Colunas, aspiradores, bicicletas, computadores e luzes de Natal; ferros de soldar, chaves de fendas, candeeiros, lupas, multímetros e muita vontade de reparar. Assim começou o segundo Repair Café da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), na última terça-feira, que o JPN esteve a acompanhar.

A iniciativa, uma das várias acolhidas pelo Comissariado para a Sustentabilidade da FEUP, pretende promover a economia circular, aumentando o ciclo de vida dos equipamentos arranjados de uma forma que envolve a comunidade.

O ambiente da oficina montada no Coffe Lounge é atarefado. Ouvem-se os testes aos aspiradores reparados e conversas paralelas sobre assuntos diversos. A luz é improvisada: há candeeiros espalhados pela sala e telemóveis com as lanternas ligadas para se ver melhor um ou outro pormenor. As mesas de café são agora bancadas de trabalho com malas de ferramenta robustas pousadas em cima.

Em cima das mesas, várias malas com ferramentas e material diverso pronto a ser usado nas reparações. Foto: Mariana Figueiredo

Ao centro, encontramos Filipe Bernardino a arranjar umas luzes de Natal. Descreve-se como “o apoio técnico” da iniciativa, enquanto aponta para o logo dos Crew na camisola que veste. “Os Crew são os Centros de Recuperação de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos”, fruto de uma parceria da Lipor com a European Recycling Platform, explica ao JPN.  Em minutos, as luzes ficaram a funcionar e “mesmo a tempo do Natal”, ouve-se alguém a dizer.

O técnico vai ajudando, aqui e ali, os voluntários que se inscreveram no Repair Café. São na sua maioria da área da engenharia, professores e alunos.

Luís Bernardino teve a missão de salvar o Natal de alguém, consertando as luzes do pinheiro. Foto: Mariana Figueiredo

Filipe Bernardino gosta de conversar com as pessoas enquanto procede às reparações e faz questão de as incluir pedindo-lhes para apertar um ou outro parafuso. Considera ser “muito importante mostrar à comunidade que é possível fazer reparações simples“.

O reparador dos Crew vai abrir a chaleira trazida por Sara Maheronnaglish, iraniana, estudante de doutoramento da FEUP, mas parece que não há muito a fazer. A resistência não está funcional e o plástico que a envolve está demasiado derretido. Resta a esperança de que as suas “peças boas” possam dar nova vida a uma chaleira que apareça mais à frente. “Fica para peças”, conclui.

Quando não é possível arranjar um equipamento, os Crew ficam com as peças funcionais, para as usarem noutros equipamentos semelhantes. Foto: Mariana Figueiredo

Sara Maheronnaglish veio acompanhada por Maria Inez Santos, brasileira, também estudante de doutoramento, que a vai ajudando com o português. Trouxeram, ainda, um aquecedor e, se houver reparação possível, ficará para a sala onde estudam que começa a ficar fria.

Numa outra mesa, está Elias Santos, estudante de engenharia eletrotécnica. Tem nas mãos uma coluna Bluetooth desmontada e vai proceder à soldagem das ligações. Mais ao fundo da sala, arranjam-se bicicletas e uns auriculares Bluetooth. A julgar pela amostra, o Bluetooth parece estar na moda.

À lupa, Elias Santos monta uma coluna Bluetooth. Foto: Mariana Figueiredo

Ana Carla Madeira, responsável pelo Comissariado para a Sustentabilidade da faculdade, vai orientando as operações. Recebe quem vai chegando com um largo sorriso e encaminha-os ao reparador voluntário disponível. Nesta edição, participam cinco. Novembro é sinónimo de testes e trabalhos para entregar, o que fez com que a participação dos estudantes como reparadores fosse menor que na edição anterior, explica ao JPN. Mas tudo flui e o trabalho é bem dividido entre todos.

Do nada, ouve-se Nirvana. “Smells Like Teen Spirit” foi a primeira música tocada pela coluna arranjada por Elias. A sala rejubila de cada vez que um equipamento se salva, enquanto se tiram fotografias com a plaquinha “Reparado”, feita de esferovite.

Nos Repair Cafés até o esferovite tem nova vida. Foto: Mariana Figueiredo

Os auriculares Bluetooth de Miguel Soares chegaram à oficina improvisada com mau contacto. Caberá a Luís Neto, que em pequeno desmontava brinquedos, pô-los a funcionar.

A espreitar por uma lupa e com a pinça na mão, Luís manuseia os cabos descarnados dos phones. Os seus movimentos são minuciosos, ou não se tratasse de material pequeno. Vai ter de os soldar melhor para que fiquem a funcionar corretamente.

Precisão é uma qualidade comum nos voluntários do Repair Café. Foto: Mariana Figueiredo

Nesta edição do Repair Café da FEUP, participaram 20 pessoas com 17 objetos avariados. Dez deles ficaram reparados e dois com o problema diagnosticado para reparação futura. As peças boas foram doadas aos Crew para poderem dar nova vida a outros equipamentos.

O próximo Repair Café está marcado para este sábado (dia 23), na Casa D’Artes do Bonfim (Associação O Meu Lugar no Mundo).

Editado por Filipa Silva

Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online