No último concurso lançado pelo Ministério da Saúde para colocar especialistas nos hospitais públicos do país, apenas 165 das 300 vagas oferecidas foram preenchidas. Para Vasco Mendes, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), sendo “normal que a taxa de preenchimento não atinja os 100%”, a notícia não deixa de ser negativa para quem se prepara para entrar no mercado. São indicadores que não contribuem “para a esperança que os estudantes têm de prestar serviços no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, declarou ao JPN.
Vasco Mendes afirma que “os estudantes gostariam de praticar uma medicina para todos, ou seja, um SNS naqueles lugares onde as pessoas mais precisam”, mas “tudo isto causa uma situação de alarme”.
Ainda a propósito do resultado do concurso, o presidente da ANEM destaca a diferença de procura entre as regiões do país e aponta o dedo ao Ministério da Saúde devido a uma “absoluta descoordenação naquilo que são medidas atrativas para os médicos nas regiões mais necessitadas”.
De acordo com informações adiantadas pelo “Jornal de Notícias”, na edição impressa desta quinta-feira, as taxas de colocação de especialistas no Alentejo e Algarve são, respetivamente, 22% e 31%. Em contraste, o Norte e a zona de Lisboa/Vale do Tejo têm 70% e 60% das vagas preenchidas.
Na quarta-feira, a Ministra da Saúde, Marta Temido, observou que existem médicos que preferem trabalhar com contratos de prestação de serviços, mas para o presidente da ANEM, os médicos tarefeiros trabalham “até à exaustão”, com horários de 12 a 24 horas e “preenchem um espaço vazio que existe nos serviços hospitalares”. Vasco Mendes sublinha que “a segurança no trabalho é reduzida e as condições também são precárias”.
“Menos médicos a formar, menos médicos formados”
Segundo o estudante de Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), a emigração de médicos que procuram melhores remunerações no estrangeiro não justifica o número reduzido de vagas ocupadas, “porque também se paga mais no interior e os médicos não vão tanto para o interior”.
Ainda assim, a saída de médicos especialistas do Serviço Nacional de Saúde causa “um défice não só na própria prestação de serviços como na formação de médicos internos, que depois servem de tutoria e de orientação” para os alunos vão fazer a especialidade. “Menos médicos a formar, menos médicos formados”, conclui Vasco Mendes para quem a situação “causa uma preocupação muito grande” aos estudantes.
Para o presidente da ANEM, “têm de ser encontradas soluções mais integradas, desde o ponto de vista do trabalho em equipa e das condições para realizar investigação, que é uma das componentes essenciais para a formação”. O planeamento daquilo que devem ser as capacidades de resposta do SNS à população e “as capacidades de formar médicos nos locais carenciados ou para esses locais mais carenciados” também são importantes.
A ANEM tem chamado a atenção para a falta de planeamento dos recursos humanos no setor da saúde há já algum tempo. Em 2017, entregou uma petição que foi discutida na Assembleia da República este ano, mas Vasco Mendes considera que “os partidos políticos desperdiçaram a oportunidade”.
Ainda assim, a associação não baixou os braços e marcou um encontro com o Presidente da República, em data não divulgada, para se fazer ouvir e “de forma coordenada conseguir ver alguma resposta”.