O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) detetou 14 cidadãos estrangeiros em situação ilegal em dois clubes do distrito de Aveiro. De acordo com o jornal “O Jogo”, os clubes são o Atlético Clube de Famalicão (AC Famalicão) e a Escola de Futebol Rui Dolores (EF Rui Dolores) Os clubes, que militam na primeira e segunda divisão distrital da Associação de Futebol de Aveiro (AF Aveiro), respetivamente, confirmam a fiscalização, mas contestam os números da operação.

O JPN conseguiu apurar junto de fonte próxima da EF Rui Dolores que, na semana passada, agentes do SEF se deslocaram às instalações do clube para verificarem a situação de vários jogadores. Segundo uma nota de imprensa, a entidade notificou os cidadãos para “abandonarem de forma voluntária o país”, num prazo de vinte dias,  “sob pena de, em caso de incumprimento, virem a ser detidos e alvo de procedimentos administrativos de afastamento do país.”

Ao JPN, o SEF confirmou ainda que foram detetados sete atletas, de cada clube, em situação irregular, a quem foram instaurados processos de contraordenação, cujas coimas podem oscilar entre os oito mil e os 30 mil euros. No entanto, os números apurados pelo diário desportivo (de que se tratariam apenas de cinco futebolistas, todos brasileiros, da EF Rui Dolores e dois do AC Famalicão) diferem dos que que foram divulgados pelo SEF.

O sonho de ser jogador profissional, que “acaba com trabalhos extra”

Fernando é guarda-redes e chegou a Portugal este ano. O jovem brasileiro aterrou com a esperança de conquistar um espaço na baliza de um clube português. Depois de algumas semanas em captações, conseguiu um lugar numa equipa que compete num campeonato distrital.

Ao JPN, o guarda-redes brasileiro explicou como se processa a obtenção de um visto e a respetiva legalização. “Qualquer brasileiro, seja atleta ou não, tem autorização de ficar em Portugal durante 3 meses. É o visto de turista”, diz. Caso um cidadão brasileiro pretenda ficar durante um período mais longo no país, “ele precisa de um contrato de trabalho, para que consiga obter um visto de residência.”

A maioria dos jogadores brasileiros acabam por jogar em equipas de menor dimensão onde os contratos profissionais são meras miragens. Mediante esta situação, Fernando confessa que a grande parte dos jogadores brasileiros “vêm para jogar futebol e acabam dividindo a vida de atleta com a vida de trabalhos extra” para conseguirem um contrato de trabalho e não serem apanhados de surpresa “pelo controle.”

O sonho de serem jogadores profissionais na Europa, atrai milhares de jovens brasileiros. Foto: Bruno Domingues/flickr

Futuro incerto

Um outro jogador brasileiro, que preferiu também não ser identificado e residente em Portugal há alguns anos, contou ao JPN que continua a viver com incerteza o futuro numa equipa que compete nos campeonatos distritais de Aveiro. “Já agendei uma marcação com o SEF em maio, mas ainda não tenho contrato de trabalho para comprovar lá nos serviços”, revela.

O “salário” que recebe do clube onde joga não chega para cobrir todas as despesas e muito menos lhe garante o contrato profissional de trabalho que precisa para conseguir um “visto de residência permanente.” Por agora, o atleta vai continuar a procurar dividir a paixão do futebol com um trabalho extra, que lhe garanta sustentabilidade económica e a regularização da sua situação no país.

Jogadores aliciados que acabam em situação ilegal

O brasileiro Diego Lima, atualmente a jogar na Tailândia, é um rosto conhecido de muitos portuenses, sobretudo dos adeptos do Boavista. O médio, que jogou nos axadrezados na época de 2014/2015 e 2015/2016 e no Atlético Clube de Portugal durante seis meses, contou ao JPN como foi o processo de adaptação a Portugal e a forma como milhares de jovens são aliciados.

Diego Lima, tem 30 anos e representou o Boavista durante duas épocas.

Diego Lima tem 30 anos e representou o Boavista durante duas épocas. Foto: Diego Lima/Facebook

“Quando cheguei a Portugal fui para o Atlético de Portugal, em Lisboa. Assinei um contrato de seis meses e não consegui o visto de residência. Fiquei com o visto de turista e o clube também não fez nada para me ajudar a regularizar a minha situação durante esse período”, explicou.

Já pela segunda vez no país, Diego Lima assinou um contrato com o Boavista, válido durante três anos. Só assim conseguiu um visto de trabalho. Diego confessou que conhece muitos jogadores e amigos brasileiros que estão em Portugal ilegalmente. “São muitos. Vão com promessas e quando chegam aí passam dificuldades para poder ficar no país e acabam ficando ilegais.”

Artigo editado por César Castro