A partir de 2021/2022, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) vai deixar de ter mestrados integrados. Os cursos que estão organizados desta forma – nove, no total – vão ser divididos em licenciatura (três anos) e mestrado (dois anos). Os estudantes passam, assim, a ter de se candidatar ao mestrado. Da conclusão do segundo ciclo dependerá o ingresso na profissão.

“Vai ser competitivo. Podem entrar alunos de fora. Temos expectativa que entrem alunos também do estrangeiro. Claro que os nossos estudantes que terminam a licenciatura estão, provavelmente, mais preparados”, começa por explicar João Falcão e Cunha, diretor da FEUP, em entrevista ao JPN. “Trata-se de um decreto-lei que obriga as escolas, em particular de Engenharia, a deixarem de ter mestrados integrados e passarem a ter licenciatura e mestrado” a partir de 2021, completa o responsável.

A instituição quer aproveitar a mudança imposta pela legislação para proceder a uma profunda reorganização dos seus ciclos de estudo. Todas essas alterações estão ainda em fase de discussão interna, tendo o Conselho Pedagógico já definido as “linhas orientadoras” da reformulação em curso.

Mestrados integrados da FEUP

Atualmente, a FEUP tem nove mestrados integrados: Bioengenharia; Engenharia Civil; Engenharia do Ambiente; Engenharia e Gestão Industrial; Engenharia Eletrotécnica e de Computadores; Engenharia Química; Engenharia Metalúrgica e de Materiais; Engenharia Mecânica e Informática e Computação.

No caso das licenciaturas, por exemplo, vão ser incluídos módulos em que os estudantes vão ser livres de escolher formações em Engenharia ou em outras áreas, como Humanidades e Artes, esclarece ao JPN, Francisco Vasques, pró-diretor da FEUP, que está a liderar o projeto de reestruturação. A FEUP admite também a possibilidade de integrar nos planos de estudo atividades como competições de Engenharia ou ações de formação.

Está também previsto que, no final da licenciatura, os estudantes possam efetuar um estágio. “É uma unidade curricular de contacto com a realidade empresarial em diferentes vertentes”, adianta ainda Francisco Vasques.

Já os mestrados vão ver aprofundada a vertente de investigação e desenvolvimento. “Vamos ter mestrados que são perfeitamente novos e de grande alcance”, explica o pró-diretor. O ensino em língua inglesa também vai ser reforçado.

A FEUP espera atrair ainda mais os estudantes, “reforçando algumas receitas, sobretudo de propinas de estudantes internacionais”, estima João Falcão e Cunha. A maior unidade orgânica da Universidade do Porto tem cerca de 8.000 estudantes, “800 dos quais estrangeiros de grau” e “mais 700 de mobilidade”, o que perfaz um nível de internacionalização “na ordem dos 15%”.

Atualmente, os estudantes de mestrado integrado têm um diploma de Licenciatura em Ciências da Engenharia ao fim de seis semestres curriculares. No entanto, este diploma não é suficiente para o reconhecimento automático pela Ordem dos Engenheiros. “O grau de mestre deverá ser o grau de entrada na profissão. O primeiro ciclo dá competências essenciais básicas e o segundo é o que dá as competências mais específicas. Um engenheiro completo precisa de cinco anos”, afirma o diretor da FEUP.

João Falcão e Cunha, diretor da FEUP, e Francisco Viegas, pró-diretor da FEUP.

João Falcão e Cunha, diretor da FEUP, e Francisco Vasques, pró-diretor da FEUP. Foto: César Castro

A FEUP tem procurado dialogar não só internamente como também com o Consórcio de Escolas de Engenharia [que reúne seis escolas públicas do país] para a adoção deste processo de reestruturação. “Temos tido discussões regulares para que o ensino de Engenharia em Portugal tenha a mesma estrutura em todas as escolas”, continua João Falcão e Cunha. “Os mestrados integrados foram concebidos há uns anos. Alguns deles já estavam, inclusivamente, em processo de reformulação”, diz.

Francisco Viegas garante que as estruturas de estudantes tem estado profundamente envolvidas no processo. “Houve uma intervenção muito forte dos estudantes, de mobilização de todas as comissões de curso, para alcançar estudantes de todos os anos em todos os cursos e de todas as especializações, de forma a avaliarem em detalhe as propostas preliminares que estão em cima da mesa”, explica o pró-diretor.

A FEUP espera que o processo interno esteja terminado e enviado para os órgãos competentes nacionais no início de janeiro de 2020. O cronograma está perfeitamente definido. “A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior vai ter um trabalho pesado em efetuar a acreditação dos cursos. Estamos a falar de todos os cursos de Engenharia do país e de cursos de outras áreas. Não vamos correr riscos de, em outubro de 2020, ainda não termos os cursos registados e publicados em Diário da República. Vamos abrir os concursos de ingresso a partir de dezembro de 2020”, esclarece o também professor da FEUP.

Concluída a reestruturação dos mestrados integrados, a FEUP tenciona readequar os atuais mestrados independentes à “nova realidade competitiva” assim como avaliar “as áreas em que há espaço e interesse estratégico” para investir.

Na próxima segunda-feira, dia 13 de maio, estão previstas duas sessões de apresentação à comunidade: uma às 17h00, para empresas que têm relação com a FEUP “através de projetos, estágios, dissertações, prémios”, e outra às 21h00, destinada especificamente a estudantes. “A das 21h00 é uma sessão específica, o que não significa que os estudantes não possam estar na sessão da tarde”, informou o diretor da instituição que vai estar presente na sessão em conjunto com o pró-diretor Francisco Vasques e Augusto Sousa, vice-presidente do Conselho Pedagógico.