Sam The Kid esteve dez anos longe dos palcos, em nome próprio, mas regressou em força com dois concertos em formato inédito. Depois de Lisboa, a 18 de outubro, foi a vez do Coliseu do Porto acolher o rapper de Chelas na última sexta-feira. Na sala, rapidamente esgotada por um público maioritariamente jovem, estavam muitos fãs que assistiam pela primeira vez ao vivo a uma atuação do músico.
Samuel Mira surpreendeu o público durante todo o espetáculo com várias surpresas. Para além de se estrear acompanhado com uma orquestra de 24 elementos, num registo completamente diferente do habitual, subiram também ao palco vários artistas conhecidos do público, como NBC, Mundo Segundo, Carlão e SP.
O concerto começou com o pai do artista, Napoleão Mira, a declarar o poema “Entre(tanto)”, acompanhado pela orquestra e a banda do filho, Orelha Negra (com Fred Ferreira, Francisco Rebelo, João Gomes e DJ Cruzfader). A multidão aplaudiu a abertura original e mostrou-se completamente envolvida nas palavras de Napoleão.
Depois, Sam the Kid subiu ao palco interpretando a primeira música “A partir de agora”, acompanhado pelos aplausos e assobios da plateia, que o acompanhavam na melodia. No final da interpretação, o artista levantou os braços à frente do palco num gesto de agradecimento.
Seguiram-se outras músicas como “Decisões” e “PSP”, músicas que o público mostrou conhecer bem.
É na quarta música que Timóteo Santos, NBC, sobe ao palco e a plateia envolve-se realmente com a junção das duas vozes e dos instrumentos. Foi também nesta altura que as luzes se acenderam para o público e o artista Samuel Mira olhou para a plateia e percebeu: “Está muita gente”. O artista aproveitou para explicar que queria “intimidade” com o os fãs, levá-los para o quarto dele “onde escrevia as suas rimas”, fazendo referência ao avô que escreveu os versos da música que se seguia: “Sangue”.
O espetáculo continuou com várias interpretações conhecidas pelo público, sempre acompanhas com instrumentais, diferentes do hip hop tradicional. Para além da voz de Sam The Kid, também se juntavam as “back vocals” de David Cruz e Amaura.
Foi com o clássico “O recado” de 2002, que a plateia acompanhou a letra com o artista, gritando sempre “tá-se bem”, em resposta ao rapper.
Seguiu-me um momento de muitas emoções quando o artista prestou uma homenagem ao seu amigo Beto Di Ghetto, que faleceu em 2017. Passaram imagens dos dois juntos na tela atrás da orquestra. Depois deste momento, o rapper pediu ao público para fazerem barulho, e foi assim que, de Gaia, chegou ao palco Mundo Segundo. Juntos relembraram que Mundo foi a primeira pessoa a trazer Sam ao Porto, e o gaiense está “orgulhoso” por isso. As duas vozes juntaram-se nas músicas “Gaia Chelas” e “Tu não sabes”, originais da dupla. O público aplaudiu em êxtase.
Seguiram-se mais dois clássicos do rapper: “Não percebes” de 2002, e “Retrospectiva de um Amor Profundo” de 2006, outras duas das músicas mais esperadas pelos fãs que acompanhavam as rimas com os braços e telemóveis no ar.
Sam the Kid apresentou a orquestra dirigida por Pedro Moreira e a sua banda de sempre os Orelha Negra, referindo que faz parte da mesma e disse “vamos ver do que são capazes”, seguindo-se um momento só com instrumentais e com um b-boy a dançar em palco. Mais uma vez, o espetáculo é caraterizado pela diferença e originalidade. Depois deste momento mais tranquilo, a plateia voltou a gritar com a entrada dos artistas Carlão e SP, que cantaram, em conjunto, “Negociantes”, como forma de homenagearem outro amigo de Sam, Snake, que faleceu em 2010.
Segue-se mais um clássico de Sam The Kid, “Sofia”, outra das músicas mais conhecidas do público que canta a letra em uníssono. Samuel volta a chamar Mundo Segundo ao palco e juntos cantam “Poetas de Karaoke”, um clássico do rapper. A plateia reagiu logo aos primeiros acordes com uma enorme ovação, mostrando, assim, que esta música é a mais conhecida da carreira do artista. Foi o momento mais vibrante da noite.
A música “Sendo Assim” fechou o concerto, com o artista sentado numa cadeira de escritório, fingindo que estava no seu quarto a escrever rimas numa máquina de escrever. Terminou assim o espetáculo com um agradecimento do artista “Obrigado Porto, foi uma honra”, ao que o público respondeu aos gritos “Sam The Kid!”, “Sam The kid!”, “Sam The Kid!”.
O espetáculo contou uma história: de Sam The Kid a reviver alguns dos momentos mais marcantes da carreira. Estiveram, a seu lado, além do pai, amigos que o rapper considera como irmãos; homenageou colegas que já não puderam partilhar o palco com ele; inovou com a presença da orquestra e de um b-boy; fez desfilar os seus temas mais conhecidos, numa viagem que terminou no presente com o seu tema mais recente. Não faltou ninguém a este concerto que conjugou a arte e a paixão pela arte de rimar.
Artigo editado por Filipa Silva