João Porfírio foi, esta segunda-feira, Editor por um Dia na redação do JPN. O também editor de fotografia do jornal Observador, de apenas 24 anos, mostrou algum do muito trabalho que já fez, em solo nacional e estrangeiro, e deixou à redação uma proposta de trabalho: realizar uma fotoreportagem sobre um tema à escolha no contexto da cidade do Porto.
Feita a escolha, os temas foram sorteados de modo a que cada grupo ficasse com um tema diferente do que propôs. O objetivo foi aproximar os alunos ao “mundo real do trabalho”, explica João Porfírio, um mundo onde “nem tudo o que fazemos é aquilo que gostamos ou aquilo que propomos”.
Natural de Portimão, João Porfírio fez um estágio na Agência Lusa e trabalhou depois para o jornal “I” e o semanário “Sol”. Mas a primeira publicação do fotojornalista aconteceu quando tinha apenas 16 anos. Depois de “imensos e-mails” enviados a jornais regionais, conseguiu publicar uma fotografia no “Jornal do Algarve” sobre o Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica, conta o editor de fotografia do Observador ao JPN. A partir daí, direcionou os “estudos para aquilo que gostava mesmo, que era o fotojornalismo”. “Nunca me interessei muito por outro tipo de fotografia“, acrescenta.
Partilha de experiências
Durante a manhã, o repórter destacou alguns trabalhos que fez, como a rota dos refugiados, em 2015, que arriscou fazer por conta própria quando tinha apenas 20 anos. O trabalho viria a ser publicado pela revista “Sábado”.
Apesar da falta de experiência à altura, sobretudo ao nível da organização de uma viagem que o levou por mais de uma dezenas de países num curto período de tempo, recorda com carinho um rapaz de 15 anos, que conheceu na viagem, e que “se tinha perdido dos pais e dos irmão e estava completamente sozinho”. João Porfírio passou todo o tempo que esteve na fronteira entre a Croácia e a Eslovénia com o jovem. Até o levou para “o hotel porque estava a chover torrencialmente”, conta. “No dia em que as fronteiras se abriram, despedi-me dele”. Mais tarde “ele encontrou os pais e irmãos na Eslovénia. Seis meses depois, fui ter com eles à Alemanha”, relembra o fotojornalista.
Já o trabalho mais difícil para João Porfírio foi o dos incêndios de Pedrogão Grande. “Foi um murro no estômago” e “a reportagem mais dura” que já fez, admite. Isto porque foi um dos primeiros jornalistas a chegar ao local: “vimos, ouvimos e cheiramos muita coisa que não era preciso”. Mas, apesar de tudo, o fotojornalista destaca a “sorte profissional de conseguir documentar” uma tragédia de tamanha dimensão.
Mais recentemente esteve em Moçambique, na região da Beira, destruída pelo ciclone Idai. Sobre a experiência, conta que esteve no local poucas horas, mas as suficientes para ficar impressionado com a abnegação dos moçambicanos: “ninguém se queixava de nada“, recorda, apesar de terem perdido tudo.
A carreira é curta, mas as experiências deixam marcas. João Porfírio admite que se tornou “uma pessoa mais fria”. Quando está com as pessoas, sabe que a sua “função é contar a história da pessoa”. “Se depois desabo um bocadinho quando chego a casa, isso já é problema meu, e acontece”, relata o jovem de 24 anos. A cobertura destes acontecimentos também ajudaram o fotojornalista a pôr “em perspetiva todos os problemas” e a “relativizar” os próprios.
Licenciado em Audiovisual e Multimédia pela Escola Superior de Comunicação Social do Politécnico de Lisboa descreve-se como “uma pessoa que não se conforma com pouco” e que está “sempre à procura de ser melhor“. Por isso, deixa como conselho aos futuros jornalistas que “não desistam e que não se limitem aos trabalhos da faculdade”.
Artigo editado por Filipa Silva