No estudo “Padrões do sono e atividade autonómica cardíaca noturna após treinos e jogos realizados a diferentes horas do dia em futebolistas femininas”, Júlio Alejandro Costa analisou de que forma os horários de treino e a carga de jogo alteram os ciclos de sono e a frequência cardíaca numa equipa do Campeonato Nacional de Futebol Feminino.

O trabalho do estudante do programa doutoral em Ciências do Desporto na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) foi premiado pelo Comité Olímpico de Portugal, na categoria de Fisiologia e Biomecânica do Desporto. A FADEUP, o Centro de Investigação, Inovação, Formação e Intervenção em Desporto (CIFI2D) e a Federação Portuguesa de Futebol apoiaram a investigação.

Estudante de desporto que vence bolsa da FIFA para o desenvolvimento da performance física

Júlio Costa explicou ao JPN que decidiu estudar a relação entre as cargas de treino e de jogo e o descanso por acreditar que os treinos “não são nos melhores horários”. A falta de recursos humanos e materiais leva as equipas a treinar muito tarde, afetando as horas de sono. Além disso, a maioria dos estudos “não recorre à população feminina”.

O trabalho também observou equipas do segundo escalão e monitorizou o sono e a variação da frequência cardíaca na Seleção Nacional feminina durante a Algarve Cup 2018, que Júlio Costa nomeou de amostra “Elite”.

A recolha de dados foi feita através de métodos “não invasivos”: acelerómetros para o estudo do sono e a tecnologia BodyGuardian  para acompanhar a frequência cardíaca. Neste campo, o doutorando revelou que os equipamentos foram adquiridos com a ajuda de verbas recebidas através da bolsa FIFA Research Scholarship, no valor de 23 mil dólares, pela primeira vez atribuída a um português a estudar no país.

Os jogos fora também exigem mudanças na rotina. As atletas acordam mais cedo e deitam-se mais tarde por causa das deslocações. “Há alterações dos padrões de sono. Têm tendência a dormir menos, o que não significa dormir mal”, esclareceu Júlio Costa.

Menos sono, mais batimentos

A relação do sono com o ritmo cardíaco é simples: “Durante o período noturno, especialmente durante o sono profundo, os batimentos têm tendência a atingir uma frequência mais baixa”, explicou o responsável pelo estudo. Menos horas de sono fazem com que os batimentos por minuto não baixem tanto quanto seria possível.

Contudo, não foram identificados efeitos nocivos. Apesar de dormirem menos, as atletas continuaram a dormir “entre as sete e as nove horas de sono”, e as alterações consequentes da frequência cardíaca “não foram significativas ao ponto de chegarem ao treino seguinte cansadas”.

Júlio Costa referiu o “contexto amador” como um fator para as conclusões do estudo: com apenas três treinos semanais, “as atletas tinham sempre um dia de recuperação entre os treinos”. Os dias de repouso foram considerados o “momento de controlo” do estudo, nos quais foi verificado que as jogadoras se “deitam mais cedo e levam uma rotina mais controlada”.

O estudante da FADEUP alertou para a amostra reduzida do estudo. Júlio Costa realçou que “não se pode generalizar”, até porque cada atleta tem ritmos diferentes. Para dados mais concretos, a observação precisa de ser feita a uma escala maior e com um olhar individual para cada caso, ao contrário da “representação coletiva” assumida no estudo.

Artigo editado por Filipa Silva