Quatro partidos políticos – BE, PCP, PEV e PS – querem que o Governo regulamente as profissões relacionadas com os contact centers e que investigue as condições de higiene, saúde e segurança no setor. As propostas legislativas vão ser debatidas e votadas esta sexta-feira no Parlamento.
Em entrevista ao JPN, Jorge Pires, diretor da Associação Portuguesa de Contact Centers (APCC), refere que as propostas que mais se destacam para a APCC são as que estão relacionadas com a regulamentação e fiscalização da atividade, já que há “mais de 100 mil” colaboradores e “estas profissões, em termos de reconhecimento nacional, continuam a ser ilustres desconhecidas”, afirma.
“Mas não é só a profissão de operador que está em causa. É a profissão do operador, do supervisor, do coordenador, do formador, do controlo de qualidade, do gestor de operações. Há todo um conjunto de funções que fazem parte da carreira profissional e que tem de ser regulamentada“, explica.
O diretor da APCC aponta que uma fiscalização a nível nacional da Autoridade das Condições de Trabalho (ACT) seria “a melhor coisa que se pode fazer a esta altura, até para reestabelecer a imagem dos contact centers, porque as coisas não são como se diz. Não há nada como uma fiscalização da ACT para termos certeza de que temos razão”, garante.
Há três anos, o Sindicato de Trabalhadores de Contact Centers (STCC) submeteu uma petição com mais de seis mil assinaturas ao Parlamento, reivindicando a distinção de profissão de desgaste rápido. Em janeiro de 2019, o assunto foi debatido no Parlamento, mas não foi submetido a votos, já que nenhum partido apresentou propostas legislativas.
Jorge Pires, da APCC, não concorda com a petição elaborada pelo sindicato, uma vez que, “tendo em conta a lista de profissões de desgaste rápido, é quase uma provocação equiparar o trabalho no contact center ao trabalho de um mineiro ou de uma bordadeira da Madeira“, argumenta.
O diretor afirma ainda que há “uma quantidade sucessiva de afirmações de caráter negativo sobre as condições de trabalho nos contact centers, que traçam um cenário de desastre, de sítios sem condições, onde as pessoas trabalham sem higiene, sem luz, com insuficiência de ar [ou de] espaço. Nada disso corresponde as condições de trabalho na esmagadora maior parte dos contact centers em Portugal“, adianta.
“Eu não estou a dizer que não existam neste país contact centers que tenham este tipo de condições, mas é preciso reconhecer que são uma minoria e não podem de forma nenhuma ser identificados como a maior parte das operações”, completa Jorge Pires.
Segundo um estudo da APCC, realizado em 2018, o volume de negócios de setor de contact centers é equivalente a mais de mil milhões de euros. Entre as principais conclusões do relatório, está o aumento de 4.761 postos de trabalho na área entre 2016 e 2017. Em sentido contrário, mesmo com mais postos de trabalho, “o valor médio do ordenado dos operadores desceu ligeiramente (cerca de 3%) face a 2016, de 792 euros para 769 euros”.
O diretor da APCC salienta que o trabalho em contact center goza de uma má reputação e que, por isso mesmo, há de se ter cuidado com as generalizações. “Há imensos contact centers onde estão a recrutar para trabalhar em sítios esplêndidos com estupendas condições de trabalho, com remunerações muito próximas dos 1000 euros. Alguns sítios podem ser maus, mas são, claramente, exceções”, conclui.
O JPN tentou contactar o Sindicato de Trabalhadores de Contact Centers, mas, até ao momento, sem sucesso.
Artigo editado por César Castro