

Levar uma criança para a cozinha, por norma, “resulta sempre”. Foto: Sara Pires

A dinâmica de cada aula começa sempre “com uma questão à qual queremos dar resposta”, esclarece a nutricionista. “A partir daí, ou fazemos um jogo, ou lemos uma história, ou construímos nós uma história. Muitas vezes levam também para casa alguns desafios”, acrescenta.

Da ideia inicial – atividades extracurriculares para crianças – surgiram outras vertentes que o espaço poderia ter: workshops e pequenos eventos. A responsável explica que o projeto “está muito disponível à ideia do cliente”. “A ideia é personalizarmos ao máximo aquilo que o cliente nos pede, dentro daquilo que nós fazemos”, afirma. No entanto, Catarina Trindade adverte para o facto de ter que haver “uma componente de educação” em todos os eventos a realizar no espaço.

Projetos de educação alimentar em Portugal são “pouco completos”

Falar em educação alimentar implica falar das áreas da educação, da saúde e até da economia. Catarina Trindade afirma que já existem vários projetos de educação alimentar a ser implementados em Portugal, principalmente nas escolas, “por ser um sítio fácil de chegar às crianças”.

Contudo, importa ter em conta que “se calhar, esses projetos não estão a ser feitos como deviam, ou são poucos completos”. A nutricionista dá o exemplo da obesidade: “Estamos a conseguir que a taxa de obesidade se vá mantendo e que não haja um aumento constante, mas ainda temos cerca de 30% de crianças obesas em Portugal”.

Desenvolver programas o mais completos possível, mas que não sejam estáticos, é a proposta da nutricionista. “Muitas vezes os programas estão de tal forma planeados que não nos dão margem para nos podermos adaptar ao grupo, e o que funciona com um grupo, não funciona com outro. É esta plasticidade dos programas de educação alimentar que às vezes falha“, explica.

Catarina Trindade.

Catarina Trindade sentiu a “necessidade” de criar um espaço onde as crianças pudessem cozinhar. Foto: Sara Pires

A jovem considera que também é importante criar o papel do nutricionista escolar. “Nas escolas públicas já começa a existir esse papel, mas de uma forma muito ingrata para o nutricionista, e nas escolas privadas, ainda são poucas as que têm”, acrescenta. Algumas escolas têm empresas que fazem as ementas e que fornecem as refeições. Essas empresas têm um nutricionista, “mas é um nutricionista muito distante da escola”.

Trabalhar ao nível da economia é igualmente prioritário. A disposição dos produtos nos supermercados pensada estrategicamente, como o acesso fácil a “guloseimas rápidas” nas caixas, faz com que as pessoas se sintam “tentadas” a levar. “Compramos muito por impulso e, por isso, as coisas estão estudadas de forma a nós comprarmos aquilo que eles querem”, explica Catarina Trindade.

O “Todos P’ra Mesa” vem dar destaque à educação alimentar em Portugal e, para a jovem, o objetivo é crescer cada vez mais. “Para já quero tornar este projeto sólido: apostar na dinamização do espaço e na mensagem que queremos passar. A ideia é mantermo-nos fiéis àquele que é o espírito do espaço”, afirma Catarina Trindade. Num futuro mais distante, “se pudermos ser o espaço de eleição no Porto para workshops e formações, melhor ainda”, remata.

Artigo editado por César Castro