É já esta terça-feira, dia 17 de dezembro, que a Sala Suggia, uma das mais conceituadas salas de espetáculo da Invicta, recebe Tiago Bettencourt. O cantor e compositor estreia na Casa da Música, com um quê de novidade e uma pitada de nostalgia.

O concerto tem algumas singularidades, não só por incluir a estreia de músicas como “Manhã” e “Trégua” em terras portuenses, mas também pela associação a uma causa solidária. Desta vez, os fãs do cantautor puderam optar pela compra de um bilhete com direito a meet and great, com o dinheiro angariado a ser doado na totalidade à Mansarda – uma organização que tem como missão ajudar artistas em situações precárias.

Em conversa com o JPN, o intérprete explicou que escolheu a Mansarda por defender e valorizar profissionais das artes à semelhança da “Casa do Artista”. O cantor aproveitou ainda para sublinhar que a arte e quem a produz são pouco valorizados em Portugal: “É só olhar lá para fora e vermos o conforto com que grande parte dos artistas envelhece e a falta de conforto com que a grande parte artistas cá em Portugal envelhece, e por isso, é uma coisa um bocado triste, mas vivemos no país em que vivemos”.

“Os meus extremos vão sempre existir, vai haver sempre um rock mais punk e vai sempre haver uma balada daquelas quase paradas”

Em outubro, chegou às plataformas digitais o seu último single “Trégua” – um teaser do novo álbum, que será lançado em 2020 -, um tema que o músico admite ter um “registo próprio”. Até porque, diz, sempre procurou produzir coisas diferentes e que acrescentassem algo de novo ao seu reportório. “Espero que seja sempre um passo em frente”, conclui.

Sobre o concerto desta terça-feira, Tiago Bettecourt adianta que vai ter “um alinhamento abrangente” do que vem fazendo: “os meus extremos vão sempre existir, vai haver sempre um rock mais punk e vai sempre haver uma balada daquelas quase paradas”, descreve.

Aprender a “brilhar” sozinho

Há mais de uma década que Tiago Bettencourt se aventurou no mundo da música a solo, depois de ter integrado os Toranja, e já com a popularidade considerável que a banda detinha, o desafio foi “brilhar” sozinho. Aproximadamente 13 anos depois de embarcar nesta “aventura”, continua a cativar o público com novas músicas e espetáculos.

Quanto ao seu processo criativo, o artista caracteriza-o como “livre”, não se obrigando a compor. Partilha ainda que procura inspiração no seu quotidiano: ”dou muito valor ao período de observação, ao período em que eu estou só a viver a minha vida, estou a ir a exposições, estou a ver filmes, estou a fazer aquilo que gosto, a ler os livros que gosto, estou metido noutros projetos e, por isso, respeito muito esse tempo”, diz ao JPN.

“Eu acho que o público está a ficar cada vez mais exigente em relação aos artistas”

Com as redes sociais, o público passou a ter ferramentas que permitem uma maior aproximação aos artistas, conhecer e “ver mais de perto” o seu dia à dia. Em função disso, criam-se expectativas: “Eu acho que o público está a ficar cada vez mais exigente em relação aos artistas”, opina Tiago Bettencourt.

Por sua parte, o músico tenta manter algum distanciamento: “eu acho que as pessoas respeitam um bocado também essa distância que eu crio, esse mistério que eu crio um bocado à minha volta, ninguém sabe nada sobre a minha vida pessoal”, sublinha.

Uma pessoa emotiva e não o robot que repete sempre as mesmas músicas, falas e piadas, é o que o público pode esperar do artista: “Não, não sou capaz de fazer isso, não sou capaz de fazer letras ‘Eu gosto de ti, tu gostas de mim’… Acho que o público merece um bocado mais do que isso”, reflete.

Acho que tenho o meu papel na música e vou tentando mantê-lo, respeitando-me a mim próprio, e à música que acho que é uma coisa que está a pedir mais respeito do que lhe está a ser dado”, acrescenta.

Em relação a planos futuros, o artista afirma que o tempo tem sido escasso, pois tem dedicado grande parte dos seus dias aos concertos. De momento, o foco está na gravação do novo disco e na programação dos próximos dois/três anos, de forma a perceber o que pode e vai fazer.

Deixa ainda em aberto a possibilidade de fazer alguns projetos mais diversificados e espontâneos: ”como uma coisa muito engraçada que eu fiz no Festival Impulso, nas Caldas da Rainha, com a Surma e com o Tomara, um projeto que me deu muito prazer, por isso, nunca se sabe quando esse tipo de projetos acontecem. Há sempre a possibilidade de surgir qualquer coisa nova”.

Tiago Bettencourt leva a “Manhã” à Casa da Música esta terça-feira à noite, num espetáculo que promete ser simples e autêntico e que já não tem lugares disponíveis.

Artigo editado por Filipa Silva