Mulher. Mãe. Rapper. Negra. Karol Conka tem consciência de que a sua música é recebida com espanto pelas pessoas, por carregar nos seus versos sarcasmo e afronta. “As pessoas esperam sempre que, quando a gente está falando alguma coisa, ou uma mulher cantando rap, ela fale coisas agradáveis e docinhas. E, às vezes, a gente fala umas verdades – ainda mais quem está fazendo rap, que é uma coisa muito ácida – e as pessoas se assustam com esta atitude de uma mulher negra, independente e bem resolvida”, diz em entrevista ao JPN a partir do Brasil.
A artista, que vai atuar este domingo no Hard Club (sábado estará no Musicbox Lisboa), procura exaltar o papel da mulher na sociedade, espalhando militância e incómodo, pois afirma que, a seguir, vem a admiração. As suas músicas são um instrumento de disseminação do empoderamento feminino e Karol garante que estas causam impacto na vida alheia. Para a rapper, é isso que a faz seguir em frente, doa a quem doer.
Para além disso, são também um reflexo da sua força interior, depois de ter saído de uma depressão e colecionado, ao longo da vida, traumas por ter nascido numa sociedade que sente como machista, preconceituosa e opressora.
A ativista decidiu transformar a sua música num remédio para que as pessoas a pudessem sentir e identificar-se com os seus versos, amenizando o desconforto. Karol reforça, ainda, a urgência de a sociedade aprender a falar sobre doenças, como a depressão e assuntos sociais.
Uma parceria recente com as cantoras e ativistas sociais Gloria Groove e Linn da Quebrada resultou na composição do single “Alavancô” – uma música feita especialmente para ser lançada no festival Rock in Rio, decorrido no Rio do Janeiro no mês passado.
Karol descreve o tema como “uma mistura inusitada de tango, rap e funk, regada de exclamações sobre assuntos como liberdade, preconceito e machismo, de forma bem-humorada”. No fundo, “uma música para puxar para cima todas e todos que se identificam com o direito de ser livre”.
Sobre o cenário vivido no Brasil, Karol Conka reflete sobre o desânimo que, a seu ver, atinge grande parte dos seus conterrâneos: “Tem muita gente triste, muita gente bem desanimada. Eu fiquei também nessa bolha de desânimo, mas saí dessa bolha e vou usar esse dom da música até ao fim”. A determinação é forte, tanto quanto a controvérsia que a sua música consegue gerar, como aconteceu com o tema “Lalá”. Ainda assim, a artista mantém uma postura otimista e considera que a sua música “acaba sendo a solução em tempos de escuridão, acaba sendo luz”.
Com uma voz que atravessa cada vez mais lugares e fronteiras, Karol Conka promete agitar a noite do próximo domingo, dia 27, no Hard Club. Com o seu terceiro disco de estúdio, “Ambulante”, lançado em 2018, o público pode contar com uma viagem de batidas eletrizantes pelos ritmos brasileiros – desde o samba ao forró. A festa fica completa com a atuação do DJ Farofa. Os bilhetes em pré-venda custam 13 euros, ao passo que os comprados no dia do evento ficam por 15 euros.
Artigo editado por Filipa Silva