O segundo dia do World Scouting Congress, que decorreu no Porto esta terça e quarta-feira, começou com um pequeno atraso devido ao intenso trânsito que se fez sentir de manhã na Invicta, mas a boa energia não faltou no arranque.

João Ricardo Pateiro, um dos apresentadores de serviço e voz incontornável da rádio portuguesa, presenteou o público com as suas habituais cantigas e com histórias curiosas da carreira.

João Ricardo Pateiro foi um dos apresentadores de serviço.

João Ricardo Pateiro foi um dos apresentadores de serviço. Foto: Alexandre Matos

Depois de um primeiro dia que incluiu masterclasses e reuniões entre observadores e responsáveis de clubes, o programa virou-se para o debate de ideias ao longo da manhã de quarta-feira.

Uma das questões em foco no primeiro painel foi a estética do futebol praticado em Portugal. Sónia Carneiro, diretora executiva da Liga portuguesa, afirmou que a competição “faz um esforço para ser bonita”, mas a incapacidade para reter talento compromete o objetivo. Tendo isto em conta, diz, a eficácia acaba, em muitos casos, por se sobrepor à beleza do jogo.

Vitor Matos, responsável pelo desenvolvimento de talentos do Liverpool FC, realçou a importância das equipas secundárias no contexto da formação. Para o antigo adjunto da equipa B do FC Porto, estas afiguram-se como um “nicho de competitividade fantástica”.

Vítor Matos

Vítor Matos Foto: Alexandre Matos

Considerado por Jürgen Klopp como a contratação da época do Liverpool, o português defende que, para o desenvolvimento dos jovens talentos, é fundamental a experiência no contexto do futebol sénior, defrontando “equipas organizadas defensivamente” e com “padrões de jogo variados”.

José Gomes, ex-treinador do Reading e outro dos oradores do painel, destacou a importância de um enquadramento do jogador concordante com as suas características. Para o técnico é preponderante uma concordância entre as características do jogador e a ideia “de jogo do treinador que o está a orientar”.

No que diz respeito ao scouting em específico, tanto Vitor Matos como o técnico português defenderam que é necessário um estreitamento das relações entre a equipa de recrutamento e os donos dos clubes. José Gomes deu o exemplo do caso inglês, em que, com o aumento dos investidores estrangeiros, as recomendações dos scouts são cada vez menos tida em conta. Ambos afirmaram que neste momento é este o maior desafio a enfrentar.

A técnica distingue o jogador português

O terceiro e último painel da manhã estava repleto de caras conhecidas do futebol nacional. Ricardo Sá Pinto, treinador do SC Braga, Luís Freitas Lobo, comentador da Sport TV e Carlos Carneiro, diretor desportivo do FC Paços de Ferreira, foram os nomes que debateram o perfil do Jogador Português. A conversa prosseguiu num registo de informalidade entre os oradores.

Sá Pinto, Freitas Lobo e Carlos Carneiro discutiram o perfil do jogador português.Sá Pinto, Freitas Lobo e Carlos Carneiro discutiram o perfil do jogador português.

Na opinião de Luís Freitas Lobo, é possível identificar características do povo português, que são inerentes ao jogador. Este aspeto deriva da multiculturalidade, com raízes históricas, presente na seleção portuguesa. O comentador referiu mesmo que “talvez Portugal tenha sido a primeira seleção africana a brilhar no Campeonato do Mundo”, na década de 60.

Luís Freitas Lobo

Luís Freitas Lobo Foto: Alexandre Matos

De um modo geral, os três convidados concordaram que o jogador português se destaca pela técnica e pela irreverência. Neste sentido, Carlos Carneiro considera “que o jogador português, no seu estado mais puro, consegue sair de uma cabine telefónica a driblar”.

Os oradores centraram-se, posteriormente, nos jovens talentos nacionais e confrontaram as suas opiniões. Freitas Lobo, um romântico do futebol, diz que é imprescindível a criação “de um habitat de crescimento para os jovens” conseguirem alcançar a plenitude do seu potencial. Já o atual diretor desportivo dos castores, apontou alguns dos obstáculos para essa implementação. Deu o exemplo da tentativa de constituir uma equipa de sub-23, no Tondela, quando ainda desempenhava funções no clube. Tal não se concretizou devido à incapacidade financeira da instituição.

Ricardo Sá Pinto foi ao encontro das duas visões anteriores. Por um lado, concorda com a existência de um ambiente propício ao desenvolvimento do atleta, contudo, termina dizendo que “não há espaço para todos”.

Ricardo Sá Pinto

Ricardo Sá Pinto Foto: Alexandre Matos

Organizado pela QUEST – Sports Solutions, a quarta edição do World Scouting Congress reuniu no Porto Palácio Hotel & SPA, ao longo de dois dias, representantes de clubes, figuras do desporto e alguns dos maiores especialistas na área do scouting e do agenciamento do futebol mundial.

Artigo editado por Filipa Silva