A direção da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) convocou para esta quinta-feira uma reunião com a professora Teresa Cierco Gomes, docente do Departamento de História e Estudos Políticos e Internacionais, na sequência de notícias que colocam a docente sob suspeita de plágio num conjunto de artigos científicos. A docente já admitiu falta de rigor, mas nega intenção de plagiar outros autores.

Ao JPN, a diretora da instituição, Fernanda Ribeiro, que está “fora do país”, diz ter conhecimento da notícia avançada em Portugal pelo Observador, mas não prestará “quaisquer declarações” antes de falar com a docente visada, amanhã.

O alarme foi dado pelo Retraction Watch (RW), um blogue que se dedica a reportar artigos científicos retratados. A plataforma fez as contas e avançou que a docente portuguesa, especialista em política internacional da região dos Balcãs, tem pelo menos “cinco artigos retratados por plágio”, tendo três destas retratações ocorrido este ano. Os trabalhos sob o radar da RW são, quase todos, de 2013 e 2014.

A retratação pode ocorrer por várias razões, quase sempre associadas ao desrespeito pelas normas de conduta e/ou de escrita científicas.

Nos artigos citados pelo RW, um justifica a retratação porque “o artigo usa descuidadamente partes de diversas fontes sem o método apropriado de citação”; noutro artigo, publicado na “European Foreign Affairs Review”, a revista diz ter recebido provas de “uma séria falta de rigor académico pelo autor”; e num terceiro caso, no “Jounal of Contemporary European Studies”, a nota de retratação indica que “foi concluído que o artigo contém passagens significativas de material não atribuído, bem como material que parafraseia fontes com pequenas alterações sem as identificar como tal”.

Ao RW como ao Observador, Teresa Cierco Gomes prestou declarações admitindo erros, mas negando qualquer intenção de plágio: “não estava a pôr aspas nos locais corretos. Estava a colocar as referências no final dos parágrafos, mas devia tê-los colocado ao longo do texto. Isso é considerado plágio por alguns editores. Outros consideram que fui ingénua”, afirmou a docente ao RW. Para concluir: “nunca pensei que estivesse a plagiar. E quando descobri que isto podia ser considerado plágio tentei corrigir”, disse ao mesmo órgão. Ao Observador admitiu também: “Não tive o rigor académico que é exigido a um professor”.

Contactada pelo JPN, a doutorada em Ciência Política e Relações Internacionais não quis fazer mais comentários: “Já dei as justificações. Fui sincera, fui honesta, não há mais nada a dizer”, afirmou.

A professora, que dá aulas na Universidade do Porto desde 2013, assume contudo que vai ter de esclarecer estes casos: “vou ter de responder a essas questões, mas em sede própria“.

O caso pode motivar a abertura de um procedimento disciplinar pela Comissão de Ética da Universidade do Porto, que o JPN tentou, sem sucesso, contactar.

Dougherty, o “caçador” de plágios

Na origem da maioria destas retratações está Michael Dougherty, um professor de Filosofia norte-americano, que dá aulas na Ohio Dominican University, e que se dedica a questões relacionadas com a integridade académica.

Em resposta a algumas questões colocadas por escrito pelo JPN, Dougherty conta como se envolveu neste caso: “No início deste ano reparei que um jornal publicou uma correção esquisita que me pareceu mais um eufemismo para plágio”, diz. Na sequência da correção, procurou mais artigos em língua inglesa da docente portuguesa.

O professor norte-americano decidiu, então, pôr os seus estudantes, inscritos num curso de Investigação e Escrita Críticas, a analisar um capítulo de uma publicação coordenada por Cierco Gomes. “Descobrimos que quase todas as páginas continham texto que aparentemente foi usado sem dar o crédito devido a outros autores. No âmbito do projeto, identificámos as fontes e pedimos ao editor para fazer uma retratação”, escreve o professor.

Até ao momento, analisei 13 artigos e pedi retratações para eles”, informou ainda o docente, que além da suspeita de plágio, faz alegações mais sérias relacionadas com a recolha de dados qualitativos obtidos por entrevista. Cierco negou ao RW que tenha falseado declarações.

Sobre a falta de rigor assumida pela professora da FLUP, o professor norte-americano diz que é “bom” que a autora “confirme que os seus artigos são defeituosos”, mas a questão da intenção considera-a “irrelevante”. “As publicações são prejudiciais para estudantes e investigadores, por isso precisam de ser retratadas”, concluiu.