Num ambiente informal, urbano e multiartístico, os jovens criadores abriram a 45.ª edição do Portugal Fashion, esta quarta-feira, na Alfândega do Porto. Este ano, às habituais apresentações das escolas de moda e do Bloom Upload somou-se a presença dos vencedores do Milano Moda Graduate.

Francesco Murano Foto: Bebiana Rocha

Francesco Murano mostrou-se grato pela oportunidade de mostrar o seu trabalho em Portugal e diz ao JPN que a “experiência foi muito agradável, muito calorosa”. O jovem do IED (Istituto Europeo di Design) apresentou uma coleção minimal, quer em termos de formas quer de cores, explorou sobretudo os “contrastes entre o branco, preto e cinza” e baseou-se na “escultura feminina clássica e barroca”.

Eleonora Giussani Foto: Bebiana Rocha

Esta também foi a primeira vez em passerelles portuguesas para Eleonora Giussani. Em declarações ao JPN, a vencedora do Italia Moda Graduate disse que é “muito interessante os estilistas jovens terem a possibilidade de mostrar as suas criações noutro país, noutra cultura e a outra imprensa”. Com uma coleção inspirada “no guarda-roupa do teatro de Milão”, Eleonora preocupa-se com a questão dos materiais ecológicos, mas “mais no sentido de não usar peles e da preocupação com os animais”.

Os jovens designers portugueses concordam que o intercâmbio de conhecimentos é positivo. No entanto, Marcelo Almiscarado, finalista da Escola Superior de Artes e Design (ESAD), aponta para o facto desse intercâmbio ainda privilegiar o sentido “de lá para cá e não de cá para lá” e também para a “tendência” para se dar mais atenção ao que se faz lá fora.

Em dia de desfile, poucos eram os que já tinham arranjado tempo para falar com os colegas italianos. Ariev, um dos criadores do Bloom Upload, justifica-se com a confusão que se vive em dias como este: “é uma correria muito grande, não consegui mesmo estar em contacto com eles”, confessou ao JPN. João Sousa, outro dos jovens designers, admite ter trocado algumas palavras, mas queixa-se do mesmo.

Sustentabilidade sim, mas…

A questão da sustentabilidade também marcou a agenda deste dia de arranque. Filipe Santana, do grupo Lost Signal Project, formado por quatro estudantes da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa (FAUL), contou ao JPN que a “faculdade tem o cuidado de passar para os alunos essa preocupação com o planeta”. Na coleção que trouxeram ao Portugal Fashion, usaram, a título de exemplo, fechos ecológicos, numa coleção que teve como inspiração o fato de astronauta; através do aproveitamento máximo dos tecidos tentaram apresentar uma proposta “vestível de street wear”.

Coleção Lost Signal Project

Coleção Lost Signal Project Foto: Pedro Andrade Cruz

Carolina Sobral, que participa pela terceira vez no Bloom Upload, embora ache “bastante importante a sustentabilidade”, considera que é complicado para marcas pequenas conseguirem aceder aos materiais: “para que consiga algum material sustentável é preciso ter grandes quantidades”, refere.

Inspirada na fotógrafa Maria Svarbova, Carolina apresentou a coleção “Swimming Pool”, feita sobretudo em algodão orgânico, uma coleção minimal e comercial da qual se destacam os “vermelhos, azuis fortes, que é o azul de piscina, prateado e bege” e os acessórios que, segundo a criadora, “fazem lembrar as divisórias das piscinas”.

Coleção de Carolina Sobral Foto: Pedro Andrade Cruz

João Sousa tenta contribuir para a questão ambiental não através dos materiais, mas dos temas que aborda. Este ano, “a coleção surgiu de uma pesquisa na ‘National Geographic’” e retrata a extinção dos felinos. “Se repararmos há uma redução de cor e padrão ao longo da coleção e aumenta o branco, que é como se estivéssemos a apagar o registo desses animais”, explicou o jovem de 19 anos ao JPN.

Coleção de João Sousa Ftoo: Pedro Andrade Cruz

Na opinião de Ariev, nome artístico de José Vieira, para os jovens designers é “insustentável trabalhar com esse tipo de regras”. Embora se preocupe em ser mais green, diz que essa responsabilidade está sobretudo do lado da indústria de fast fashion.

Sendo natural de Marco de Canaveses, o jovem criador diz ter usado tecidos da sua cidade, “tecidos de fábricas que já faliram (…) que estavam no chão”; lavou-os e refê-los, corrigiu “rasgos, manchas, para que fosse o mais sustentável possível”.

O autor da coleção “Solve et Coagula” aproveitou também para desabafar sobre as dificuldades de ser um jovem designer em Portugal: “é muito complicado, toda a gente diz que é fácil estar no Bloom, que é fácil estar onde estamos, mas é o oposto.”

Coleção de Ariev Foto: Pedro Andrade Cruz

À semelhança de todos os recém-licenciados que por aqui passaram, Ariev desenha, faz a modelação, confeciona e trata dos acabamentos. Os acessórios, a maquilhagem e o cabelo também ficam à responsabilidade dos criadores, o que leva o designer de moda a afirmar que “é muito trabalho para cinco minutos de desfile”.

O que mais desanima é o depois, é “a roupa ficar em caixotes”, é o “quebrar o sonho, o estereótipo de que as pessoas que já estão a apresentar no Bloom têm uma carreira sustentada”.

Este ano as peças vão poder estar à venda no showroom, e para José é a primeira vez que as suas vão estar em processo de venda. Ao JPN diz que espera daqui para a frente “conseguir internacionalizar”.

Também Carolina Sobral gostava de viver só da sua própria marca, mas para já está “a trabalhar em marcas mais fast fashion”. João Sousa, que é o mais novo do Bloom Upload, embora já tenha visto a última coleção referida pela Vogue Itália “como uma das melhores da coleção passada”, continua à espera da oportunidade de vender não só em Portugal, mas noutros mercados.

Marcelo Almiscarado terminou o curso este ano e um dos motivos para o seu “pânico” é acabar o dia e não saber “o que fazer a partir de agora”.

Coleção de Marcelo Almiscarado Foto: Pedro ANdrade Cruz

O suporte que a plataforma Bloom tem dado a todos os que por aqui passam é evidente. O apoio da equipa também é fundamental para irem evoluindo e definindo o ADN ao longo das edições. Mas em termos de mercado, estará cheio e demasiado competitivo? Embora Carolina Sobral ache “que há lugar se as pessoas se tentarem destacar”, só o tempo dirá onde estes nomes vão chegar.

Artigo editado por Filipa Silva