“Já era tempo.” Há muito tempo que Benjamim queria vir tocar ao Porto, mas até aqui fê-lo sempre em formato reduzido. Esta sexta-feira, será diferente e o artista lisboeta virá com a banda ao Hard Club (Sala 2, 22h00) com o aperitivo adicional de fazer uma derradeira apresentação do álbum “1986” de Benjamim e Barnaby Keen, num momento desejado “há muito” pelos artistas.

Já foi Walter Benjamin e agora é “só” Benjamim. Luís Nunes admite nunca ter assinado com o seu nome verdadeiro por considerar que “não tem qualidade fonética para ser um nome artístico”. Enquanto compôs música em inglês foi Walter Benjamin. Mas o regresso a Portugal levou-o a alterar o nome. “O nome é um símbolo, é aquilo pelo que as pessoas conhecem o artista”, explica em entrevista ao JPN. Foi quando decidiu cantar e escrever canções em português que adotou o nome Benjamim, como já “carinhosamente” lhe chamavam.

A música e a vida do artista foram influenciadas pelos anos que viveu em Londres. Foi em Inglaterra que Benjamim estudou engenharia do som e conheceu músicos e artistas, entre eles, Barnaby Keen. “Fui exposto à experiência de estar a trabalhar numa indústria que é, realmente, muito grande, muito forte, uma selva. Em Londres toda a gente tem o sonho de ser descoberto”, afirma.

Benjamim com Barnaby Keen.

Benjamim com Barnaby Keen. Foto: Vera Marmelo

As experiências que viveu em Inglaterra enriqueceram-no, mas quando Benjamim deixou de sentir que a música que fazia era especial, decidiu regressar a Portugal: “deixei de sentir propriedade das minhas canções”, diz. Ao cantar em inglês sentia-se “frágil” e “exposto” e surgiu a necessidade de se expressar na própria língua. Essa vontade de cantar em português foi o que Londres lhe trouxe de mais importante.

Regressar a Portugal em 2013, em plena época de crise, foi uma “fase complicada”, mas que serviu de inspiração a Benjamim. “As pessoas estavam a sair do país e a não voltar e achavam que eu era maluco. Isso deu-me força para escrever sobre o que se estava a passar”, recorda. O regresso do artista culminou no álbum “Auto Rádio”, lançado em 2015. Cantar em português foi um processo desafiante, que levou Benjamim a fazer-se à estrada numa forma de repensar a sua música e como esta podia ser apresentada ao público português. Em 33 dias na estrada, o artista deixou a insegurança de lado e sente, agora, que “não faz sentido cantar noutra língua”.

“Comecei a aprender como cantar as minhas músicas. Gravei este disco [“Auto Rádio”] muito inseguro. Nunca tinha gravado um disco em português e senti que precisava de ir para a estrada, para vencer a vergonha e vencer essa barreira de nunca o ter feito em frente ao público. Isso trouxe-me essa confiança, essa desenvoltura, que é algo que se vai moldando ao longo do tempo”, afirma.

Tendo trabalhado como produtor ao lado de Joana Espadinha e B Fachada e tocado ao lado de Lena d’ Água, no Festival da Canção, Benjamim mostra-se satisfeito por “trabalhar com músicos deste calibre”. Ao refletir sobre as experiências em Portugal, o músico sente que as pessoas estão cada vez “mais ligadas à música de cá, à música cantada em português” e sente-se acarinhado pelo público.

1986″ é o disco bilingue que resultou da oportunidade que Luís Nunes agarrou de partilhar palco com uma cara conhecida. Barnaby Keen e Benjamim conheceram-se em Londres, em 2012, e tornaram-se amigos. Uma vez que Barnaby “adora música brasileira, fala português, além de ser um músico incrível e um escritor de canções fora de série”, gerou-se o desejo mútuo de trabalhar num álbum. Daí resultou um “disco diferente” onde os dois músicos, para além do inglês, partilham a paixão pela língua portuguesa. Benjamim considera que esta união de línguas e a possibilidade de cantarem as canções um do outro tornaram o disco “muito especial”.

Em “Terra Firme”, um dos sucessos de “1986”, Benjamim conta que se baseou em notícias sobre os “barcos que se afundavam ou se perdiam no Mediterrâneo”: “Eu tenho a certeza que muitas dessas pessoas fizeram essa viagem por necessidade, não porque o coração delas as quis afastar de casa”. Esta canção é um alerta para a necessidade que pode surgir de contrariar o que o coração diz: “o teu coração navega em contramão”, diz um verso da canção “Terra Firme”.

Quando o JPN pergunta o que aprendeu ao longo do processo que o tornou no músico que é hoje, Benjamim responde que, ao olhar para trás no tempo, teria dito ao “Luís do passado” para começar a escrever e a cantar em português há mais tempo.

“Aprendemos com os nossos erros e com o nosso percurso. (…) Se calhar precisei mesmo da experiência que tive para mudar o chip na minha cabeça e perceber que tenho de fazer a música de maneira diferente”, remata.

O cantor, compositor e multi-instrumentista encontra-se a trabalhar num novo álbum. O disco está em fase de pré-produção e, depois do concerto no Hard Club do Porto, vai com a banda tocar algumas canções novas ao Centro Cultural de Belém em Lisboa. “A minha vontade é que o disco seja gravado e acabado o mais rápido possível para podermos voltar à estrada e voltar a tocar”.

Mas, antes de regressar à estrada, o concerto de Benjamim e Barnaby Keen, esta sexta-feira, promete um ambiente “cheio de energia”, com nuances e o “ingrediente especial” de ser o último concerto do álbum, “pelo menos, durante muito tempo, garantidamente”. Os bilhetes estão à venda por 10 euros.

Artigo editado por Filipa Silva