Para Miguel Tamen, diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), não há dúvidas e o caso merece reflexão: “A universidade está presa à empregabilidade“. O orador convidado do Dia da FMUP, que celebrou 194 anos a 27 de fevereiro, teve como mote do discurso a “Universidade como deve ser”, defendendo que quanto mais completo e diverso for o percurso académico dos estudantes melhor estes poderão exercer as suas profissões.
Prova disso, lembrou, é existirem pessoas que se formaram numa área e se celebrizaram noutra, por isso, advoga uma universidade que não se esgota no exercício de uma profissão. “Uma ideia de universidade separada das preocupações com as atividades profissionais dos seus alunos”, vincou o diretor da FLUL.
O professor catedrático apontou que uma das consequências da universidade voltada para a empregabilidade se encontra nas provas de acesso ao ensino superior: “o sistema é absolutamente pouco generoso porque, entre outras coisas, prende as pessoas a escolhas que fizeram aos 15 anos”.
Miguel Tamen deixou, assim, um repto à comunidade académica: “deem-lhes tempo para pensar pela própria cabeça, depois façam-nos estudar com pessoas que fazem bem aquilo que eles virão a fazer. Só assim se pode aprender a fazer bem as coisas e essa seria a universidade como deve ser”.
Estudantes querem mais opções
Nuno de Barros Ferreira, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), concorda que os estudantes de Medicina devem ser o mais completos possível no que toca ao domínio intelectual.“Ser FMUP é ter como lema: o médico que de apenas medicina sabe nem de medicina sabe”, sustenta o aluno da Faculdade de Medicina.
Por isso mesmo dirigiu-se ao reitor da Universidade do Porto e apelou a que este alargue as unidades curriculares que um estudante da FMUP pode realizar fora da instituição. Nuno Ferreira afirmou que os estudantes que representa querem “se diferenciar, poder ir à Faculdade de Letras, à Faculdade de Ciências, de Engenharia, de Belas Artes ou a qualquer outra complementar o seu percurso”.
António da Sousa Pereira, reitor da Universidade do Porto, que também discursou na cerimónia, garantiu que vai “aplicar o maior esforço para considerar o pedido” do aluno.
O presidente da Associação de Estudantes da FMUP lançou, ainda, o desafio de comparecer a uma reunião do Conselho Executivo, e deixou a sugestão de um estudante passar a ter um lugar por inerência neste órgão, tal como acontece no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
Altamiro da Costa Pereira, diretor da FMUP, lamentou por sua vez que o financiamento do Estado para a instituição tenha baixado “em quase 2 milhões de euros” na última década e explicou que a faculdade subsiste, porque as receitas de propinas aumentaram “cerca de 70 vezes” nos últimos 20 anos.
O novo diretor da FMUP, que tomou posse em novembro, adiantou ter a intenção de recorrer à angariação de fundos para algumas obras – o responsável deu como exemplo a Aula Magna onde decorreu a cerimónia, recuperada com o apoio de uma verba deixada em herança à FMUP por uma antiga professora – assegurou que “as próximas obras serão certamente dedicadas aos estudantes, nomeadamente no salão de alunos e anfiteatros”,
O médico pediatra anunciou a ambição de “reorganizar” a articulação da faculdade com o Hospital de São João, “criando um eventual Centro Académico Clínico, talvez do Norte de Portugal”.
Outro dos objetivos é “melhorar a articulação” com instituições, como os centros de saúde, indústria, grupos privados, outras escolas da Universidade do Porto ou escolas médicas do país.
Altamiro da Costa Pereira concluiu que, “apesar da faculdade não estar a ser bem tratada pelo Estado, continua pujante”.
Na sessão solene, além do reitor António Sousa Pereira, intervieram ainda António Oliveira e Silva (presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de São João) e Sónia Magalhães (representante do pessoal técnico da FMUP).
Artigo editado pro Filipa Silva