A onda ambientalista gerada, há precisamente cinco anos, pela cobrança de 0,10 cêntimos por saco de plástico revolucionou os hábitos de consumo em Portugal. Atualmente, a sustentabilidade já é uma realidade bem aceite pelas famílias portuguesas. Este sábado (15) assinala o dia em que se começaram a ter que pagar os sacos de plástico nas grandes superfícies comerciais, em Portugal.

Pedro Lago, diretor de sustentabilidade e economia circular da Sonae MC, acredita que a alteração de 2015 foi o início de uma “revolução nos hábitos de consumo das pessoas”. “Na altura, existiu um decréscimo muito significativo do consumo dos sacos, na casa dos 90%”, afirma.

Se até 2015 ir fazer as compras da semana implicava voltar para casa com uma dúzia de sacos de uso único, atualmente, basta um ou dois reutilizáveis para transportar o necessário. Contudo, esta mudança não aconteceu porque os portugueses deixaram de fazer tantas compras. Aconteceu porque os consumidores passaram a ser, segundo Pedro Lago, mais conscientes na forma como utilizam os sacos: “no sentido de optarem por soluções de reutilização”, assegura o diretor.

“Há cinco anos atrás, praticamente ninguém utilizava sacos reutilizáveis. O normal era chegar ao hipermercado e pedir sacos e muitas pessoas até pediam a mais para depois pôr o lixo lá em casa”, sustenta o dirigente relembrando os hábitos de consumo antes da implementação da lei. .

Todavia, afirma que o consumidor já se moldou às necessidades dos novos tempos. “Atualmente, toda a gente anda com um, dois ou três sacos reutilizáveis na bolsa ou no carro para quando vai às compras. Isso enraizou-se nos hábitos dos portugueses”, constata. 

Novas leis já no próximo ano

A 15 de fevereiro de 2015, todos os sacos que pesavam menos de 50 microcragamas – os chamados sacos leves – passaram a ter uma taxa de 0,10 cêntimos. Porém, com o tempo este movimento sustentável acabou por se alargar também aos sacos ultra-leves, utilizados para, por exemplo, fruta, legumes e padaria.

A partir do dia 1 de junho de 2023, todos os estabelecimentos comerciais que vendem pão, fruta e legumes vão ficar impedidos de vender sacos de plástico ultraleves. Além disso, já no próximo ano, vão ter de ser excluídos dos supermercados os produtos plásticos de utilização única.

Famoso desde os anos 70

Introduzido na vida dos consumidores nos anos 70, o saco de plástico passou já pelo seu período de glória. A sua existência é hoje ameaçada (ou assim se pretende) em prol de um planeta mais sustentável. 

A opinião dos clientes de supermercado é unânime: o plástico é o inimigo comum de todos aqueles que lutam por um mundo melhor. Nesse sentido, levar um saco reutilizável para as compras parece ter-se tornado já um hábito universal. 

Elísio Soares, de 88 anos, confirma ao JPN que a mudança nos supermercados foi muito eficaz. “Normalmente, quando as leis saem, requer sempre um bocado de reticência e, na altura, pensei ‘isto é capaz de melhorar’ e foi o que aconteceu”. Hoje em dia, não prescinde do saco reutilizável que, diz, anda sempre consigo. 

O mesmo acontece com o jovem Filipe Regadas, na casa dos 20 anos, que afirma: “O plástico só ajuda a destruir o ambiente, então se nós conseguirmos evitar isso, acho que [usar sacos reutilizáveis] é uma boa solução. Eu, pessoalmente, com quanto menos sacos andar atrás de mim, melhor”. “Se tiver de levar alguma coisa na mão, levo. Temos de pensar num futuro, porque o plástico demora muito a degradar-se”, acrescenta.

Contudo, o jovem acredita que nem toda a gente pensa assim e, como tal, taxar os hábitos menos sustentáveis pode ser uma boa opção. “Eu suponho que, mexendo com o bolso das pessoas, se começa a ver uma atitude”, sustenta. 

Maria Ferreira, de 74 anos, admite que, havendo um hábito, se torna difícil desacostumar. Mas afirma, convicta, que “tudo o que não há, se escusa”. “Vamo-nos habituando. Eu ainda sou do tempo em que se usava papel para tudo”, constata. “Se nós voltarmos ao mesmo, ninguém morre. Eu também não morri, portanto, não é agora que vou morrer”, acrescenta.

Quando questionada sobre o motivo que a leva a fazer escolhas mais sustentáveis, esclarece que ambiciona “um futuro melhor para a juventude de hoje que já está toda contaminada. Nós também estamos, mas nós já estamos no fim, a juventude ainda não”.

Não obstante, se nas grandes superfícies a mudança é notória, já nos pequenos negócios o processo faz-se a um passo ainda lento. Aí, os donos não são obrigados a cobrar os tais 0,10 cêntimos pelo saco.

Luísa Pereira é dona de uma mercearia na Lapa, no Porto, há quase 25 anos. Diz apoiar a lei a 100% e que planeia pô-la em prática no seu estabelecimento já que “assim, as pessoas sentem-se mais obrigadas a trazer o saco”. 

Esclarece que 30 a 40% dos clientes traz um saco de casa. Contudo, ainda oferece o saco de plástico quando lhe pedem. “Às vezes ou porque o cliente é vizinho ou porque leva o saco e depois volta a trazer, facilita-se um pouco. As grandes superfícies levam isso mais à risca”, admite a comerciante.

Por outro lado, começam já a existir mercearias onde o saco de plástico é pago. Verónica Cheve abriu um estabelecimento no centro do Porto há cinco meses. Optou por cobrar os sacos, mas acredita que os seus clientes ainda não fazem escolhas sustentáveis. Isto porque, segundo a lojista, o consumidor não compra o saco de plástico leve, mas, em vez disso, utiliza muitos mais sacos ultra-leves (da fruta e legumes), cujo consumo diz ter aumentado “consideravelmente (para o triplo)”.

Verónica Cheve acredita que a população está desconectada do motivo real da lei: “os clientes estão mais preocupados com o valor que está a ser pago e não param para pensar que estão a utilizar muito mais plástico que antes”.

Na verdade, aquilo que torna o plástico tão único é também o que faz dele o arqui-inimigo do ambiente: a durabilidade. Se, por um lado, a resistência atrai quando pretendemos utilizar muitas vezes o produto, por outro, a sua presença no ambiente é nefasta. Em Portugal, caminha-se já para um futuro mais sustentável, mas os ambientalistas acreditam ainda haver muito por fazer

Artigo editado por Filipa Silva.