A Federação Académica do Porto e a Santa Casa da Misericórdia são parceiros naquela que será a primeira cooperativa de habitação universitária do país, para já batizada de Bairro Académico. O protocolo é assinado a 28 de março.

Não há ainda datas para o arranque da obra, nem ainda está escolhida a localização. João Pedro Videira, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), afirma que a “ideia e vontade é que haja um bom caminho trilhado até ao final deste ano“, mas ainda é preciso identificar o terreno.

A zona da Asprela, onde está localizado o maior polo da Universidade do Porto, é uma forte probabilidade. A “Santa Casa da Misericórdia [que cederá o terreno] é o maior proprietário da cidade e tem muitos terrenos junto ao Polo da Asprela“, sendo “provável” para João Pedro Videira que o projeto se desenvolva na zona.

Ao JPN, o responsável explica ainda que o bairro será “uma experiência de inovação social”, um espaço que será “mais do que uma típica residência de estudantes“. A par de habitação para estudantes, deverá integrar ainda “um conjunto de bens e serviços que permitam aos estudantes satisfazer as suas necessidades primárias na infraestrutura”, como restaurante, lavandaria ou até farmácia.

Segundo João Pedro Videira, ainda não está definido o número de camas a disponibilizar no bairro nem quanto terá de pagar um estudante pelo aluguer de habitação, mas “naturalmente que os estudantes bolseiros vão ter prioridade”, refere.

De acordo com o presidente da FAP, o Bairro Académico “não vai resolver a 100% o problema” do alojamento estudantil, mas “neste momento qualquer ajuda é bem-vinda“.

“O plano do Governo é uma farsa”

A 26 de fevereiro, o Governo publicou em “Diário da República” o Plano Nacional de Alojamento Estudantil que prevê a criação, até 2023, de mais de 11.500 camas para estudantes, 613 das quais na cidade do Porto, assim como reabilitar residências já existentes.

Para João Pedro Videira, este plano “não dá nada a ninguém” e adota uma metodologia de financiamento – um fundo que usa capitais da Segurança Social – que pode resultar em despesa para as Instituições de Ensino Superior que, por sua vez, vão ceder, sem custos, os edifícios para reabilitação.

Para o presidente da FAP, “o Governo está a tentar fazer número em época de campanha com o dinheiro dos outros” e dá o exemplo de um dos imóveis que fazem parte do projeto do Governo, situado na Travessa da Boa Viagem, que descreve como “um casebre com dimensões diminutas”. João Pedro Videira ironiza a situação, afirmando que é preciso “uma construção milagrosa que consiga fazer um prédio de 400 andares” para alcançar as expectativas governamentais para o prédio.

Privados investem em residências universitárias

Nos últimos tempos, o problema do alojamento estudantil tem chamado a atenção de diversas entidades, tanto dentro como fora do país. No mesmo dia em que recebeu a chave do Quartel do Monte Pedral das mãos do primeiro-ministro, Rui Moreira não assegurou que uma residência para estudantes fosse criada no local. 

João Pedro Videira espera que o presidente da Câmara “não volte atrás naquilo que foram as suas primeiras declarações” e confessa que, caso os planos para a residência sejam abandonados, é preciso ponderar “as consequências dessa mesma alteração de planos”.

Entretanto, várias empresas estrangeiras viraram os seus holofotes para a habitação estudantil no Porto. Um projeto resultante de esforços conjuntos da companhia árabe MEFIC e da Round Hill, sedida no Reino Unido, pretende investir mais de 100 milhões de euros na zona do Amial (freguesia de Paranhos). O resultado vão ser mais de mil camas para estudantes, 200 apartamentos, assim como zonas comerciais, construídas numa área correspondente a oito campos de futebol.

A Temprano Capital Partners também já anunciou a aquisição de duas propriedades no Porto, com o intuito de criar residências para mais de 900 estudantes, enquanto que o grupo francês Odalys planeia criar 211 alojamentos até 2022.

Artigo editado por Filipa Silva