O número de estudantes estrangeiros a estudar no Ensino Superior em Portugal está a aumentar de ano para ano. Um crescimento que tem sido registado sobretudo na chamada mobilidade de grau, isto é, entre os estudantes vindos do exterior para obter um diploma português, numa licenciatura, mestrado ou doutoramento.
Os estudantes de mobilidade de crédito – que estudam no país num determinado período de tempo ao abrigo de programas como o Erasmus – também tem aumentado, mas menos.
Os números publicados este mês pela Direção-Geral das Estatísticas da Educação e da Ciência (DGEEC) ajudam, assim, a cimentar uma ideia evidente para quem circula nos corredores da academia: o peso dos estudantes internacionais no país é cada vez maior e a tendência é para aumentar.
Só no primeiro semestre do presente ano letivo estavam inscritos 45.797 estudantes estrangeiros. Destes, 33.793 eram estudantes em mobilidade de grau no país, mais 5.600 do que em todo o ano letivo anterior.
Olhando aos dados da DGEEC referentes ao primeiro semestre dos últimos quatro anos letivos, o que temos é um crescimento de 86% de estudantes estrangeiros de grau. Entre os estudantes de crédito, o crescimento foi de 25% no mesmo período.
No ano letivo 2017/2018, os estudantes estrangeiros de grau representaram já 7,5% do total de inscritos no Ensino Superior. Os de crédito, 4,4%.
Analisando as tabelas disponíveis para os últimos anos letivos, os estudantes estrangeiros de grau que vêm para Portugal escolhem sobretudo a Grande Lisboa, instituições de natureza universitária do sistema público, apostam sobretudo na licenciatura, na área das ciências empresariais e nas engenharias e são na maioria do sexo feminino (embora a percentagem seja muito equilibrada).
Brasil sempre a subir
O Brasil é o país de origem da maioria dos estudantes estrangeiros em Portugal e o número também tem vindo a subir nos últimos anos. Segundo os dados da DGEEC, no primeiro semestre deste ano letivo, estavam inscritos 13.295 estudantes de nacionalidade brasileira, representando assim 33% do total de estudantes estrangeiros (grau e crédito).
Os portugueses mencionados no gráfico acima (3.282) são estudantes com nacionalidade portuguesa que concluíram o ensino secundário no estrangeiro e que se inscreveram em Portugal para tirar o diploma.
Mas há muitas outras nacionalidades envolvidas, especialmente entre os estudantes de grau, oriundos de uma centena de países diferentes, com preponderância para os de língua oficial portuguesa (além do Brasil, Cabo Verde, Angola ou Guiné-Bissau) e uma grande dispersão de origens, do Irão (327) ao Nepal (52), passando por Camarões (27) ou a Arménia (11).
Na Universidade do Porto, o peso dos estudantes brasileiros é ainda maior do que ao nível nacional, atingindo, no primeiro semestre, 73% do total de estudantes estrangeiros de grau na universidade (quase três em cada quatro). Os estudantes brasileiros estão ainda em maioria entre os estudantes de mobilidade, mas com menor discrepância face à segunda nacionalidade mais representada: a espanhola.
Na lista, facultada ao JPN pela Universidade do Porto, há registo de estudantes internacionais de 81 nacionalidades, no caso dos estudantes de grau.
A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) são as duas unidades orgânicas que mais estudantes estrangeiros acolhem (são também das maiores em número total de inscritos). A FEUP viu inscritos 706 estudantes internacionais de grau; a FLUP, 560; e a Faculdade de Ciências da UP aparece em terceiro da lista com 330.
No total, a Universidade do Porto acolheu 3.084 estudantes estrangeiros de grau e 1.476 de crédito (neste último caso, o número diz respeito só ao primeiro semestre).
Portugal tem, desde 2014, um Estatuto do Estudante Internacional, que permitiu às Instituições de Ensino Superior (IES) abrirem um concurso especial de acesso para captar estes estudantes, aplicando propinas mais altas, de acordo com os custos reais dos cursos.
Cabe às unidades orgânicas de cada IES estabelecer os valores a aplicar nos seus cursos para estes estudantes, mas os custos por ano letivo podem chegar aos seis mil euros de propina, no caso da UP, afigurando-se esta modalidade como um potencial reforço de receitas próprias muito desejado pelas instituições.
Segundo o jornal “Expresso” do último fim de semana, é de tal forma assim que o ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, já terá aceitado aumentar, no próximo ano letivo, de 20 para 30% a fatia de vagas que cada instituição pode alocar aos estudantes internacionais.