Num dia em que a Livraria Lello, no Porto, se encheu de personagens do imaginário literário, a festa dos 114 anos incluiu a inauguração de diversas exposições, nesta segunda-feira (13). A administração fez, ainda, um balanço dos últimos cinco anos, apontando aumentos a vários níveis, multiplicou por 10 o número de visitantes e por 12 os livros vendidos. Tal como tem vindo a acontecer, a livraria abriu as portas aos visitantes (gratuitamente) no dia do seu aniversário.

Em conferência para imprensa, à margem das atividades promovidas na casa mãe da Livraria Lello, na Rua das Carmelitas no Porto, a direção fez um balanço dos cinco anos decorridos desde a implementação do bilhete de entrada. A Lello conseguiu, neste período, 10 vezes mais visitantes e vender 12 vezes mais livros.

Segundo a administração, antes disso, a Lello era vista como um ponto turístico da cidade, deixando de lado a sua função primordial de vender livros. A título de exemplo, o negócio livreiro passou, em cinco anos, de 60 mil para 700 mil livros vendidos, por ano. Hoje, são 1.900 os livros que ali se vendem todos os dias. Em 2019, a livraria registou um milhão e 200 mil visitantes.

Dar um ‘Novo Canto’ aos ‘Lusíadas’

Quanto aos projetos futuros, a Lello fez uma aposta na iniciativa que intitulou de “Novo Canto”. Este último traduz-se num volume em branco dos “Lusíadas” que vai ser reescrito, à mão, por diversas personalidades, dos diversos lugares por onde o poeta português Luís Vaz de Camões passou, há quase meio milénio. Assim, o “Novo Canto” vai navegar durante dois anos, nas mãos do escritor Afonso Reis Cabral (prémio Leya 2014 e prémio José Saramago 2019), por lugares como Goa, Macau, Vietname ou Moçambique.

“Vamos produzir um volume em branco, convidando 1.102 pessoas para transcreverem cada uma das 1.102 estrofes dos Lusíadas”, explicou o escritor durante a conferência, caraterizando o projeto como “megalómano”. Os participantes, exemplificou, podem ser “escritores, jornalistas, dirigentes sociais, artistas, futebolistas ou pessoas insuspeitas e que tenham uma história interessante para contar”.

Para receber o “Novo Canto” dos “Lusíadas” foi inaugurada uma nova exposição, “X Cantos”, no “Espaço Vozes Vivas”, na cave da livraria. “Lusitana”, “despedida”, “glória” ou “fortuna” são algumas das palavras-chave que preenchem as paredes da exposição.

Algumas personagens do imaginário português "acordaram" para receber os visitantes.

Por outro lado, o manuscrito da obra “Amor de Perdição” é mais uma aposta da livraria para 2020. Deste modo, o livro vai voltar para terras portuenses, onde foi escrito por Camilo Castelo Branco na antiga Cadeia da Relação (atual Centro Português de Fotografia), vindo do Rio de Janeiro, no Brasil. O documento está, atualmente, no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro.

Durante as atividades de celebração, houve ainda tempo para degustar a escultura “A doçura dos livros”, que também era bolo de aniversário, projetada por Pedro Cabrita Reis, numa parceria com Serralves.

As portas da Lello estão abertas ao público de forma gratuita até às 19h00.

Artigo editado por Filipa Silva