O Porto tem cerca de 8 mil imóveis afetos ao Alojamento Local, de acordo com os dados do Registo Nacional de Turismo. A Rua do Pinheiro mudou muito à conta do fenómeno, mas alguns permaneceram.
São quase tantas as malas como as pessoas na Rua do Pinheiro. As casas parecem antigas, mas as portas que se abrem para deixar os turistas entrar mostram o contrário.
Prédio sim, prédio não, a placa de Alojamento Local é uma tendência.
Uma das exceções é o edifício de Maria Ferreira, nascida e criada no Pinheiro. “Fomos criados todos aqui na rua, um ambiente muito bom. Era praticamente uma ilha, onde toda a gente se conhecia. Em crianças, brincávamos uns com os outros, a jogar à sameira, enfim, aquelas brincadeiras que hoje em dia não há”, conta ao JPN.
Há 51 anos na mesma casa, já viu quase todos os vizinhos de infância a partir, uns porque faleceram, outros porque foram obrigados.
“Metade dos habitantes da cidade do Porto tiveram de ir para outros sítios próximos daqui, mas não é nada como antigamente. Agora é tudo turistas. A gente vai a qualquer lado, é tudo turistas. Tínhamos uma série de coisas que agora não temos: nem sapateiros, nem drogarias. O que a gente tinha aqui, agora não tem”, afirma a residente.
Ali o único estabelecimento resistente à mudança dos tempos é uma loja de encadernação. O negócio de família de José Oliveira.
“Também nos queriam tirar daqui para fora, mas não conseguiram. Metemos o processo na câmara [do Porto], a pedir [o registo como] loja histórica e conseguimos. Portanto, durante estes quatro anos, eles não nos podem pegar, senão também já tínhamos ido”, sentencia José Oliveira.
Quem não sai também é Maximino Canhola, habitante da Rua do Pinheiro há 15 anos. Não partilha das mesmas preocupações de José, porque é dono do prédio onde vive, mas mesmo assim tem saudades do antigamente.
“Eu vou à caixa do correio se quiser e vou-lhe mostrar a quantidade de papéis que tenho aqui. Todos os dias batem à porta e perguntam: ‘Não quer vender a casa?’ E eu respondo: ‘Não, já está vendida’. E eles: ‘Já está vendida?’. E eu digo: ‘sim, fui eu que comprei’. Mas muita gente vem cá com a intenção de comprar. Anda tudo maluco. Os turistas a mim não me incomodam, mas reconheço que me sentia bem com os velhinhos que moravam aqui antes”, diz.
Na cidade do Porto existem cerca de 8 mil alojamentos locais. Só em 2019, foram licenciados mais de 1.500. E o som das obras ao fim da rua, indicam que os números vão continuar a crescer.
Esta reportagem foi realizada no âmbito da disciplina de AIJ Rádio – 3º ano