Na maioria dos países do mundo, a informação não é um bem escasso. Contudo, a ausência de liberdade para poder informar os outros começa, na maior parte das vezes, nas redações. O JPN esteve à conversa com a vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas, Isabel Nery, que aponta a questão económica como uma das grandes condicionantes à liberdade de informação.

A falta de dinheiro conduz à diminuição dos salários dos jornalistas, ao mesmo tempo que a precaridade aumenta. A liberdade de informação é um bem essencial à democracia. Em Portugal, a imprensa é livre de informar os cidadãos sobre os assuntos da atualidade que são relevantes para a vida pública. Porém, os problemas associados à difusão da informação nem sempre são notórios.

Isabel Nery conta que “a questão económica é um problema cada vez mais grave. Por um lado, os jornalistas ganham cada vez pior, por outro lado, a precaridade também aumenta”. A insegurança, que é empolada pelos baixos salários, vai afetar a qualidade do trabalho do jornalista, reflete.

Segundo a mesma fonte, atualmente, a falta de capital leva a que o jornalista permaneça durante grande parte do tempo na redação. O jornalista passa então a produzir todo o trabalho através do telefone em vez de sair à rua e procurar contacto direto com as fontes. “O dinheiro para as despesas é muito reduzido, portanto estás logo a reduzir a qualidade do trabalho, no sentido em que não vais aos sítios, não ouves tantas pessoas e, portanto, a diversidade de fontes também fica posta em causa”, explica Isabel Nery.

Consequentemente, a missão do jornalista de “dar voz aos que não têm voz” é comprometida ao dar todo o tempo de antena “a quem já tem poder”, completa. Independentemente da empresa que o contrata, o jornalista tem que conseguir transmitir o conhecimento de forma isenta e independente ao leitor.

Porém, se há uns anos atrás, em tempos de ditadura, não havia espaço para dúvidas sobre o que se podia, ou não, fazer, hoje em dia “os caminhos são um pouco tortuosos e muito indiretos”. A censura está disfarçada no jornalismo, mas acaba sempre por ter um impacto nas informações que o jornalista pode ou não difundir, elucida Isabel Nery.

“Neste momento vão várias coisas muito intrincadas que não são visíveis ao exterior e, muitas vezes, nem são visíveis ao próprio jornalista; se a chefia te manda fazer um determinado trabalho tu nem sabes que, se calhar, ela recebeu um telefonema a dizer que aquilo devia ser feito. Portanto, tu estás a fazê-lo de forma inocente”, acrescenta.

A vice-presidente do Sindicado dos Jornalistas relembra ainda que, para além de existirem as interferências discretas no conteúdo transmitido ao leitor, existem interferências descaradas, como é o caso da publicidade e do marketing.

O consumismo leva a que estejamos “sempre a afunilar, sempre a falar dos mesmos, a falar das mesmas coisas. Não mostramos outras realidades, outras perspetivas. Este tipo de coisas leva-nos a uma unanimidade, que não é necessariamente boa. Não é isso que cria coesão social”, relembra.

Isabel Nery explica que as redações estão atulhadas de todo o tipo de informação, o que leva a que pareça que os jornalistas são “todos muito cultos, muito conhecedores de tudo e mais alguma coisa, mas não necessariamente”. Ao estar exposto a esta abundância de informações, o jornalista não pode simplesmente aceitar o que lhe é transmitido sem desmontar e analisar todos os factos: “a informação é o primeiro passo para o conhecimento, mas não é conhecimento sozinho”, afirma.  

Saber ler e escrever já não é suficiente. É extremamente necessário ter pensamento crítico para conseguir tirar conclusões sobre determinado assunto, insiste a jornalista. O problema surge quando se cai no facilitismo e se aceita qualquer informação. Atualmente, os jornalistas aceitam, sem qualquer problema, as informações que vêm nos press releases que lhes são enviados, explica Nery.

“É um facilitismo que nos pode sair muito caro. Não quer dizer que a informação que vem no press release esteja errada, mas ao fazer isso não se está a confirmar, não se está a ser jornalista de verdade”, sublinha a vice-presidente.

Isabel Nery expõe que outra forma de limitar a liberdade de informação é não permitir que os jornalistas façam perguntas nas conferências de imprensa. “O jornalista não é uma fotocopiadora, não é um megafone, não é um microfone. Não se pode chamar conferência de imprensa a uma coisa que não permite perguntas. O jornalista não está lá para ser reprodutor do que as pessoas dizem”, defende.

Consequentemente, o papel do jornalista é cada vez mais limitado pelas próprias fontes. “Uma das coisas que carateriza o jornalista é poder ir diretamente à fonte. E hoje, de facto, em termos institucionais é praticamente impossível”, sendo quase sempre necessário passar por um assessor ou representante, explica a vice-presidente. “É difícil teres a certeza que aquela pessoa está a ser genuína, verdadeira e a dizer exatamente o que pensa se é preparada por não sei quantos assessores”, acrescenta.

Contudo, a vice-presidente diz compreender que “a sociedade também se precisa de defender em relação ao jornalismo. O jornalismo tornou-se muito agressivo”. Nesse sentido, Isabel Nery conclui que a exposição mediática pode destacar uma vida ou até mesmo estragar uma carreira se for mal feita e, desta forma, percebe que certas pessoas necessitam de ajuda profissional para prevenir estas situações.

E a liberdade de informação no mundo?

Apesar de estar escrito no Artigo 19º na Declaração Universal dos Direitos Humanos que “todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão”, nem sempre isso se verifica.

Segundo o Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2019, apenas 15 de 180 países se encontram numa boa situação relativamente à liberdade de imprensa. Portugal ocupa o 12.º lugar no ranking.

O topo da tabela é dominado pela Noruega (1º), Finlândia (2º) e Suécia (3º). No extremo oposto, estão 18 países cuja situação é caracterizada como grave. Nesse sentido, os três últimos lugares são ocupados pela Eritreia (178º), em África, pela Coreia do Norte (179º) e pelo Turquemenistão (180º), na Ásia.

O ranking tem como objetivo analisar a situação da liberdade de informação nos 180 países assinalados. Como parâmetros de avaliação estão: a apreciação do pluralismo, da independência dos meios de comunicação, da qualidade e do quadro legislativo e da segurança dos jornalistas.

Segundo o ranking elaborado pelos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a região Asiática e a região Africana são as mais afetadas por falta de liberdade de informação.

Artigo editado por Filipa Silva.