Foi um jogo intenso, digno de reta final de campeonato, aquele que se viu no Estádio do Bessa, este domingo. À jornada 27 e depois de três derrotas seguidas, o Boavista garantiu três pontos frente ao Belenenses SAD, pontos que podem galvanizar a equipa para um final de campeonato um pouco mais tranquilo. O resultado final foi de 2-0, com golos de Yusupha e de Mateus.

O campeonato avança e a pantera, antes de receber o Belenenses SAD, sentia a corda a apertar a garganta: três derrotas nos últimos três jogos e um ponto a separar o Boavista dos lugares de descida. Sob o comando de Silas, o Belenenses SAD tem superado todas as expectativas. Os azuis sabiam que, em caso de vitória no Bessa, encurtavam a distância para o Vitória de Guimarães, adversário direto na luta pelo quinto lugar que dá acesso à Liga Europa.

Os dois treinadores fizeram algumas opções surpreendentes na hora de decidir os onzes. Do lado do Belenenses, a lesão da coqueluche Kikas foi resolvida com a inclusão nos titulares de Vélez, argentino que ainda não tinha jogado de início. Lito Vidigal surpreendeu com a decisão de deixar o espanhol Bueno no banco. Fábio Espinho avançou para o onze e assumiu a braçadeira de capitão. Yusupha, que esta época ainda só tinha jogado 34 minutos, foi o avançado eleito pelo técnico dos axadrezados.

Apesar de Rafael Costa ter feito o primeiro remate do jogo aos três minutos, percebia-se, ou parecia perceber-se, a diferença classificativa entre as duas equipas. Quando a bola rolava entre os jogadores do Belenenses SAD, o jogo fluía melhor. Aos quatro minutos, Licá testou a atenção de Bracali na sequência de uma jogada bem desenhada.

Apesar da maior posse dos azuis do Jamor e da aparente melhor relação com a bola, o primeiro momento de frisson a sério ocorreu na área de Muriel. Aos 8 minutos, Yusupha recuperou uma bola a meio campo, meteu o turbo e obrigou Muriel a uma saída arriscada (pediu-se penálti no Bessa). O lance de Yusupha galvanizou as bancadas e as bancadas galvanizaram os jogadores. O estilo de jogo desgarrado, mas pragmático e de uma velocidade estonteante dos axadrezados, começava, agora, a assustar o Belenenses SAD.

Coração contra a cabeça

Com o passar dos minutos, foi-se acentuando a tendência de um aparente “choque de ideias”, e com o Boavista por cima. Entendia-se a intenção do Belenenses SAD de jogar bonito, mas Yusupha, com 34 minutos jogados na Liga antes da titularidade deste domingo, assustava os três centrais azuis. O jogo do Boavista, mais caótico e vertiginoso estava a ser difícil de contrariar. Se os da casa tentavam dominar o jogo, os visitantes queriam controlá-lo primeiro.

Aos 32 minutos, finalmente uma oportunidade de golo. O esquerdino Sauer, partiu da direita e, depois de uma boa jogada individual, rematou à entrada da área com relativo perigo para a baliza de Muriel. O Boavista dava, assim, um aviso mais sério.

A pantera continuava a pôr as garras de fora. Aos 39 minutos,  na sequência de um livre muito traiçoeiro de Sauer, Muriel não consegue segurar a bola e, na recarga, à boca da baliza, Jubal rematou contra o guarda-redes adversário.

Depois disso, e já nos descontos da primeira parte, Sauer tira um grande cruzamento para finalização de Mateus e defesa milagrosa de Muriel. O intervalo chegou e a sensação que se tinha a ver o jogo era de que, apesar de bons pormenores, o Belenenses SAD estava longe de atingir o seu potencial.

Do lado axadrezado, a vontade de ganhar o jogo traduzida em cada disputa de bola ainda não tinha dado frutos. A continuar assim, o Boavista tinha todas as condições para acreditar na vitória, mas o empate ao intervalo jogava a favor do Beleneses SAD.

Quem tenta, arrisca-se a marcar

A segunda parte arrancou muito parecida com a primeira, mas com uma diferença substancial: o Boavista parecia um pouco menos intenso. “Parecer”, não signfica “ser”. Aos 54 minutos, na sequência de uma grande arrancada de Mateus sustentada no que fazia a diferença entre as duas equipas – a agressividade -, o angolado cruzou de trivela para o golo de Yusupha, ele que já tinha estado muito bem no primeiro tempo. A partir daqui, controlar o jogo não chegava para um Belenenses que, diga-se, parecia querer ganhar menos o jogo do que o seu adversário.

Obrigado a correr atrás do prejuízo, Silas não perdeu tempo: fez duas substituições em cinco minutos e mudou o sistema. Agora a jogar em 4-3-3, o Belenenses procurava aquilo que lhe faltara até ao momento: reais oportunidades de golo. Keita, ponta-de-lança que esteve quatro meses parado devido a suspensão, foi a jogo, assim como Ljujic. A partir desta altura, Licá e Vélez eram extremos declarados que tentavam municiar Keita.

A partir do momento em que se viu em vantagem, o Boavista cerrou fileiras e mudou o chip para um jogo de contra-ataque. A iniciativa de jogo estava do lado dos azuis do Jamor, mas eram os axadrezados a equipa mais perigosa, ainda assim. Aos 63 minutos, por exemplo, Mateus, com um remate espontâneo, ameaçou a baliza de Muriel. Esse momento espelhava o que se passava dentro do campo: mais bola do Belenenses SAD e mais objetividade do Boavista.

A tarefa adivinhava-se muito difícil para os comandados de Silas, dada a organização defensiva e motivação do adversário. Havia, contudo, um jogador que se destacava entre os axadrezados: Gustavo Sauer. O médio brasileiro, reforço de inverno do Boavista, estava intenso a defender e esclarecido a atacar. Aos 76 minutos, por exemplo, recuperou uma bola a Diogo Viana, saiu a jogar, desmarcou Fábio Espinho e o capitão falhou o passe que isolaria Yusupha. Se chegasse mais algum golo, sentia-se que chegaria para o Boavista.

Xeque-mate

Apesar de uma vantagem mínima ser muito traiçoeira e de o adversário ter sido inofensivo a atacar durante o jogo praticamente todo, o banco do Boavista e as bancadas do Bessa não estavam calmos. A tensão boavisteira materializou-se, por exemplo, aos 87 minutos, quando Lito Vidigal foi expulso. O tempo ia passando, as unhas iam-se roendo, mas o jogo parecia, por fim, controlado.

Toda a energia foi libertada pelo vulcão do Bessa, já no período de compensação. No desespero, o Belenenses ganhou um canto, mas quem aproveitou foi Perdigão, que começou por conduzir um contra-ataque finalizado com classe por Mateus. Estava feito o 2-0 e garantidos três pontos fundamentais para o Boavista.

Os axadrezados podiam, finalmente, respirar de alívio. Três jornadas depois, voltaram a sentir o sabor da vitória e já têm quatro pontos de vantagem sobre a linha de água. Quanto ao Belenenses, não conseguiu aproveitar a derrota do Vitória de Guimarães nos Açores e está, agora, mais longe da Liga Europa.

“Foi o melhor jogo desde que cheguei”

Na conferência de imprensa, Lito Vidigal considerou a vitória como fruto “do crer, da raça, mas também da inteligência e qualidade e da forma como” a equipa se adaptou a todos os momentos do jogo. “Estivemos completamente focados naquilo que eram as nossas tarefas. Este foi o melhor jogo que fizemos desde que comecei a trabalhar com esta equipa”, afirmou ainda o técnico do Boavista, que acabou por ser expulso do jogo. Sobre esse facto, garantiu aos jornalistas que “não ofendeu, nem foi desrespeitoso com ninguém”.

Pelo lado do Belenenses SAD, Jorge Silas admitiu “erros técnicos” dos seus jogadores. “Eu sabia que o jogo ia ser difícil, não jogámos contra uma equipa qualquer mas, na minha opinião, nós dificultámos mais. A nível técnico estivemos muito aquém do que podíamos estar e isso dificultou muito o nosso jogo”, analisou.

Contas feitas, Boavista e Belenenses SAD continuam a sua caminhada já na próxima semana. O Belenenses SAD vai jogar no Jamor frente ao Santa Clara e o Boavista defronta o FC Porto no Dragão.

Artigo editado por Filipa Silva