Com as eleições para o Parlamento Europeu à vista – estão marcadas para 26 de maio – a abstenção é uma das grandes preocupações dos responsáveis políticos europeus. Sobretudo entre os mais jovens. Edgar Barbosa, de 25 anos, e dá voz ao que muitos jovens pensam ao aproximarem-se das urnas. “Antes, eu não votava, porque sentia que não tinha efeito votar” confessa. Na sua visão, “as gerações mais novas não sentem uma força no seu voto. O que mais se ouve é ‘votar para quê? São sempre os mesmos.'”

É para estimular jovens como aqueles que o estudante de Ciências da Comunicação refere, que o Sindicato dos Jornalistas (SJ) e o Parlamento Europeu se juntaram na iniciativa “desta vez eu voto” no âmbito da qual se organizou a masterclass “A Europa pelos europeus” que decorreu esta segunda-feira no edifício Parcauto da Universidade do Porto.

“Porque é que votam?” perguntou Pedro Mesquita da plateia aos presentes, na maioria estudantes. O jornalista da Rádio Renascença aponta para a fraca educação sobre o voto. “É importante votar, certamente, mas é preciso explicar porquê”, reiterou.

Manuel Loff, professor da Universidade do Porto, orador principal da sessão, diz que os portugueses são mais politicamente ativos quando sentem que as eleições trazem mais consequências. “Os portugueses votam mais para a Assembleia da República, a seguir para as assembleias locais, a seguir para as eleições da presidência da República – reconheçamos que os presidentes mandam muito pouco –  e, em último lugar, para o Parlamento Europeu”, afirmou. O Parlamento Europeu “é o que menos poder tem no conjunto da União Europeia“, rematou.

Ao  ver debates dos candidatos portugueses às europeias, Fátima Marques Faria, jornalista da RTP que integrou o painel da sessão, reconhece “muito pouco de europeu no discurso deles”. “Há muito mais trica política interna e recados internos e preparação para as legislativas do que preocupação com as questões europeias“, referiu a jornalista.

Então, “porque é que votam?” repetiu Pedro Mesquita.

Houve uma concordância entre os intervenientes: as gerações veem o direito ao voto de formas díspares.  A sala dividiu-se entre os que cresceram num Portugal pré-União Europeia e os que já nasceram em berço comunitário. Manuel Loff considerou que os cidadão europeus, individualmente, se identificam mais com a soberania nacional, daí “termos uma das abstenções mais elevadas à escala europeia.”

A masterclass veio promover a importância do voto em

Ao abordar o conceito de Europa, Loff deu o mote: “A Europa é um debate político“. Uma das maiores preocupações do professor é a força que os partidos de extrema direita têm vindo a ganhar. O surgimento de políticas baseadas no medo do desconhecido e a contaminação do debate público, é um dos problemas centrais do mundo contemporâneo, segundo o docente.

“Temos sido arrastados para um debate sórdido, como se o mundo de novo voltasse a estar dividido entre o nós e o outro. Não podemos recuperar uma velha visão colonial do mundo que imagina a Europa como um óasis de riqueza” alerta o orador.

“Populismo” é um termo que tenta não usar no seu discurso, apesar de atacar o Partido Popular Europeu com esse que diz ser um “substantivo confrontacional.”

Foi contra o racismo e o preconceito que se estendeu a maior parte da masterclass. Os discursos caíram em temas do foro mediático. Os oradores viajaram desde a crise migratória ao Bairro da Jamaica, passando ainda por debater o Artigo 13 da diretiva dos direitos de autor, a evolução do jornalismo online e as suas implicações quando chega à hora do voto.

A próxima conferência do ciclo organizado pelo Sindicato dos Jornalistas com o apoio do Parlamento Europeu está agendada para 4 de abril, em Lisboa.

Artigo editado por Filipa Silva