Morreu esta quinta-feira, aos 71 anos, o escritor e ensaísta Pedro Baptista, deputado municipal independente e comissário geral das comemorações dos 200 anos da Revolução Liberal do Porto. O falecimento aconteceu no dia em que o próprio estaria na inauguração da exposição “1820.Revolução Liberal no Porto“, que marca o arranque do programa comemorativo. A notícia foi avançada pelo “Jornal de Notícias”, e entretanto confirmada pela Câmara Municipal do Porto (CMP), que já reagiu à notícia.

A autarquia refere que o escritor faleceu “repentinamente”, o que corrobora a informação do “JN” de que Pedro Baptista terá sido vítima de doença súbita, esta madrugada, em casa, no Porto.

O município sublinha, no seu site, o percurso do escritor, “marcado pelo grande contributo cívico e político ao serviço da cidade, que sempre elevou em todos os planos e palcos por onde passou”. Refere, ainda, que, “ao longo do seu trajeto político”, Pedro Baptista se distinguiu “pela liberdade de pensamento, não temendo rótulos”.

Nascido na antiga freguesia de Nevogilde, no Porto, em 1948, Pedro Baptista foi dirigente estudantil de 1968 a 1971 e cofundador da publicação “O Grito do Povo”, em 1971, junto de nomes como José Manuel Penafort de Campos, Francisco Morais e Rui Ramos Loza.

Antifascista, foi preso político e deportado para Angola em 1973. Entre 1995 e 1999, foi deputado socialista à Assembleia da República, eleito pelo Porto.

Na Assembleia Municipal do Porto cumpria o terceiro mandato como deputado municipal. Representava, neste mandato, o movimento independente de Rui Moreira.

Licenciado e doutorado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Pedro Baptista foi investigador-coordenador no Instituto de Filosofia desta Faculdade e investigador-colaborador no Centro de Estudos do Pensamento Português da Universidade Católica.

A CMP confirma que vai manter a inauguração da exposição, na Casa do Infante, às 18h00, como “forma de homenagear o deputado Pedro Baptista”. Para esta sexta-feira, foi decretado um dia de luto municipal.

“Acho que lhe falhou, na vida, o dia de hoje”

Manuela Matos Monteiro, diretora das Galerias MIRA, foi colega de Pedro Baptista na licenciatura em Filosofia, no final dos anos 60. A galerista conta ao JPN que foram “as ideias contra a ditadura vigente” naquela época que a aproximaram do escritor. “Nós éramos muito ativos em todos os movimentos estudantis à época e, designadamente, na própria faculdade. Aquelas interações foram muito intensas na altura”, explica.

Uma época da qual recorda Pedro Baptista como tendo “uma hiper energia” que, muitas vezes, desembocava “numa certa agressividade”. “Isso era uma característica da sua personalidade – esse ímpeto. Era muita energia que ele colocava em todas as coisas”, sublinha.

Ainda no período da faculdade – e porque divergiam do ponto de vista político -, acabaram por se afastar, mantendo, contudo, uma relação de amizade.

A última vez que Manuela Matos Monteiro se cruzou com Pedro Baptista foi na inauguração do Museu da Cidade, no passado dia 13 de fevereiro. Encontrou-o “radiante” e “com um ar completamente feliz”. Um estado de espírito que atribuiu ao facto de o deputado municipal estar a comissariar as comemorações do bicentenário da Revolução Liberal do Porto, que Manuela Matos Monteiro interpreta como “um momento alto da vida” de Pedro Baptista e uma “consagração pública”.

“Acho que lhe falhou, na vida, o dia de hoje [quinta-feira, dia em que as comemorações terão o seu arranque]. No dia em que haveria esse reconhecimento, ele morre – o que não deixa de ser irónico”, remata.

As cerimónias fúnebres de Pedro Baptista estão marcadas para esta sexta-feira, às 17 horas, na Casa Eugénio de Andrade, na Foz.

Artigo atualizado às 17h16 com as declarações de Manuela Matos Monteiro.

Artigo atualizado às 18h18 com a informação sobre as cerimónias fúnebres.

Artigo editado por Filipa Silva