O setor dos transportes é o “mais problemático em incorporar energias renováveis”. A afirmação é de Isabel Soares, presidente da Associação Portuguesa de Economia da Energia (APEEN), à margem do seminário “O mix energético – entre a estratégia desejável e a estratégia possível”, que reuniu especialistas da área energética e económica, na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).
Um breve diagnóstico setorial na vertente das energias, enquadrado no Programa Nacional de Investimentos 2030 (PNI 2030), constata que os produtos petrolíferos representam cerca de 79% do total das importações de produtos energéticos e que o setor dos transportes é um dos seus principais consumidores. “A sua evolução dependerá da política dos transportes e da capacidade de manobra do Ministério das Finanças”, começa por dizer a também professora na FEP.
Todavia, o aumento da incorporação de biocombustíveis, de veículos elétricos ou de veículos abastecidos a outros combustíveis (gás natural veicular ou hidrogénio) têm permitido um crescimento da incorporação de energias renováveis no setor. Desde 2011, os transportes sofreram um crescimento exponencial na incorporação deste tipo de energias de 1% em 2011 para 8% em 2016.
Mudar para uma economia que pretenda reduzir os impactos sobre o meio ambiente coloca em discussão a adoção de um mix energético equilibrado. O objetivo é “a transição energética para uma economia descarbonizada”. O mix-energético deve, assim, ter em conta “as necessidades específicas de cada país, as vantagens comparativas desse país e os seus recursos naturais”, afirma.
Ainda na dimensão das energias renováveis
A energia hídrica é a mais relevante em Portugal, uma vez que contribui para a redução da dependência energética “que se situa aproximadamente em 75%”. A política energética foca-se agora na energia solar fotovoltaica, nomeadamente na promoção e desenvolvimento de novos investimentos, sem custos para os consumidores. “33 novas centrais solares fotovoltaicas já foram autorizadas, ou seja, 1 013 megawatts”, o que se traduz um investimento “superior a 870 milhões de euros.” Até 2020, a previsão é de triplicar a capacidade instalada solar fotovoltaica.
Em relação a armazenamento, distribuição e transporte, a rede elétrica vai ser reforçada como previsto no Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede de Transporte de Eletricidade (PDIRT 2018-2027) com o fim de “aumentar a segurança de abastecimento de eletricidade”.
Já no que toca à eficiência energética, Isabel Soares observa que os níveis de poupança energética têm decrescido “num ritmo de queda mais acentuado que na União Europeia”.
“O aumento da componente renovável e mesmo a regulação tarifária serão fulcrais para a mitigação dos efeitos de gases de estufa”, esclarece a professora. No entanto, ainda que gere abundante discussão ao nível global, Isabel alerta que “ainda não se avaliou bem em que medida um desenho de mercado de energia marginalista vai conseguir remunerar os novos investimentos”.
Artigo editado por César Castro