A Europa dos 28 caminha para se tornar na Europa dos 27 e o princípio das fronteiras abertas que tanto definiu o projeto é hoje questionado face a uma crise migratória.

As eleições para o Parlamento Europeu estão marcadas para maio e milhões de jovens deverão comparecer perante as urnas. À margem do programa de formação “Staring at Goats: Propaganda, Scapegoating and the Other”, que decorreu na Alemanha, o JPN falou com sete jovens de vários países da União Europeia para perceber onde caem as preocupações e prioridades da próxima geração europeia.

Euroceticismo: o início do fim da UE?

Com o Brexit veio o ceticismo e a distância face ao projeto europeu: cada vez mais países se questionam se vale a pena continuar na UE, e porquê. Ao longo dos mais de 60 anos de existência da União, a população europeia tem vindo a distanciar-se.

Vladislav Velizanin tem 21 anos e estuda Relações Públicas na Universidade de Tallinn. O jovem estónio acredita na União Europeia, porque não quer imaginar um futuro sem ela, mas crê que o projeto se tornou ambíguo quanto às suas posições.

Qual o resultado? Movimentos anti-europa a ganharem força em vários dos países membros. “Há um partido na Estónia que defende a saída da UE, e provavelmente vai ganhar as eleições. Dizem que o projeto é muito mau para nós”, afirma.

Vladislav Velizanin, Estónia

A presença dos “eurocéticos” no seio da UE constitui outra grande preocupação. Na opinião de Vladislav, o facto de haver dentro dos órgãos europeus representantes que não acreditam no projeto é uma tentativa de os “destruir a partir de dentro“.

A crescente desconfiança em relação ao projeto, e consequente crescimento dos movimentos populistas e ultranacionalistas tem bases na educação e formação dos jovens para a UE, acredita Jasmin Jäger.

Jasmin Jäger, Alemanha

Natural da Alemanha, a jovem defende a necessidade de uma educação nas escolas e universidades mais estruturada e política no que ao projeto europeu diz respeito. A distância que as pessoas sentem da Europa assusta-a: “Acho que isto é um problema, que as pessoas não se sintam ligadas à UE e especialmente que muita gente não aprenda sobre o projeto”.

É nesse sentido que a posição de Inês Costa se estabelece. Aos 21 anos, a jovem portuguesa olha para a relação entre a população e a UE com apreensão e reconhece um certo “obscurantismo” no que à informação diz respeito: “Não há um fácil acesso às decisões que estão a ser tomadas diariamente no Parlamento Europeu e faltam canais que liguem estes órgãos às pessoas. Quem tem menos consciência política fica completamente desligado dessa realidade e não sabe o que acontece”, diz ao JPN.

Inês Costa, Portugal

Migração: até onde vão as fronteiras da Europa?

A atual situação migratória na UE preocupa a maioria dos jovens. A crise de refugiados, que atingiu o pico em 2015, chegou a muitos dos estados-membros e trouxe consigo um reforço de ideologias nacionalistas e de direita radical.

Ikaros Apostolakis tem 23 anos e é natural da Grécia. Não acredita nem defende uma Europa que fecha as fronteiras, e acha “imoral” e “mal aconselhada” a forma como se tem vindo a lidar com o problema. O estudante de História aponta a questão migratória como uma das causas da radicalização ideológica na Europa.

Louise Abildgaard aponta a questão migratória como a principal questão a ser endereçada no plano europeu e entende que a UE tem de “assumir a responsabilidade”. A jovem dinamarquesa de 22 anos defende que é urgente tratar os migrantes de “maneira humana” e combater o ódio e o estigma que se tem vindo a intensificar contra estes grupos. “Se as tendências atuais de rotular determinados grupos como inimigos continuarem, fico genuinamente assustada com as consequências que podem surgir daí”, acrescenta.

Mais de um milhão de migrantes entrou na Europa desde 2014, oriundos essencialmente do Médio Oriente e de África. Ainda que os números tenham diminuído desde 2018, milhares de pessoas continuam a chegar às fronteiras da Europa.

Lucija Ilijić, natural da Croácia, defende a cooperação dos países europeus para uma integração destas pessoas nas comunidades. “É preciso arranjar trabalho e garantir segurança social e de saúde, também para que a próxima geração que vai nascer nestes países consiga ter uma vida decente”, conclui.

Lucija Ilijić, Croácia

A jovem croata reconhece também o problema do estigma e preconceito para com estas pessoas, mas acredita que isso pode mudar: “Os imigrantes são vistos como uma ameaça indesejada na Europa, mas acho que se todos trabalharmos em conjunto é possível mudar essa mentalidade”. Para Lucija, a cooperação europeia poderá estar na base da solução para a questão migratória.

Ainda que se reconheça esta questão como uma das mais urgentes, as posições variam. Vladislav Velizanin acredita que a questão se cruza com a segurança dentro da UE. “Temos pessoas a entrar em território europeu com documentos falsos e a mentir sobre a sua identidade, e isso é uma questão tanto de segurança como de cooperação na UE”, afirma.

Ambiente: poluição e sustentabilidade

Com a crescente discussão acerca das questões ambientais, motivada por estudos e investigações acerca do impacto das ações humanas no planeta a longo prazo, a preocupação individual com esta situação tem também vindo a crescer. Os jovens reconhecem-na e querem ser representados por um grupo que trabalhe para a solucionar.

Para Inês Costa, a questão ambiental é a mais urgente e com maior necessidade de ser endereçada. Apesar das medidas ambientais já postas em prática pela UE, a jovem portuguesa alerta para os países menos conscientes e interventivos neste sentido: “Há países que ainda não fazem reciclagem, e isso é algo que aqui estamos habituados a fazer desde crianças. Acho que esta questão não está a ser levada suficientemente a sério”, conclui.

Lucija aponta a necessidade de menos carros nos centros da cidade e investimento nos transportes públicos. Vladislav, da Estónia, também acredita que deve haver mais alternativas sustentáveis, mas sem as impor aos países que não as puderem financiar: “As medidas não podem ser aplicadas de forma autoritária, para não revoltar e afastar os países que não as podem sustentar”.

Que outras preocupações e prioridades têm os jovens europeus?

Jan Chárvat, da República Checa, acredita no projeto europeu e na cooperação entre todos os estados-membros, mas a falta de cuidado com a privacidade e os dados incomoda-o. Para o jovem, a crescente robotização da força de trabalho, aliada à transição da realidade para a internet, é uma ameaça à “privacidade e humanidade” das pessoas. “A União Europeia devia prestar atenção a esta questão e de facto definir quando estas estruturas e corporações de dados ainda podem ter espaço na sociedade e quando é que têm de ser paradas”, acrescenta.

Jan Charvát, República Checa

A desigualdade de género e o crescimento de movimentos de direita radical ocupam também o topo das preocupações dos jovens, que os apontam também como importantes fatores de separação e conflito dentro da UE.

A faixa etária mais jovem é hoje aquela que mais acredita no projeto europeu e no seu crescimento, mas reconhece-lhe a necessidade de mudança e reorganização. Os jovens não querem o fim da UE, mas exigem que a UE acompanhe, se adapte e dê resposta às necessidades sociais e políticas atuais.

Infografia: Os jovens na Europa

Infografia: Os jovens na Europa. Carolina Alves

Artigo editado por Filipa Silva