Com ação no Parque da Cidade, numa geografia que convocou várias camadas sociais e de poder – perdeu-se a conta de famosos presentes, um bom indicador para medir a “popularidade” do certame –, J Balvin desenrolou diante de nós uma viagem, sem começo nem fim, por hits como “X”“I Like It” ou “Reggaeton”. De camisola branca vestida e brinco na orelha, Balvin tinha todas as condições para ser inacessível e foi precisamente o oposto.

Numa clara tentativa de se atualizar e de agregar a música latina, em ascensão nos mercados de língua inglesa, o Primavera abriu portas ao reggaeton de Balvin, ignorando, por completo, o coro de críticos que aspiravam, quiçá, a artistas mais cultos e bem formados. E J Balvin encostou-os facilmente “Contra La Pared”. 

J Balvin Foto: Sofia Matos Silva

A bem da verdade, Balvin foi o verdadeiro abalo nesta segunda noite, comprovando a crescente notoriedade que tem alcançado, sobretudo junto das novas gerações que fazem do grito palavra de ordem.

O músico, que convidou o público incessanemente a saltar e a atrever-se a tanto, fez-se acompanhar por bailarinos altamente sincronizados e à altura dos seus ritmos. Logo nas primeiras filas, os olhos perdiam-se entre raparigas e rapazes, de tenra idade, a sacudirem-se à medida que Balvin desfiava mais um êxito e, nos primeiros minutos, foram logo vários de uma assentada.

Se, por um lado, o acerto em trazer Balvin é algo que deverá ser comprovado nos números do festival, por outro, assistimos a uma necessidade de libertação, ainda que por hora e meia, daquilo que é a identidade deste festival. Se com “Downtown”, por exemplo, que o músico gravou com Anitta, o ambiente aqueceu (mas não ao ponto de atingir o clímax porque Anitta é insubstituível), “Con Altura” recordou-nos a amizade de Balvin com Rosalía, que atua ainda este sábado no mesmo local.

J Balvin Foto: Sofia Matos Silva

Entre backtracks, descidas para cumprimentos de circunstância aos fãs e danças com bonecos gigantes e muito ritmo latino, Balvin lá se despediu com “Mi Gente”, e todos os artifícios a que tinha direito, não sem antes mostrar uma prenda bem especial: uma camisola da seleção enviada e autografada por Cristiano Ronaldo.