A maioria dos médicos é a favor da legalização da eutanásia, mas a fatia dos que se mostram dispostos a praticá-la num doente revela-se bem menor (37%). Os dados são de um estudo do diretor do serviço de cuidados paliativos do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto), José Ferraz Gonçalves.

O mesmo estudo revela ainda que seis dos profissionais, que responderam anonimamente, assumiram já ter praticado eutanásia e outros dois suicídio assistido.

Os dados foram recolhidos a partir de um inquérito que, inicialmente, se destinava a todos os médicos do país, mas que acabou por se cingir ao Norte por falta de participação dos profissionais de outras regiões. O estudo não é, portanto, representativo da realidade nacional.

Dos 1.146 inquiridos, mais de metade (51%) mostraram-se a favor da legalização da eutanásia. Já 32% são contra essa prática e 17% não tinha uma opinião definitiva.

O autor do estudo, José Ferraz Gonçalves, opõe-se à despenalização da eutanásia e defende, em declarações ao JPN, que existem “respostas mais positivas ao sofrimento, e mais de acordo com os interesses do doente, do que terminarem com a vida de quem sofre”.

O oncologista acrescenta ainda que são os profissionais mais novos e os “mais afastados da realidade e dos problemas” que estão mais a favor da morte assistida.

Foi em Junho de 2018 que Ferraz Gonçalves, com a colaboração da atual direção da Ordem dos Médicos, publicou o inquérito no site daquela entidade, “ainda que não muito visível”. Segundo o autor, “só na Secção Regional do Norte é que de facto se fez alguma coisa ativamente e operacionalmente” para incentivar a participação.

Esta não foi a primeira vez que o profissional de saúde desenvolveu um estudo sobre a legalização da eutanásia. Em 2007, uma investigação semelhante serviu-lhe de base à tese de mestrado em Bioética e os resultados foram inversos aos atuais. Dos 450 oncologistas inquiridos, 42,3% admitiram ser contra a eutanásia; 38,7% a favor; e 19% não tinham opinião definitiva.

Artigo editado por Filipa Silva.