A África Oriental enfrenta a praga de gafanhotos-do-deserto mais forte dos últimos 25 anos. O surto pode ter consequências graves numa região onde 27,5 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar, e mais de 35 milhões estão em risco de estar nessa posição. A Comissão Europeia (CE) anunciou, na última quinta-feira, a concessão de mais de 10 milhões de euros para o combate da praga.

No comunicado da CE, Jutta Urpilainen, comissária responsável pelas Parcerias Internacionais, destaca a “fragilidade dos sistemas alimentares” da região e aponta uma solução centrada na “sustentabilidade”. “Temos de reforçar a capacidade de resposta coletiva a estas ameaças, mas também temos a responsabilidade de intervir de imediato com determinação para evitar uma crise grave, combater as causas profundas desta catástrofe natural e proteger os meios de subsistência e a produção alimentar”, refere Jutta Urpilainen.

Os 10 milhões de euros concedidos pela UE complementam o milhão de euros dos fundos humanitários já disponibilizado. Até à data, 29,4 milhões de euros da UE e dos parceiros internacionais foram destinados a ajudar no combate. No entanto, o plano de resposta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla inglesa) requer um investimento de cerca de 120 milhões de euros nas ações mais urgentes: a vigilância e o controlo da propagação da espécie, bem como a proteção e recuperação dos meios de subsistência agrícolas.

De acordo com o comunicado da CE, o tempo urge e estamos perante uma breve oportunidade para conter a praga do gafanhoto-do-deserto e proteger os meios de subsistência das populações.

Porque é que esta praga é tão grave?

A praga do gafanhoto-do-deserto tem um grande impacto negativo na agricultura, levando à perda de culturas e alimentos, logo, dos meios de subsistência das populações afetadas. O gafanhoto-do-deserto é considerado, ao nível mundial, a praga de espécies migratórias mais destrutiva.

Quando surgiu a praga?

Depois de causarem grande prejuízo no Paquistão, Iémen e Omã, os gafanhotos invadiram a África Oriental no seguimento das fortes chuvas de dezembro de 2019.

O que causou este surto? O aquecimento global está relacionado com a praga?

Há quem relacione o surto com uma das dez pragas do Egipto, enunciadas na Bíblia. Contudo, e porque se trata de um acontecimento suportado por evidências científicas, a origem da praga dos gafanhotos-do-deserto pode assentar nas alterações climáticas. Segundo António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, “o aumento da temperatura dos oceanos favorece a criação de furacões, que atraíram os insetos a África desde o Médio Oriente”.

Como está a situação agora?

Em março dá-se início a uma longa época de chuvas, que favorece uma nova vaga reprodutiva da espécie – o que irá contribuir para uma maior propagação na região. Deste modo, há um mês que a situação na África Oriental se tem agravado.

Quais são as regiões afetadas pela praga?

Foram relatados prejuízos nas agriculturas do Quénia, Etiópia e Somália, os três países mais afetados pela praga. Estima-se que as perdas de culturas se possam alastrar rapidamente a outros países vizinhos – como o Jibuti, a Eritreia, o Sudão do Sul, a Tanzânia e o Uganda. O Iémen, o Sudão, o Irão, a Índia e o Paquistão estão também em risco.

Este gráfico disponibilizado pela FAO mostra as áreas mais afetadas pela praga.

Como é que se vai combater esta praga de gafanhotos?

Segundo o “Jornal de Notícias”, a estratégia a adotar depois das ajudas económicas requeridas pela FAO passa por “usar pequenos aviões e helicópteros para pulverizar o território com pesticida”. Na região asiática também afetada pela praga, o Paquistão – que declarou emergência nacional no início deste mês – o plano inclui usar 100 mil patos oferecidos pela China.

Artigo editado por Filipa Silva