Nascido já nos anos 2000, o belga Remco Evenepoel conquistou, este domingo, aos 20 anos, a 46.ª Volta ao Algarve de forma inequívoca. O ciclista da Quickstep provou ser um dos mais promissores ciclistas da atualidade e mostrou que um grande contrarrelogista também pode estar confortável na montanha.

Em conversa com o JPN antes do arranque da prova, José Carlos Gomes, da Comissão de Organização da Volta ao Algarve, já tinha avisado para o talento de Evenepoel, ainda que reforçando que o pelotão desta edição da Volta ao Algarve se tratava de um dos mais fortes de sempre em estradas portuguesas.

Na altura, disse José Carlos Gomes, a dúvida seria perceber se os tempos conseguidos na montanha dariam a Evenepoel margem para recuperar e vencer no contrarrelógio. O que aconteceu foi uma demonstração de força da parte do atleta belga, que além de ter vencido o contrarrelógio, ficou em segundo lugar na classificação de montanha.

Luta pelo segundo lugar

A vantagem sobre o segundo classificado com que Remco Evenpoel terminou a prova foi confortável (38 segundos). O alemão Miximilian Schachmann (Bora-hansgrohe) garantiu o segundo lugar com apenas um segundo de vantagem sobre o colombiano Miguel Angel López (Astana), que venceu no Alto do Malhão e fechou o pódio da geral.

Num pelotão recheado de estrelas, Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), Geraint Thomas e Kwiatkowski (ambos da INEOS), atletas já com pergaminhos nas provas internacionais, acabaram por ficar fora do top-10. O que pode ser explicado pelo facto de os ciclistas ainda estarem a ganhar ritmo para as provas mais importantes.

No que diz respeito à representação nacional, Rui Costa (UAE Emirates) foi o melhor classificado. O ciclista português mais conceituado, apesar de ter feito um bom contrarrelógio, acabou por falhar o pódio por 17 segundos, ficando no quarto posto. Já Amaro Antunes, ciclista da W52-FC Porto, cumpriu as expectativas e conseguiu um lugar no top-10 (10.º classificado).

Evenepoel, o ciclista que podia ter sido futebolista

Antes de descobrir a paixão pelo ciclismo, Remco Evenepoel (Flandres, 2000) já tinha tentado a sua sorte no mundo do futebol. Apesar de não se ter saído propriamente mal num desporto mais mediático, o belga decidiu trocar a bola pela bicicleta.

Enquanto futebolista, Remco Evenepoel representou o Anderlecht (Bélgica) e o PSV Eindhoven (Holanda), duas das melhores academias da Europa; e ainda foi internacional nas camadas jovens da seleção belga.

Um olhar sobre o futuro

Mas foi no ciclismo que se evidenciou e depois de um percurso nas camadas jovens belgas recheado de êxitos, Remco Evenepoel viu a Quickstep antecipar-se e garantir a sua contratação em 2019. A Volta ao Algarve é uma das primeiras grandes conquistas do ciclista que só é profissional desde o ano passado.

“Evenepoel pode vir a ser melhor que eu. Este rapaz faz tudo”, afirma Eddie Merckx, tido como um dos melhores ciclistas de sempre. Remco Evenepoel tem provado, desde 2017 – altura em que competia nos campeonatos júniores – um talento ao qual muitos já se renderam. Foi campeão do mundo de júniores nas categorias de estrada e de contrarrelógio em 2018 e, já em 2019 como profissional, chegou ao Algarve já com a Volta a San Juan (Argentina) no bolso.

A ainda curta carreira de Remco Evenepoel tem sido recheada de sucesso e deixa água na boca aos seguidores da modalidade. Apesar de ainda ser cedo, as indicações dadas por Evenepoel trazem sinais de que podemos estar na presença de uma grande figura do ciclismo da sua geração.

Eddie Merckx, a quem Evenepoel é sistematicamente comparado pela imprensa belga, antecipa uma boa prestação na estreia do atleta em grandes voltas, o que deve acontecer no Giro de Irália: “Não vejo porque é que ele [Remco Evenpoel] não seria capaz de aguentar uma corrida de três semanas. Se pode competir pela vitória na Volta a Itália? Perguntem-me depois da competição”, disse Eddie Merckx em entrevista à Cyclingnews.

Evenepoel vai competir pela primeira vez numa grande volta este ano, na Volta a Itália. Em entrevista à Velonews, o jovem belga garante que tem “tempo para estar preparado” e revela a relação que mantém com o sucesso, mas também com o fracasso: “Eu apenas tenho objetivos que quero atingir. Se não o conseguir fazer, tenho de ser honesto comigo mesmo. Se fizer tudo para atingir os meus objetivos e falhar, tenho de aceitar, mas, se não fizer tudo, tenho de saber e ser honesto comigo próprio. É muito importante conhecermo-nos a nós próprios”, rematou Remco Evenepoel.

Artigo editado por Filipa Silva