A pensar na falta de posicionamento político em relação aos setores da Educação e Juventude, o estudante Nuno Can decidiu agir e criar uma plataforma online com um resumo das propostas que cada partido com assento parlamentar colocou no respetivo programa para estes setores.
“Nos últimos anos, tem havido, por parte dos estudante, da comunidade docente e das instituições de ensino, um questionamento em relação ao sistema de ensino: os exames, o acesso ao ensino superior, a questão dos professores”, observa ao JPN o criador da faltadeeducacao.pt. “Achei que nas Legislativas íamos ter uma resposta, mas ao longo da pré-campanha e, depois, da campanha, fui ficando surpreendido com a falta de Educação, isto é, de temas de Educação e Juventude nos discursos políticos”, acrescenta.
Nuno Can
- 18 anos
- estudante de Economia na FEP
- criador do faltadeeducacao.pt
- membro da Impact Academy, associação com foco na educação e na participação jovem.
O site começou a ser pensado apenas no dia 25 de setembro, quando uma notícia a retratar a Educação como parente pobre das legislativas lhe foi parar às mãos. “Em cima da hora”, admite o estudante da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), mas a tempo de frisar o que considera ser digno de reflexão.
Nuno Can, que está no primeiro ano do curso de Economia, resolveu esquematizar as propostas do PS, PSD, Bloco de Esquerda, CDS-PP, CDU e PAN, organizando-as por temas e colocá-las online para que as pessoas pudessem analisá-las de uma forma “comparável”.
“Fiz a analise dos programas eleitorais e as estatísticas, e passei depois essa informação para uma plataforma de criação de sites para amadores”, explica. Com o “passa a palavra”, o projeto chegou ao conhecimento de Paulo Correia, estudante do quinto ano de Engenharia Informática da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que se voluntariou para fazer a versão final do site, mais rápida e profissional, que foi lançada na última quarta-feira. “Foi uma grande ajuda”, enfatiza.
Quanto ao conteúdo das propostas apresentadas, o estudante de Economia diz que os partidos não se posicionam de forma evidente, apesar de “cada partido ir propondo coisas boas aqui e ali”. Para Nuno Can falta “uma visão integrada, mais harmoniosa daquilo que pode ser a Educação.” “Não adianta tentar mudar o acesso ao ensino superior e não perceber que é preciso, também, mudar os currículos do ensino secundário”, exemplifica.
A plataforma, sublinha Nuno Can, não é só para a juventude: “gostava que, mesmo quem não é jovem, votasse considerando que os jovens e a educação são fundamentais e que não é possível construir uma sociedade sem Educação”.
Relativamente ao alheamento dos jovens em relação à política nacional, o estudante acredita tratar-se de um processo cíclico: “não estimulamos uma democracia saudável dentro das escolas. Os alunos podem eleger e ser eleitos nas associações de estudantes do ensino secundários e o que acontece é que a maior parte da comunidade escolar ignora essa possibilidade para construir uma democracia forte. E o que acontece nas escolas é o que acontece depois lá fora. Os alunos votam em listas de candidatura que prometem coisas que no fim do ano não fazem”.
A solução passará por “promover uma democracia saudável dentro das escolas“, porque “não adianta fazer campanhas contra a abstenção de quatro em quatro anos e os alunos andarem na escola 12 anos sem terem uma sensibilização para isso”, alerta o jovem. “Seria fundamental que os alunos pudessem melhorar a sua própria escola, debatendo. A educação para a democracia tem de começar naquilo que nos está mais próximo”.
O projeto é apartidário: “Queríamos que o faltadeeducacao.pt fosse uma coisa independente sem agenda comercial e sem agenda partidária”, acrescenta o jovem de 18 anos que faz parte também da Impact Academy, uma associação juvenil sem fins lucrativos que tem como foco a Educação e a participação jovem.
Artigo editado por Filipa Silva