Já lá vão oito anos desde a primeira edição, mas a identidade mantém-se. Nas palavras da codiretora do Family Film Project, Né Barros, “a temática continua a ser no âmbito do registo criativo, do cinema da zona de fronteira entre o real e o ficcional e no campo que atravessa o arquivo, a memória, as vidas, com uma atenção muito especial para o olhar antropológico do mundo”, disse na apresentação do certame que decorreu há uma semana no Maus Hábitos.

O festival terá lugar entre 14 e 19 de outubro e este ano, para além do Coliseu, Maus Hábitos e Passos Manuel, o Cinema Trindade junta-se aos espaços parceiros.

Mas esta não é a única nova parceria que a edição de 2019 reserva. “Teremos também uma primeira parceria com o festival norte-americano Inappropriation”, começa Né Barros, “do qual vamos ter uma mostra com dez filmes, que é justamente uma sessão toda dedicada ao Arquivo e ao Found footage”. A imagem é “reutilizada e repensada” a nível estético, perante o olhar “interessante” do festival sobre o “filme experimental”. Para além do Inappropriation, o Family Film Project colabora também com festivais semelhantes em Espanha e Itália.

O alcance internacional do evento reflete-se não só nas parcerias, mas também na diversidade de países representados nas sessões competitivas para os prémios de melhor longa e curta-metragens. Desde os Estados Unidos à Itália, passando pela Holanda ou pela Argentina, esta abundância de nacionalidades “cria desde logo uma variedade muito grande do ponto de vista da diversidade do olhar sobre o espaço experimental e sobre a zona do familiar”.

Apesar disto, os filmes portugueses estão em destaque na oitava edição, com sete das 26 obras em competição.

Sobre a maior relevância do cinema lusitano, Né Barros esclarece: “Todos os filmes são sujeitos a uma pré-seleção e este ano houve esta tendência de mais propostas portuguesas. Na realidade, é algo que queremos manter nas edições futuras, porque produz-se bom cinema cá, o que está mais que provado pelas presenças portuguesas em festivais estrangeiros. A questão aqui é encontrar filmes que casem com a zona temática que nós estamos a trabalhar. Este ano, houve esta feliz coincidência, e provavelmente será esta a nossa tendência”.

A realizadora convidada deste ano confirma esta predisposição. A portuense Cláudia Varejão segue-se a nomes como Daniel Blaufuks, Regina Guimarães ou João Canijo. “Teremos o prazer de ter a sessão de abertura com um filme da Cláudia Varejão [Ama-San, 14 de outubro, Cinema Trindade] e vamos também fechar com uma trilogia de curtas-metragens”, afirma Né Barros sobre a convidada. “Há ainda uma outra sessão na sexta-feira 18 de outubro onde serão anunciados os prémios e será apresentado um outro filme da Cláudia Varejão”, acrescenta.

A 15 de outubro, o Coliseu e os Maus Hábitos recebem o ciclo de perfomances Private Collection. Todos os anos “é feito um desafio aos criadores” para “trabalharem sobre os seus registos de memória de relações mais subjetivas com o real”. “Teremos este ano a presença de Cesário Alves, que já foi um colaborador noutras edições, da Rebecca Moradalizadeh, que vai fazer um jantar-performance, e depois novas colaborações com Beatriz Albuquerque, Mara Andrade ou Aurora Pinho”.

Autora do livro “The Archive Effect: Found footage and the Audiovisual Experience of History”, a norte-americana Jaimie Baron vai ficar encarregue da masterclass “Exposing Intimate Traces: Archive, Ethics and the Multilayered Gaze”, a 18 de outubro. “Esta masterclass vai falar desta zona fina de fronteira entre estética e ética e o modo como as apropriações das imagens são trabalhadas do ponto de vista estético e quais são as suas implicações do ponto de vista mais ético”, revela Né Barros. “Continuam a ser questões extremamente importantes no campo das imagens e do conflito entre público e privado, que são dimensões que fazem parte do nosso quotidiano”.

Outras atividades do festival incluem video-instalações no Cinema Trindade e a oficina infantil “Imagens lá de casa”. À exceção da sessão de abertura, o jantar-performance e a oficina para crianças, as atividades são gratuitas para estudandes. Todo o programa e outras informações estão disponíveis no site do Family Film Project.

Artigo editado por Filipa Silva