Ouvi falar pela primeira vez de um Campeonato do Mundo Universitário de Canoagem em 2010. Acho que foi nesse mesmo ano que me disseram que, em 2013, ia haver, em Kazan, na Rússia, as Universíadas. E como eu também era universitário, teria a possibilidade de participar nessa competição.

Mais tarde, fui convidado pela FADU [Federação Académica do Desporto Universitário] e pela Federação [Portuguesa de Canoagem]. Como venci as seletivas desse ano, de 2013, conquistei, por direito, a participação nas competições internacionais em K1 e tive a possibilidade de ir. Tinha 23 anos.

Nápoles quase a começar

A 3 de julho, quarta-feira, começa a 30ª edição das Universíadas de Verão, que este ano vai ter lugar em Nápoles, na Itália. O maior evento multidesportivo do mundo, depois dos jogos olímpicos, vai voltar a contar com a participação de Portugal, que desta vez levará uma comitiva de 72 atletas.

A competição prolonga-se até 14 de julho.

Estava numa fase da carreira que me inspirava um misto de sensações. Foi no ano em que se criou ali uma situação de conflito com a federação, porque na altura fui praticamente obrigado a abdicar da equipa nacional de velocidade. Mas também estava num momento bom, porque tinha acabado de conquistar duas medalhas de prata no Campeonato da Europa, que se tinha realizado cá em Portugal e, no ano anterior, nos Jogos Olímpicos de 2012, tinha conseguido, em conjunto com o meu colega Emanuel Silva, a medalha de prata em K2 1000 metros.

As Universíadas de Kazan acabaram por ser a minha última competição internacional em 2013. Era uma prova importante, na qual tive a possibilidade de ir com a comitiva portuguesa.

Aceitei o convite, primeiro, porque gosto de competir. Depois, porque conquistei esse lugar de poder representar o meu país nas Universíadas e porque a própria FADU e, de certa forma, a federação, acreditaram que eu era o melhor para poder representar as duas instituições e Portugal nessa competição.

Fernando PImenta em Kazan, na Rússia Foto: FADU

O que sabia de Kazan? Nada. Rigorosamente nada.

Lembro-me que havia muitas instalações novas feitas de raiz para as Universíadas e que iam ser depois aproveitadas para criarem uma vila de estudantes, acho.

O ambiente era, sem dúvida, descontraído. Apesar de ser uma competição internacional de bastante relevo, não é assim de grande pressão, pelo menos foi o que senti. Sem querer tirar nenhum brilho às Universíadas, este evento é mais uma etapa na carreira. Mas importante, até porque estava lá um contingente de atletas com muito nível e muita qualidade.

Para termos a noção, estavam ali atletas que já tinham sido medalha em Jogos Olímpicos, em Campeonatos do Mundo, da Europa, alguns deles, a seguir às Universíadas, foram ao campeonato do mundo e conseguiram resultados de relevo, ou seja, o nível da canoagem estava bastante alto, até porque eu consegui trazer as duas medalhas de ouro em K1 500 e K1 1000, mas sempre muito perto do segundo e do terceiro classificado.

Para mim foi importante conquistar aquelas medalhas. Foram duas de ouro. Não é fácil uma, quanto mais duas! Fiquei, claro, super contente e motivado, porque isso foi um dos momentos altos de 2013.

Fernando Pimenta com as duas medalhas de ouro conquistadas em Kazan, na Rússia.

Fernando Pimenta com as duas medalhas de ouro conquistadas em Kazan, na Rússia. Foto: FADU

Sim, eu sempre tive mais virado para a alta competição. Nunca descurei os meus estudos. Só mesmo a partir de… acho que foi mesmo de 2013/2014 é que me foquei mais na alta competição e acabei por abdicar da minha vida académica, mas por opção, porque sinto que todo o tempo tem de estar dedicado, a 100%, à minha modalidade, ao treino, e foi nesse momento que abdiquei dos estudos. Sim, é verdade, sempre senti um “bichinho” maior pelo desporto do que pela universidade, mas sempre tentei conciliar as duas coisas.

Aquilo que fica mais marcado é o convívio que temos com outros atletas portugueses de outras modalidades, o convívio que temos com atletas de outras nacionalidades e de outras culturas diferentes, isso é o que acho que nós conseguimos absorver mais e depois, claro, aquele ambiente todo à volta disso, como se fossem uns jogos olímpicos.

Não tenho bem a certeza, mas acho que nessa edição eram cerca de 8 mil atletas, era um evento muito grande, com uma grande dimensão.

Claro que sim. Quem é atleta e tem o sonho de participar nos Jogos Olímpicos, que para mim e para a maioria dos atletas de modalidades olímpicas é a prova rainha do calendário internacional, as Universíadas são um evento muito importante. Muito parecido.

Claro que nuns Jogos Olímpicos os atletas estão mais nervosos, mais isolados para a competição, enquanto nas Universíadas o espírito é mais tranquilo. Mas recomendo a 100%, porque é uma competição com caráter único.

Conselhos? Primeiro, que desfrutem do momento, porque pode ser até a primeira e última oportunidade que têm de competir numas universíadas. Que treinem, que deem o seu melhor. Que se sintam apaixonados pelo que estão a fazer. Que deem o melhor pelo país, por Portugal. Certamente que virão de lá mais ricos. Depois é aproveitar todos os momentos pós-competição para conhecer pessoas, culturas, modalidades e apoiar, claro, todos os portugueses lá presentes nas Universíadas.