Após soprar 30 velas, no ano passado, e depois de um ano recorde no número de visitantes, a Fundação de Serralves, no Porto, apresentou, nesta quinta-feira (16), a programação para este ano. Com o diretor do Museu de Serralves, Philippe Vergne, a cumprir o primeiro ano na direção da programação, a aposta vai para a inauguração de exposições de artistas estrangeiros, em estreia nacional.
1. Yoko Ono e “O Jardim-escola da Liberdade”, de abril a outubro
É para já o grande destaque da programação antecipada esta quinta-feira. Yoko Ono terá a sua primeira grande apresentação em Portugal com “O Jardim-escola da Liberdade”, a inaugurar em abril. A mostra da artista de 83 anos, conhecida pelo lendário relacionamento com o ex-Beatle John Lennon, vai incluir “objetos, obras em papel, instalações, performances, gravações em áudio e filmes, além de materiais de arquivo raramente vistos”.
Para Philippe Vergne, o trabalho que Yoko Ono vai apresentar, no Museu de Serralves, “é uma forma de olhar para o mundo”. “É o chapéu sob o qual gostaria de situar este programa: esta ideia de aprender, já que somos, ao mesmo tempo, uma instituição educacional; e a ideia de liberdade, porque acredito, profundamente, que os museus são lugares de liberdade”, rematou o atual diretor daquela instituição.
O tema central da mostra, como o de toda a produção da artista, é o de “compromisso com uma liberdade perturbadora”. Esse mesmo espírito de liberdade permitiu a Yoko Ono abordar questões do seu tempo: guerra, violência, abusos políticos e domésticos, alterações climáticas e crises de refugiados.
Não há ainda certezas sobre se a artista e performer virá a Portugal. A exposição é organizada em colaboração com Studio One, de Nove Iorque.
2. Jafa e “Uma série de interpretações absolutamente improváveis, ainda assim extraordinárias”, de fevereiro a junho
A primeira exposição do ano abre a 20 de fevereiro e conta com o trabalho de Arthur Jafa, que tinha já passado pelo Porto no âmbito do Forum do Futuro. Segundo o programa, “Uma série de interpretações absolutamente improváveis, ainda assim extraordinárias”, em estreia nacional, pretende explorar a “ausência de liberdade” da comunidade afro-americana.
A exposição mistura o cinema com a fotografia e a música. Haverá também uma programação paralela à exposição, relacionada com artes performativas. Esse programa paralelo vai contar com a artista e performer Nora Chipaumire e com a artista de jazz Angel Bat Dawid & The Brothahood.
Como explica o programa, Arthur Jafa colaborou com a fotógrafa Ming Smith, a artista plástica Frida Orupabo e inclui material do canal de YouTube de Missylanyus a fim de “construir em som e imagem uma experiência que seja ao mesmo tempo politicamente refletiva e visionária”.
O artista, que explora as questões histórico-raciais dos Estados Unidos, venceu o Leão de Ouro para a melhor participação na Exposição Internacional da Bienal de Veneza de 2019.
3. Louise Bougeois e “Desenvencilhar um Tormento”, de outubro a abril
“Dispensa apresentações”, começou por explicar o diretor do Museu de Serralves. Philippe Vergne salientou o trabalho de Louise Bougeois que Serralves vai receber entre outubro e julho de 2021.
A exposição apresentará um grupo de quase 30 obras, esculturas nunca vistas em Portugal. A artista atravessa, no trabalho, o surrealismo, o minimalismo e a política de identidade. Esta vai ser uma oportunidade para se revisitarem 50 anos do trabalho de Louise Bougeois.
Em parceria entre o Museu e o Parque de Serralves, esta exposição vai inaugurar, no Parque, as obras monumentais “Maman” e “Spider Couple”, duas colossais esculturas de aranhas da artista.
4. “Miró e a Poesia”, outono
A apresentar no outono, na Casa de Serralves, a exposição “Miró e a Poesia”, com base na Coleção Joan Miró (pertencente ao Estado Português e atualmente em depósito na Fundação de Serralves), debruça-se sobre a relação do artista catalão com a linguagem.
Tendo a poesia e o mundo literário como centro, a mostra pretende explorar a “fronteira entre aquilo que se vê e aquilo que se pode ler”, como consta no programa.
A Coleção Miró vai continuar a servir como motivo de estudo, conservação e divulgação para a Fundação de Serralves.
5. “Projetos contemporâneos de Realidade Virtual e Realidade Aumentada”, de janeiro a maio
É em parceria com a Acute Art que o Museu vai reunir vários artistas internacionais, novos meios e tecnologia com o intuito de produzir e exibir “trabalhos artísticos envolventes e inovadores em Realidade Virtual, Realidade Aumentada e mixed-reality“, segundo o programa.
A Acute Art é dirigida por Daniel Birnbaum e leva a Serralves, entre janeiro e maio, obras de nomes como Marina Abramovi, Nathalie Djuberg & Hans Berg, Olafur Eliasson, Anish Kapoor, Antony Gormley, entre outros. O Museu de Serralves já contou, anteriormente, com obras de Anish Kapoor e de Olafur Eliasson, que este ano regressam.
As exposições de realidade virtual e de realidade aumentada vão ter lugar na Galeria Contemporânea e no Parque, respetivamente.
6. Exposição permanente “Manoel de Oliveira”, todo o ano
Na exposição, que vai ter lugar durante todo o ano na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, são abordadas duas perspetivas do cinema do realizador: o cinema e a fotografia, como explicou durante a apresentação o diretor da Casa, António Preto.
“Além da exposição permanente, onde se proporcionam, de uma forma interativa e dinâmica, olhares permanentemente renovados sobre a obra de Manoel de Oliveira, a Casa do Cinema apresentará igualmente três exposições temporárias centradas no vídeo, na fotografia e nas contaminações entre o cinema, a televisão e os meios de difusão em massa”, segundo a programação apresentada.
Para Serralves, o programa de atividades para 2020 vem reforçar a aposta da instituição na promoção da arte cinematográfica.
7. “Há Luz no Parque”, verão
A contar a sexta edição, o “Há Luz no Parque” pretende mostrar ao público o ecossistema daquele espaço à noite. Numa dinâmica noturna, o Parque convida, nos meses de verão, os visitantes a “experienciar desafios ambientais e culturais desafiadores”, refere o programa.
Num jogo de luz, Serralves vai promover visitas orientadas ao Parque para evidenciar o ecossistema criado entre o plano natural e o plano artístico daquele espaço.
8. Grandes eventos no Parque de Serralves
E, claro, não foram esquecidos eventos icónicos e já conhecidos dos portuenses e não só, como são exemplos o Serralves em Festa, a Festa do Outono e o Bioblitz.
A realizar entre os dias 5 e 7 de junho, o Serralves em Festa vai já na sua 17ª edição e propõe-se, mais uma vez, como um “espaço inclusivo da arte contemporânea e da cultura”. É o maior evento da cultura contemporânea no país e em 2019 bateu o recorde de visitantes, perfazendo um total de 265 mil.
Já a Festa do Outono vai na 12ª edição e cria um ambiente, no Parque, que marca a chegada da estação celebrando os saberes e os fazeres de cariz rural. O evento prima por celebrar a biodiversidade e a natureza através do conhecimento ancestral, num convívio ao ar livre. A sensibilização para práticas e modos de estar mais sustentáveis é, igualmente, uma das preocupações. Durante os dias 26 e 27 de setembro, o público é convidado a participar em diversos workshops, interagir com animais e assistir a espetáculos de diversas áreas.
Por fim, o Bioblitz continua a sua parceria com as escolas e o impulso de Serralves na área educativa. Constituindo-se como um evento científico, procura sensibilizar crianças para o Ambiente e a Biodiversidade, com o mote de dar a conhecer a fauna e a flora. A sétima edição vai ter lugar entre 23 e 29 de março e propõe-se a mostrar os segredos do Parque de Serralves. Do evento vão fazer parte atividades como oficinas científicas e pedagógicas, saídas de campo com investigadores especializados, jogos temáticos e atividades em autonomia.
Mais de um milhão de pessoas em 2019
O número de visitantes de Serralves mais do que duplicou, em 2019, atingindo uma marca de um milhão e 74 mil visitantes, nunca antes conseguida.
Já o número de visitantes estrangeiros também aumentou, em 31%, somando um total de mais de 360 mil pessoas a visitar o espaço.
Na sessão de imprensa estiveram presentes a presidente da Fundação de Serralves, Ana Pinho, e os diretores das diversas áreas: Philippe Vergne, diretor do Museu, António Preto, diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, e António Gouveia, diretor do Parque de Serralves.
Artigo editado por Filipa Silva