Fundado em 1983, o Balleteatro teve um papel importante na construção de uma comunidade artística na cidade do Porto. O projeto, que se baseava na “experimentação ao nível da dança e do teatro”, uma vez que “não havia assim tanta oferta”, tinha como aspetos prioritários a formação em dança e teatro, como explica Isabel Barros: “Em 89, o Ministério criou o ensino profissional artístico. Concorremos e fomos a primeira escola de dança e teatro no Porto”, relembra a diretora artística da escola Balleteatro ao JPN. 

Em 1994, Isabel Barros, Né Barros e Jorge Levi abriram um espaço com auditório o que permitiu o início de um ciclo importante ao nível da programação. “Teve grande importância nessa década porque, na altura, os espaços e a oferta da cidade não eram os mesmos de hoje”, conta a coreógrafa.

Hoje em dia, a par da formação, também a criação é vista como uma área fundamental, o que originou a primeira companhia de dança contemporânea do Porto. O novo auditório tornou-se num complemento à escola onde se apresentavam, sobretudo, projetos mais alternativos, como jovens criadores e companhias de médio formato portuguesas ou estrangeiras. A arte está mais democratizada e há mais pessoas formadas, mais companhias e mais público”, revela.

A escola distingue-se pelo território multidisciplinar e também pela colaboração com artistas das artes plásticas, fotografia, cinema, música e teatro. A diretora artística revela que “cada uma das áreas tem as suas coisas específicas, mas depois há disciplinas que se cruzam”. “O facto de trabalharem com o corpo, com a voz”, torna os jovens mais conscientes de si e do mundo o que, na opinião de Isabel Barros, os transforma em profissionais mais completos.

Depois de ter tido várias moradas na cidade do Porto, o Balleteatro é desde 2015 estrutura artística residente do Coliseu do Porto. No entanto, vai voltar a mudar-se para um novo espaço, desta vez na Ribeira do Porto.

Os primeiros passos

Ao longo dos 30 anos de história do Balleteatro, muitos foram os alunos que por lá passaram. Dalila Carmo, Martinho Silva, Victor Hugo Pontes e Gustavo Sumpta são alguns nomes conhecidos que, ainda hoje, continuam ligados ao mundo das artes performativas.

Já Nuno Simões foi um dos alunos da primeira turma do Balleteatro e esteve ligado à Direção Geral das Artes (DGArtes). “Foi a minha primeira escola. A ela lhe devo os primeiros ensinamentos artísticos, que são a matriz a partir da qual tive a oportunidade de desenvolver o meu percurso profissional”, garante. 

Foi a partir do contacto com profissionais, artistas e pedagogos que adquiriu ferramentas técnicas e humanas“Embora muitas pessoas já não estejam fisicamente presentes continuam vivas na minha memória e na minha formação, como pessoa e como artista”, acrescenta.

O ex-aluno não esconde o orgulho em dizer que faz parte da primeira turma de teatro constituída pela escola. “Desse período guardo ainda a lembrança dos meus colegas de turma, dos nossos amores, das nossas feridas. Do que perdemos, para que hoje, fosse possível os nossos projetos ocuparem um lugar”, confessa.

José Luís Oliveira, fundador e diretor artístico da Jangada Teatro, foi outro dos alunos que fizeram parte da primeira fornada da escola. ” A par da boa formação que de lá trouxe, destaco a proximidade e abertura e simpatia da direção da escola para com os alunos “, adianta. 

José Oliveira recorda com saudade os professores e os vários espaços, espalhados pela cidade, onde decorriam as aulas. “Tudo isto foi possível há 30 anos, no tempo daquele Balleteatro”, completa. O antigo aluno sublinha que, nos dias de hoje, as realidades são outras mas que o Balleteatro se vai renovando constantemente. “Ficamos, pois, à espera dos próximos trinta anos. Parabéns BT”, finaliza.

Cross and dance

Para comemorar os 30 anos do Balleteatro, os alunos realizam todas as quintas-feiras na Avenida dos Aliados e até dezembro a performance Cross and Dance”.  A apresentação reúne coreografias de seis antigos alunos em diversas passadeiras. Este cruzar da avenida pretende ser uma metáfora da transgressão do nosso dia a dia, quer a nível político como social.

Artigo editado por César Castro