Com o título “Help Us Cover The News” – em português, “ajude-nos a cobrir as notícias” –, o “New York Times” criou um questionário para saber quem são os seus leitores, o que fazem e do que gostam. O conjunto de perguntas foi publicado e partilhado nas redes sociais no início do mês e o jornal garante que a informação partilhada não terá fins publicitários.
Até o estado civil, a posicionamento política ou a religião professada fazem parte do questionário e o “New York Times” refere, nos termos de submissão, que vai utilizar os contactos fornecidos pelos leitores para verificar a veracidade das respostas. Também é possível que a redação do jornal norte-americano contacte os leitores para obter informação jornalística, dependendo das suas respostas.
No início do questionário são dados exemplos de situações em que o jornal utilizou a ajuda dos leitores para “contar grandes histórias”. Um desses casos foi quando mais de 4200 professores americanos partilharam detalhes sobre as condições nas suas salas de aula durante a greve dos docentes de escolas públicas, em abril do ano passado, nos Estados Unidos.
De acordo com um porta-voz do “New York Times”, em conversa com o Nieman Jornalism Lab, o formulário foi feito por jornalistas, com a ajuda da equipa de notícias interativas e o Centro do Leitor. O representante argumentou que a organização está “sempre a experimentar novas formas de como interagir com os leitores”.
Segundo Jorge Marinho, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), “é habitual que isto ocorra”, porque as empresas jornalísticas “não podem apenas estar centradas no produto, devem estar centradas também nos diversos públicos, neste caso leitores”.
Um exemplo de interações semelhantes com os consumidores é da Krautreporter, uma revista digital alemã, que também pediu aos seus leitores para criarem um perfil com informação sua, de maneira a facilitar aos seus jornalistas encontrar peritos dentro da sua própria audiência.
Para o professor responsável pela cadeira de Públicos e Audiências do curso de Ciências da Comunicação da FLUP, esta medida “traz vantagens para a própria organização”, como conquistar a “fidelização dos clientes”, que se sentem envolvidos na atividade do jornal com este tipo de questionários.
Mas Jorge Marinho afirma que “mais do que a sensação, o “New York Times” dá a possibilidade de participar na construção de notícias”, colocando o jornal um passo mais próximo do “jornalismo participativo“, em que o cidadão se envolve no processo jornalístico.
O professor universitário dá o exemplo do WikiTribune, um projeto criado pelo fundador da Wikipedia, Jimmy Wales, cujos leitores “podem ser também autores e co-autores de notícias”. Para Jorge Marinho, quanto maior o nível de participação oferecido, mais fiéis se tornam os consumidores.
Segundo o docente, o aumento da participação do leitor é “uma tendência atual no campo do jornalismo” e “começam a surgir vários projetos de jornalismo colaborativo”. Os meios de comunicação social que “se baseiam em trabalho de jornalistas profissionais não podem estar alheados daqueles que são os leitores a quem desejam prestar serviço”, remata.
Artigo editado por Filipa Silva