O Boavista Futebol Clube (BFC) venceu o Belenenses SAD, no passado domingo, num encontro disputado no Estádio do Bessa. A partida, realizada às 20h, contou com uma moldura humana de 10812 espetadores, segundo dados oficiais da Liga Portuguesa de Futebol. Esta foi a terceira maior assistência nos jogos disputados em casa pelos boavisteiros.
Com a luta pela permanência na Primeira Liga ao rubro, a direção do Boavista decidiu promover uma iniciativa que levasse mais adeptos ao estádio. Para este jogo os sócios dos panteras tinham entrada gratuita, podendo ainda cada associado levantar quatro bilhetes de acompanhante, também eles gratuitos. O restante público podia adquirir bilhete por apenas um euro. O clube ofereceu também cerca de oito mil bandeiras pelos adeptos presentes no Bessa.
Se compararmos os números registados no jogo de domingo com os outros jogos dos axadrezados disputados no Bessa verificamos uma grande discrepância. Atualmente, o BFC está em sexto lugar no ranking que compara as taxas de ocupação dos estádios portugueses pelas equipas que militam na Primeira Liga. A média de espetadores por jogo no Estádio do Bessa é de 6455 mil adeptos, segundo a Liga Portuguesa.
Esta época os jogos com maior assistência foram as receções ao SL Benfica e FC Porto com 15189 e 13556 espetadores, respetivamente. Retirando os jogos com os “grandes” da equação, o BFC tem uma média de quatro a cinco mil adeptos por jogo.
O esforço da mobilização
José Pedro Pais, sócio do BFC, acredita que a chave para o sucesso da campanha foi a mobilização. “Finalmente a direção tomou medidas para mobilizar os adeptos e a comunidade civil, através de convites a empresas e escolas”, explica em declarações ao JPN.
O gestor, que também faz parte do Conselho Geral do Boavista, viu o estádio bem mais preenchido do que é habitual, mas teme que “não seja fácil repetir o mesmo número em breve.”
Para José Pedro, só um esforço contínuo de mobilização fará com que os panteras consigam assistências semelhantes à do último jogo, uma vez que “muitos boavisteiros e simpatizantes não vão aos jogos porque não existe um movimento que puxe por eles”, observa.
A eventual fraca receita gerada neste tipo de jogos não assusta este adepto fervoroso. “É um mito achar que a receita de bilheteira é relevante no orçamento de um clube. No Boavista são poucos os jogos em que a receita é suficiente para pagar os custos (de policiamento) do próprio jogo.” O gestor apela a que se abdique da receita em troca de uma maior mobilização.
O Boavista de sangue renovado
Cristina Borges, docente na Escola Superior de Saúde, é sócia dos axadrezados e raramente falta a uma partida do clube que apoia desde criança. Ao JPN, descreve com “emoção e orgulho” o que sentiu no Bessa, no passado domingo, ao ver uma moldura humana com quase 11 mil pessoas. “Ter ali um aproximar dos tempos do Bessa de início de século deixou-me de coração cheio.”
Para a adepta, o BFC precisa de “uma renovação, de sangue novo, de miúdos que comecem a amar o clube e o sintam como seu.” A docente garante que a entrega de convites nas escolas da cidade do Porto, promovida pelo presidente da Direção do Boavista Futebol Clube, Vítor Murta, é importante para assegurar o futuro do clube.
A sócia dos axadrezados quer que a marca dos 11 mil adeptos seja superada já no próximo jogo disputado no Estádio do Bessa, com o Clube Desportivo Nacional. O desejo que o Bessa volte a encher, relembrando dias gloriosos do passado, é o sonho de Cristina. “Que comece o inferno do Bessa. ‘Muitos não vão entender’”, finaliza.
Entrar em campo a ganhar 1-0
Diogo Peixoto é adepto do Boavista e relembra ao JPN os anos 90 onde “enchíamos o Bessa. Os panteras [setor destinado à claque do Boavista] sempre cheios! As equipas tremiam quando vinham aqui jogar”. Para o operador fabril, a forte moldura humana presente no jogo contra o Belenenses SAD foi “uma grande conquista de todos. Da direção pela iniciativa, dos jogadores pela exibição e dos adeptos pelo apoio.”
A campanha dinamizada agradou a Diogo Peixoto. “A repetir, sem dúvida. Penso que se os clubes fizerem isto, uma ou duas vezes por época, só têm a ganhar.” O operador fabril acredita que o apoio dos adeptos será fundamental para as derradeiras jornadas do campeonato e deixa o apelo ao Boavista. “Que abdiquem da receita ou ponham [os bilhetes] mesmo a um euro. O pessoal adere em massa e com um apoio como o de domingo é como se entrássemos em campo a ganhar 1-0″, remata.
O sonho de ver “o Bessa cheio”
João Martins é engenheiro informático e tem lugar anual no Estádio do Bessa. No domingo vibrou ainda mais com a vitória do Boavista devido ao ambiente que os adeptos criaram. “O último jogo teve contornos diferentes no que diz respeito à experiência de quem vem ver um jogo de futebol. O apoio, que sempre existiu, foi amplificado pelos espetadores.”
O engenheiro considera a iniciativa da estrutura do futebol do Boavista “bastante importante” para o clube. “Numa altura em que a grande maioria dos adeptos ficam monopolizados em 3 clubes de futebol, qualquer medida que seja feita para melhorar a moldura humana nos restantes estádios portugueses é sempre bem-vinda”, afirma ao JPN.
Para o adepto dos panteras o presidente Vítor Murta “tem feito um esforço visível para atrair mais público para o Bessa. Esta não foi a primeira iniciativa nem será certamente a última. Acho que todos os boavisteiros esperam voltar a ver o Bessa cheio daqui a algum tempo“, explica.
Vítor Murta foi eleito presidente do Boavista Futebol Clube em dezembro de 2018 e na tomada de posse definiu como um dos objetivos aumentar a envolvência dos adeptos com o clube.
A equipa do BFC vai disputar sete jornadas até ao final do campeonato. Nesta edição da Primeira Liga são despromovidas três equipas e os panteras estão a lutar pela permanência com unhas e dentes. Na próxima jornada o Boavista desloca-se até ao Estádio do Dragão para defrontar o atual campeão nacional.
Artigo editado por César Castro