“O que não é reciclável, tem que passar a ser”. Foi esta a convicção defendida por Joaquim Poças Martins, presidente da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN), na conferência “Beyond single-use plastics”, que visou “demonstrar que há engenharia nos plásticos, na sua criação e na sua substituição” e que contou com vários especialistas em criar alternativas ao plástico de uso único.
Na iniciativa da OERN, que teve lugar esta manhã, no Porto, Poças Martins salientou que a conferência não era “contra” os plásticos e que visava alertar a sociedade para o uso deste material. “Os plásticos já foram um progresso, mas hoje são vistos como um problema”, disse, adiantando que “não podemos continuar a usar as práticas do passado.”
Também o secretário de Estado do Ambiente, João Ataíde, que esteve presente na sessão, sublinhou que o objetivo “não é diabolizar o plástico”, mas sim compreender que é necessária uma mudança de paradigma para não comprometer o futuro das gerações vindouras.
Mercês Ferreira, do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente, que foi das primeira a intervir, afirmou que a resolução de uma questão ambiental como esta tem sempre que envolver vários atores no terreno. “As boas práticas vão surgindo e mostram que, mesmo lentamente, a mudança de mentalidades e comportamentos está a acontecer”, disse.
Exemplos disso são “a proibição de copos descartáveis nas ruas de Lisboa a partir de 2020”, “as mudanças em festivais e eventos grandes com a utilização de copos reutilizáveis” ou “a colocação, até 2022, de equipamentos de recolha de plásticos, metais e vidros em superfícies comerciais.” A taxa sobre sacos de plástico leves ou a proibição de concursos públicos de aquisição de copos, palhinhas e colheres de café descartáveis foram outros exemplos de sucesso citados.
Escultura promove consciencialização ambiental
Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara do Porto, destacou várias iniciativas da autarquia que já apelam para uma economia mais circular como o Banco de Materiais, o OPO-LAB (o primeiro Fab Lab do país) ou os espaços multifuncionais da cidade como o Silo Auto que, além de parque de estacionamento, é palco de concertos, mercados em segunda-mão ou galerias de arte.
O vereador, responsável pelo pelouro da Inovação e Ambiente, acrescentou ainda que a economia circular está intimamente relacionada com o equilíbrio dos ecossistemas. “Conseguimos resolver alguns dos problemas usando a natureza. Por exemplo, o Parque da Asprela, que vai surgir na zona das universidades, implementa uma solução de base natural que transformará o leito de cheia numa “lagoa” pela forma como o projeto está desenhado.
Amaro Reis, presidente da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos, defendeu que o plástico é um produto “ágil e multifacetado” e que “pode ser um aliado da economia circular”. Já António Porto Monteiro, diretor de sustentabilidade da The Navigator Company, puxou a ‘brasa à sua sardinha’ e defendeu que “o papel pode surgir como alternativa sustentável”, por ser “altamente reciclável” e “renovável”, o que acaba por ser mais atrativo para os consumidores. E deu como exemplos a substituição dos cerca de 90 mil sacos de plástico, que são distribuídos, todas as semanas, com o jornal “Expresso”, por sacos de papel.
Já para Pedro Lago, diretor de Sustentabilidade e Economia Circular da Sonae MC, “há casos em que as soluções não são óbvias” e outros mais “complexos como a reutilização quando possível, porque nem sempre é possível”, admitiu. “Queremos investir no ecodesign e influenciar como o consumidor atua perante o fim de vida de uma embalagem”, disse.
A iniciativa incluiu a inauguração de uma escultura, na praça do Metro da Trindade, dos escultores Xandi Kreuzeder e João Parrinha, que se vai manter até sábado sendo depois transferida para um local ainda a decidir. Maria João Teles, coordenadora do Colégio de Engenharia do Ambiente da OERN, adianta que o objetivo é chamar a atenção da sociedade para temas atuais, clarificar a informação e dizer que há soluções. “Há muita informação sobre os plásticos, mas as pessoas ficam confusas porque há tanta coisa má que se fala sobre eles. Os plásticos também são um ótimo recurso. É preciso é usá-lo responsavelmente”, concluiu.
