A inscrição de versos, quadras ou frases soltas nas paredes de casas de banho públicas remonta a tempos mais antigos, mas ainda hoje se verifica.
O que leva os jovens a escrever nas paredes das casas de banho, por exemplo, da faculdade? Pode a partilha ser considerada íntima? É uma forma de expressão literária ou sociológica? O JPN foi procurar responder a questões que a escrita de casa de banho pode levantar.
Jaime Costa, licenciado em Filologia Inglesa, com especialidade em Literatura, afirma que este não é o seu “conceito de poesia”. O professor na Universidade do Minho diz não perceber bem que exercício é este, mas considera que há, por parte dos alunos, uma “tentativa de chamar a atenção sobre algumas coisas”. “Tenho a impressão que tem a ver com a questão da intimidade, de estarem ali sozinhos e, portanto, [têm a necessidade] de escrever coisas que chamem a atenção”, afirma.
Paula Guerra, doutorada em Sociologia, refere que a tendência não é mais do que a expressão de sentimentos e emoções dos alunos. “As marcas que as pessoas vão deixando, quer seja a nível de tags, de escrita ou de desenhos, são sintomáticas de uma necessidade intrínseca de expressividade humana”, explica a professora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
A poesia de casa de banho é, na opinião de Paula Guerra, “uma questão típica e histórica”. Também Jaime Costa diz ser uma forma de expressão “bastante antiga”. “Os quartos de banho públicos romanos também já tinham inscrições”, acrescenta o professor.
Paula Guerra considera que, por ter “havido uma certa quebra de barreiras”, as pessoas começaram a entender as casas de banho públicas como “espaços de expressividade”. Para a socióloga, este como outros espaços podem revelar-se importantes “para a expressividade artística”.
Para Jaime Costa, o fenómeno é puramente sociológico e “nada literário”. “Francamente, aquilo não é poesia, não é expressão literária de nenhum tipo. É um insulto à poesia”, salienta.
Já para Paula Guerra, é simultaneamente literário e sociológico. “Do ponto de vista sociológico, é algo relevante, porque nós analisamos a forma como as pessoas se expressam e como transmitem a sua expressão. Do ponto de vista literário, há todo um conjunto de literaturas e expressividades marginais que também têm tido uma grande importância ao longo da história”, conclui a socióloga.
Nas casas de banho da Faculdade de Letras da Universidade do Porto há vários testemunhos de quem quis deixar uma marca, ora poética ora prosaica, do que lhe ia no pensamento.
Artigo editado por Filipa Silva