O crescente uso de substâncias psicoativas entre crianças e adolescentes por todo o mundo é uma das grandes preocupações enunciadas pela agência de drogas da Organização das Nações Unidas (ONU). O relatório anual do International Narcotics Control Board (INCB) foi publicado na passada quinta-feira (27) e dá conta do aumento.

Uma das principais conclusões do relatório divulgado pela ONU é “a conexão entre o uso de álcool e tabaco e o consumo de substâncias psicoativas, como canábis, opiáceos e cocaína, por adolescentes e jovens.” 

O relatório anual do INCB destaca que “o uso de álcool e tabaco por crianças e adolescentes está intimamente ligado ao início do consumo de substâncias psicoativas”, já que, frequentemente, o uso de álcool e tabaco precede o uso de canábis e outras substâncias controladas

Segundo o relatório, vários estudos demonstraram que quanto mais cedo se iniciar o consumo de álcool, tabaco e canábis – sendo os 16 e os 19 anos a faixa etária mais frequente -, mais provável é o consumo posterior de substâncias “mais pesadas” na idade adulta, como é o exemplo a cocaína.  

O consumo de substâncias psicoativas tem um enorme impacto físico, emocional e social nos jovens entre os 15 e os 24 anos. Através da pesquisa percebeu-se que os jovens são o grupo mais “vulnerável ao uso habitual de drogas”. “A necessidade de prevenção e tratamento para crianças e adolescentes deva levar em consideração as influências individuais e ambientais sobre os jovens e seu desenvolvimento”, alerta o documento. 

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) – cujas conclusões do relatório mundial sobre drogas estão patentes no documento que a ONU agora divulga – estima que, em 2016, o consumo de canábis afetou 13.8 milhões de indivíduos, o que representa 5,6% dos jovens entre 15 e 16 anos a nível mundial. A Europa é o continente com a maior taxa de consumo de canábis (13,9%), seguida pela América (11,9%), Oceânia (11,4%), África (6,6%) e Ásia (2,7%). 

O presidente do INCB, Cornelis P. de Joncheere, confirma no relatório que “das substâncias controladas internacionalmente, a canábis continua a desempenhar o papel mais importante entre adolescentes e adultos“. Cornelis P. de Joncheere mostra-se preocupado com os países que mudaram as leis com o objetivo de descriminalizar o uso de substâncias controladas – por exemplo, a canábis -, para usos não médicos, como é o caso de Portugal, “contrariando as disposições e suas obrigações sob os tratados de controlo de drogas.” 

O relatório dá ainda conta das “injustiças relacionadas com a disponibilidade de medicamentos controlados”, uma vez que em alguns países há uma prescrição excessiva enquanto noutros o acesso é limitado. Por esta razão, o documento apela aos governos para “que respeitem os direitos humanos na implementação de políticas de drogas e em conformidade com as três convenções internacionais de controlo de drogas”.

Segundo as normas internacionais do UNODC-OMS (Organização Munidal de Saúde), os programas de prevenção ao uso de drogas em crianças e adolescentes devem focar-se nas “relações familiares e parentais, incentivar o envolvimento positivo na vida das crianças” e incrementar uma comunicação mais eficaz, “incluindo a definição de regras e limites”. 

No documento, a ONU recomenda uma aplicação rígida de regulamentos que limitem o acesso a medicamentos com qualidades psicoativas e uma redução da acessibilidade ao tabaco, álcool e canábis. Além disso, é reforçada a necessidade de haver um cuidado maior em abordagens específicas para o tratamento de adolescentes que consumam substâncias psicoativas.  

Artigo editado por Filipa Silva.