“Nos últimos anos, assistiu-se a uma redução do número de dadores e dádivas“, começa por explicar Jorge Condeço, diretor do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST), ao JPN, à margem do Dia Nacional do Dador de Sangue que se celebra esta quarta-feira, dia 27 de março.
Os números referentes a dadores e doações de 2018 ainda não são conhecidos, uma vez que só serão divulgados em julho, mas deverão ser “um pouco menos, mas não tanto” que nos anos anteriores. Em 2016, existiam cerca de 254 mil dadores e, em 2017, este número tinha descido para cerca de 245 mil.
O diretor do IPST acredita que a diminuição se deve ao “envelhecimento da população” e a questões “relacionadas com a emigração”. As pessoas que abandonaram o país “não foram os velhos nem os muito novos. Foram exatamente as pessoas em idade de dar sangue”, adianta.
Embora o número de dadores seja cada vez menor, importa realçar que estes “dão mais vezes”, ou seja, há um aumento do número médio de dádivas que, por sua vez, “compensa” a redução de dadores. Assim, este crescimento faz com que “[os números] de sangue colhido não sejam tão diferentes daquilo que eram” há dois ou três anos.
Jorge Condeço afirma ainda que “tem havido uma diminuição do consumo de sangue”, devido “à alteração da prática clínica”. Ora, isto “indica que, provavelmente, se está a fazer uma melhor utilização do que [já] existe” e, por isso, é conseguido um “equilíbrio entre a colheita e o consumo”.
Um dos objetivos do IPST passa por “tentar manter as colheitas” e “diminuir a sazonalidade”, de modo a que as pessoas façam doação em diferentes períodos no ano. As mulheres podem doar três vezes por ano (de 4 em 4 meses) e os homens quatro vezes por ano (de 3 em 3 meses).
Outro dos objetivos do Instituto Português do Sangue e Transplantação é “reduzir o consumo” de sangue através das “práticas de poupança de sangue”, revela. “O objetivo será manter e não aumentar” as colheitas e “rentabilizar” porque o que é importante é que “cada um tenha o sangue que necessita e não mais do que aquele que necessita”, observa o diretor do IPST.
Reconhecimento social do ato de doar
Para Jorge Condeço, o “melhor argumento” para convencer alguém a doar sangue é dizer que “todos somos potenciais recetores”. O diretor do IPST acrescenta que a responsabilidade social “passa por atos de cidadania” entre os quais está “a dádiva de sangue”.
Para além do reconhecimento público, os dadores de sangue têm alguns direitos como a isenção das taxas moderadoras no acesso à prestação de cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS), entre outros.
Jorge realça, no entanto, a importância de colocar os benefícios do dador em segundo plano. Se as pessoas apenas doarem sangue com o objetivo de ter benefícios, a ação deixa de ser “beneficiente” e passa a “ser uma ação interesseira”. “A dádiva de sangue como pagamento não deve existir, e por isso, o reconhecimento social da dádiva é fundamental”, remata.
É, aliás, esse o principal objetivo da cerimónia comemorativa do altruísmo da dádiva de sangue, organizada pela Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue (FEPODABES) juntamente com o IPST, que terá lugar esta quarta-feira, pelas 14h30, no Infarmed, em Lisboa.
“Há muitas desculpas para muitas coisas”
Jorge Condeço acredita que os mitos relacionados com a doação de sangue não são entrave para o ato de doar. Se “telefonarem ou forem à página do IPST ou se recorrerem a alguma sessão de colheita” são “esclarecidos de que, de facto, podem dar sangue sempre”, explica o diretor do IPST.
No entanto, existem pessoas que não conseguem dar sangue por “questões de saúde, porque estão a tomar medicamentos, porque fizeram intervenções cirúrgicas ou porque têm doenças crónicas”, esclarece Jorge Condeço. No entanto, “grande parte da população jovem, dos 18 aos 45, não tem problemas de saúde crónica que possa explicar uma não dádiva”, diz.
Quanto à mais recente polémica quanto à recusa da dádiva de sangue por homossexuais, o diretor do IPST informa que um homem que tenha uma relação com outro homem não pode “ter relações sexuais durante um ano para poder dar sangue”. A razão prende-se com a probabilidade de existir “uma maior taxa de incidência de casos de infeção sexualmente transmissíveis em Men who have sex with men (MSM) [Homens que têm sexo com homens, traduzido] do que na população em geral”. É uma “questão de segurança”, garante.
Artigo editado por César Castro