A Universidade do Porto (UP) anunciou, esta terça-feira (10), que vai manter a sua atividade regular. E informa, também, que os estudantes residentes em Felgueiras e Lousada podem retomar as suas atividades letivas e profissionais, revogando a recomendação emitida na segunda-feira (9) que pedia precisamente o contrário.

No comunicado divulgado na página da instituição, a UP refere que, ouvidas as autoridades de saúde locais e nacionais, “não há razões de saúde pública que justifiquem, à data, a suspensão de atividades ou o encerramento de instalações das Universidades” devido ao novo coronavírus. A instituição sublinha, ainda, que “permanecerá atenta” à evolução do surto, “nomeadamente às orientações que vierem a ser tomadas na reunião do Conselho Nacional de Saúde Pública“, agendada para amanhã, quarta-feira (11).

Da reunião do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) desta terça-feira, resultou a deliberação de que “até ao momento não há razões de saúde pública que justifiquem o encerramento de instalações das instituições universitárias, à semelhança do que acontece com a generalidade dos setores de atividade em Portugal”.

“Atendendo a que até agora somente foram encerradas, por indicação das autoridades competentes, Escolas/edifícios onde foram identificados casos positivos de coronavírus, o CRUP irá aguardar a decisão que decorra da reunião entre o Governo e o Conselho Nacional de Saúde Pública, agendada para amanhã, dia 11 de março”, pode ler-se no comunicado daquela entidade.

Na UP, a suspensão das aulas permanece circunscrita apenas à Faculdade de Medicina (FMUP), ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e à Faculdade de Farmácia (FFUP). No caso do complexo ICBAS/FFUP, as instalações partilhadas estão mesmo encerradas desde sábado (7), depois de uma estudante do segundo ano de Farmácia ter testado positivo para o novo coronavírus. Na FMUP, a medida é de precaução, estando apenas suspensas, desde esta segunda-feira e por tempo indeterminado, as atividades letivas do Mestrado Integrado em Medicina. As aulas dos restantes mestrados e doutoramentos desta faculdade mantêm-se.

Algumas faculdades da UP estão, contudo, a pedir aos estudantes que evitem a deslocação aos serviços de gestão académica – que em alguns casos estão já a funcionar de forma condicionada – e que privilegiem a comunicação através do telefone e correio eletrónico.

As universidades de Coimbra (UC), Lisboa (UL) e do Minho (UM), suspenderam todas as suas aulas devido ao surto do novo coronavírus – responsável pela doença COVID-19 – e adotaram, também, outras medidas de contingência. A Coimbra Business School é a mais recente instituição pública a suspender, igualmente, todas as suas atividades letivas.

No caso da Universidade Nova de Lisboa (UNL), as aulas não foram ainda suspensas, falando-se, antes, numa substituição progressiva das mesmas por trabalhos e conteúdos e-learning. Já a Universidade da Beira Interior (UBI) optou por suspender todas as atividades desportivas, culturais e de lazer que decorram nas suas instalações.

Na UM, a suspensão das atividades letivas de toda a instituição entrou em vigor esta terça-feira, depois de um despacho assinado pelo reitor. Eventos e atividades desportivas ficam igualmente suspensos, assim como “reuniões de júris de concursos e de provas académicas (mestrado, doutoramento, agregação e título de especialista)” e “conferências, seminários, cerimónias e eventos de natureza similar”.

A UM estipulou, ainda, o encerramento das cantinas e bares. Fecham, do mesmo modo, as “áreas de atendimento presencial a utentes”. As medidas – enquadradas numa posição da Universidade em contribuir “ativamente para a prevenção e o controlo da COVID-19” – advêm do “agravamento da situação sanitária na região norte do país nas horas recentes” e da necessidade de “atenuar o quadro de grande instabilidade que afeta a vida” da instituição.

Os edifícios 1​, 2, 3 e 15 do campus de Gualtar, em Braga, já tinham sido encerrados no sábado (7), depois da confirmação de que um estudante está infetado com o novo coronavírus.

Na Universidade de Coimbra, para além da suspensão de todas as aulas, anunciada esta segunda-feira, ficam “suspensos e adiados todos os eventos científicos, culturais e desportivos” e “as atividades em bibliotecas e salas de estudo”. As aulas serão substituídas por “métodos digitais” que permitam “um estudo à distância”, explica a instituição, adiantando que os mesmos serão desenvolvidos nos próximos dias. A UC determinou, ainda, a transição das cantinas para um “serviço de take-away exclusivo, evitando a abertura dos espaços comuns”.

Na Universidade de Lisboa, os “instrumentos de ensino à distância” afiguram-se, à semelhança de Coimbra, como a alternativa face à suspensão das aulas. Além disso, e segundo anunciou a instituição em comunicado também na segunda-feira, “as atividades físicas e desportivas, realizadas nas instalações do Estádio Universitário e das Escolas” ficam suspensas, “nomeadamente as que decorram em recintos fechados, ou mantidas com restrições”. São algumas das medidas avançadas pela UL para a “contenção da propagação do vírus” causador da doença COVID-19, e que se aplicam nas próximas duas semanas.

Por sua vez, a Universidade Nova de Lisboa, ainda que não tenha suspendido as aulas em definitivo – prevendo, por enquanto, o início da sua substituição por “trabalhos” -, definiu um conjunto de outras medidas de contingência. Entre elas, está a suspensão de reuniões científicas públicas, que deve ser feita “sempre que possível”. No entanto, em reuniões com mais de 50 elementos e participantes do estrangeiro a indicação já é outra: “devem ser absolutamente suprimidas”. As medidas da UNL foram também anunciadas nesta segunda-feira.

Nos comunicados das universidades do Minho, Coimbra e Lisboa (incluindo a UNL), o teletrabalho é mencionado como uma opção a ser incentivada e privilegiada.

Na Universidade da Beira Interior, a suspensão das atividades desportivas, culturais e de lazer foi anunciada esta terça-feira – dia a partir do qual tem o seu início, estendendo-se até 13 de abril. Por essa altura, será feita “uma nova avaliação, relativamente a atividades agendadas para data posterior”, explica a instituição. A UBI informa ainda que “não são autorizadas deslocações em serviço” para os países afetados pela doença COVID-19. E pede, também, “aos professores, investigadores, técnicos e estudantes oriundos de regiões em que as instituições de ensino superior ou laboratórios de investigação tenham sido encerrados” que se submetam a um período de contenção profiláctica de 14 dias.

Já a Coimbra Business School, também conhecida por Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC), avançou mesmo com a suspensão de todas as suas atividades letivas. A decisão da instituição surge também esta terça-feira, “considerando a vertiginosa evolução da infeção pelo novo coronavírus” em “vários locais do país”. A escola pública aproveitou, ainda, para “reiterar a decisão, já tomada, de adiamento ou suspensão, de todos os demais eventos científicos, culturais e desportivos”.

Escolas médicas sem aulas desde ontem

Esta segunda-feira, o Conselho Nacional de Escolas Médicas recomendou às oito escolas médicas do país – que envolvem, no total, cerca de 9 mil estudantes – que suspendessem as aulas presenciais e encerrassem os espaços usados pelos estudantes durante duas semanas.

Sobre a suspensão das aulas do Mestrado Integrado em Medicina da FMUP, fonte oficial da UP ouvida esta segunda-feira pelo JPN refere a “gestão de recursos” do Hospital de São João como um dos motivos para a decisão. “A direção do hospital proibiu que os médicos que lá fazem serviço continuem a dar aulas para se dedicarem totalmente à questão clínica e proibiu que os estudantes de medicina frequentassem o hospital, por isso, não há condições para dar aulas”, garantiu.

O presidente da Associação de Estudantes da FMUP (AEFMUP), Nuno Ferreira, aponta noutro sentido, alertando para o facto dos profissionais de saúde serem “uma grande força de trabalho do Serviço Nacional de Saúde”. Como tal, “devem evitar ao máximo correr riscos e um deles será, naturalmente, lecionar aulas para dezenas, às vezes, centenas de estudantes”, referiu.

Contudo, reforça, a AEFMUP está “a trabalhar, juntamente com a direção da faculdade, para tentar encontrar alternativas que façam com que os estudantes, neste caso, saiam o menos prejudicados possível”. 

Nuno Ferreira refere a transição para o digital como uma possível solução: “muitas aulas, em particular as aulas teóricas [em que não é necessário o contacto com o doente], poderiam ser dadas em streaming ou até mesmo em formato de vídeo”, sugere. 

Perante a decisão da direção da faculdade, o presidente fala em nome dos estudantes de medicina: “Sentimos uma responsabilidade acrescida, enquanto futuros médicos, de estarmos ao lado da direção da faculdade e do Hospital de São João na contenção daquela que pode ser uma epidemia com graves efeitos para o nosso país”, finaliza.

IESF e ESTG-IPP fecham portas

Também a Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU), a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico do Porto (ESTG-IPP) e o Instituto de Estudos Superiores de Fafe (IESF) suspenderam, esta segunda-feira (9), as atividades letivas devido ao novo coronavírus. No caso da ESTG-IPP e do IESF, as instalações foram mesmo encerradas. Todos os casos resultam de uma medida de precaução.

Na CESPU, que tem atividade em Gandra e Famalicão, a situação vai ser reavaliada no dia 20 de março, de forma a perceber se há condições para retomar as aulas. 

A juntar-se à CESPU, outras instituições privadas suspenderam toda a sua atividade letiva: o Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE) Douro, sediado em Penafiel, e a Universidade Lusíada – Norte.

Por seu turno, no Politécnico do Porto, a Escola Superior de Música e Artes de Espetáculo (ESMAE) está encerrada desde a passada quinta-feira (5), depois de um professor ter sido diagnosticado com o vírus causador da doença COVID-19.

Segundo a última atualização feita pela Direção-Geral da Saúde (DGS) ao final da manhã desta terça-feira, há 41 casos confirmados de infeção com o novo coronavírus e 375 casos suspeitos registados pela DGS.

Artigo editado por Filipa Silva.

Este artigo integra uma edição especial preparada sob a coordenação editorial de Pedro Rios aquando da sua passagem pela redação do JPN como Editor por um Dia.