O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, comunicou esta terça-feira (24) o que muitos classificavam já como inevitável: a intenção de adiar os Jogos Olímpicos de Tóquio previstos para o verão deste ano.

A decisão foi comunicada ao presidente do Comité Olímpico Internacional (COI) e “Thomas Bach concordou a 100 por cento”, informou o governante aos jornalistas.

Num comunicado conjunto, o COI e o Comité Paraolímpico definiram o adiamento por um ano, “mas não mais tarde do que o verão de 2021“. O adiamento serve, dizem, para “salvaguardar a saúde dos atletas e de todos os envolvidos na organização dos Jogos”.

A tocha olímpica vai permanecer no país nipónico e vai manter-se o nome de Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Tóquio 2020.

Apesar de ser o primeiro adiamento de uns Jogos Olímpicos, já por três vezes a competição foi cancelada. Aconteceu nos anos de 1916, 1940 e 1944 devido às duas Grandes Guerras Mundiais.

Face à decisão de adiar a competição, do atletismo ao judo, da canoagem ao ténis, várias organizações, federações, clubes e atletas reagiram à notícia.

O presidente da Agência Mundial Antidopagem (APA), o polaco Witold Banka, lembrou que “a saúde e a segurança dos atletas continuam a ser a prioridade número um da AMA e da comunidade antidoping e, claro, que a decisão certa foi tomada com base nessa situação desafiante e sem precedentes”.

O Comité Olímpico de Portugal (COP) considera que a decisão traz “tranquilidade a atletas e organizações desportivas“. À agência Lusa, o líder do COP, José Manuel Constantino, refere que o anúncio é especialmente tranquilizador para atletas e organizações de países “com fortes limitações ao treino e preparação”, manifestando-se na linha do que tinha defendido em declarações ao JPN esta semana.

Também à Lusa, o chefe da Missão portuguesa aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 disse que a decisão do COI e do Governo japonês “acompanharam a preocupação da maior parte dos países manifestada nos últimos dias”.

Marco Alves quer agora perceber “o reajuste dos processos de qualificação”, de modo a que “todos aqueles que garantiram a presença a possam ver novamente confirmada”. O chefe da Missão garantiu ainda que “não está em causa a manutenção dos apoios aos atletas” integrados no projeto olímpico do COP.

O apoio aos atletas olímpicos foi reafirmado pelo Governo português. O secretário de Estado da Juventude e do Desporto disse à agência de nptícias portugueaa que os atletas da missão olímpica e da missão paraolímpica podem estar descansados: “há a vontade de continuarmos a fazer o que estávamos a fazer, que era dar as melhores condições a todos, para termos uma representação que nos orgulhe nos Jogos“. João Paulo Rebelo admite contudo que “há incertezas nos termos em que serão avaliadas e colocadas as questões no novo cenário”.

Ao nível dos clubes, o SL Benfica, pela voz de Ana Oliveira, diretora do Benfica Olímpico, considera que finalmente fez-se “luz” e que apesar da espera “um pouco prolongada”, foi tomada “a melhor decisão”. Uma das preocupações da diretora é agora criar locais “seguros” de preparação para o altas manterem-se ativos. Ao nível dos processos de apuramento, Ana Oliveira sugere “um período zero” entre fevereiro de 2020 e 2021 e espera agora pela decisão em relação aos Europeus de atletismo agendados para agosto em Paris.

Do outro lado da Segunda Circular, Paulo Malico de Sousa, coordenador do Gabinete Olímpico do Sporting CP, vê a decisão como a “que melhor defende os interesses dos atletas, treinadores e de todos os agentes envolvidos neste processo” e que “em primeiro lugar está a segurança” que, “neste momento, não está garantida”.

No atletismo, para o presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), Jorge Vieira, esta também foi “uma boa decisão, embora atrasada”. À Lusa, o presidente da FPA entende que “deve ter sido difícil tomar esta decisão”, mas que “devemos elogiá-la, até porque a esmagadora maioria do mundo do desporto já clamava por este desfecho”.

A World Athletics (antiga IAAF), em comunicado, “congratula-se com a decisão”, pois “é o que os atletas querem e acreditamos que essa decisão dará a todos os atletas, oficiais técnicos e voluntários um pouco de descanso e segurança numa situação sem precedentes e tão incerta”. A organização está “pronta para trabalhar com o COI e com todas as outras modalidades numa data alternativa” e que já discute com o comité organizador dos Mundiais de Atletismo de Oregon em 2022 de forma a arranjar novas datas.

Entre os atletas, João Vieira acha “que é a atitude mais sensata que poderiam ter tido” e “que todos os desportistas deste mundo estavam a contar com este adiamento”. O marchador sabe que não será fácil para si “competir ao mais alto nível com 44 anos”[idade que terá em 2021], mas “que vai ter de ser”. O medalha de prata nos últimos Mundiais de Atletismo diz ainda entender que o COI “teve as suas razões para demorar a decidir”.

Nos saltadores, Nelson Évora, que ainda não tinha conseguido mínimos, escreveu nas redes sociais que em “2021 lá estaremos com o mesmo objetivo”. Também nas redes sociais, Patrícia Mamona registou que “o sonho olímpico continua vivo” e que, apesar de ser uma “decisão triste” é “necessária”.

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#Tokyo2021 The Olympic dream still alive🔥Sad but a necessary decision by the IOC to safeguard not only the athletes, but the human lives around world. We together on this! Safety and wellness of everyone first! I can’t wait to be back on track, fully ready and prepared to compete once again with the best athletes in the world! Now its time to beat this 🤜🏾🦠🤛🏾 ( Swipe left to see one my Rio2016 jumps ) #Tokyo2021 O sonho olímpico continua vivo. Uma decisão triste mas necessária do COI não apenas para proteção dos atletas, mas de todas as pessoas. Estamos juntos nisto! Segurança e bem-estar de todos em primeiro lugar! Mal posso esperar para estar de volta às pistas, totalmente pronta e preparada para competir uma vez mais com os melhores atletas do mundo! Agora é hora de vencer este patife 🤜🏾🦠🤛🏾 #olympics #tokyo2021 #athlete #jumper #triplejump #athlete #stayhome #staysafe

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Também a fundista Sara Moreira, ainda sem mínimos para competir em Tóquio, escreveu na rede social Instagram que “prevaleceu o bom senso” e que “enquanto pessoa e atleta foi a melhor decisão” porque “a saúde está em primeiro lugar e os sonhos não acabaram apenas foram adiados”.

Seguindo para a canoagem, o presidente da Federação Portuguesa de Canoagem (FPC), Victor Félix, também apoia a decisão, mas adverte que “há algumas preocupações que as federações têm de ter a partir de agora”, como a mudança dos planos de preparação dos atletas, que “terão com os seus treinadores de procurar a melhor preparação para mais 12 meses e encontrar a sua própria motivação” e sendo que “alguns já têm 30 ou mais anos”, este é outro motivo de preocupação para Victor Félix. O financiamento da preparação dos atletas por mais meses deve, segundo o presidente da FPC, ser “acautelada pelo COI” e pela própria “tutela portuguesa”. Relativamente às novas formas de apuramento, “dentro das quotas que ainda estão em falta, devem ser encontradas novas datas e novas formas”, disse o dirigente.

Para Fernando Pimenta, foi tomada uma posição “muito acertada” e que “dentro da tempestade, foi um bom sinal para nós, atletas”, um “sinal de que vamos ter Jogos Olímpicos”. Ainda assim, o canoísta refere que “se tivermos uma paragem muito prolongada, na próxima época vai ser muito, muito difícil atingir uma boa forma”.

No Futebol, “a família da FIFA defende que a saúde e o bem-estar de todas as pessoas ligadas ao desporto devem ser a prioridade mais elevada, por isso consideramos bem-vinda a decisão de hoje [ontem] do COI”. A organização estuda agora a possibilidade de alargar a idade máxima para competir na competição até aos 24 anos, para não penalizar os jogadores.

Para o campeão do mundo de judo na categoria de -100 Kg (título conquistado em Tóquio no ano passado), Jorge Fonseca não escondeu que, como atleta, “estava focado em Tóquio 2020”, mas que “a nova realidade que este ano nos trouxe tem sempre de pôr em primeiro lugar a saúde de todos nós”. Para o judoca, é mais importante deixar o objetivo de participar nos Jogos Olímpicos Tóquio2020 “no horizonte do próximo ano” e “estabilizar” o presente, de forma a que todos consigam alcançar os seus sonhos “num futuro saudável e seguro”.

Nas suas redes sociais, Telma Monteiro comentou que “embora saiba que é um desafio”, ficou “feliz que a data dos Jogos Olímpicos tenha sido alterada. Porque agora honestamente não era possível pensar nos Jogos Olímpicos, agora está a acontecer algo maior do que isso”. A judoca espera por isso “uma festa ainda maior, ainda mais bonita” e “ainda mais significativa” naqueles que serão os seus últimos Jogos.

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Os Jogos Olímpicos são o sonho de qualquer atleta, o ponto alto de qualquer carreira. Toda a preparação dos últimos anos – como sempre em cada ciclo olímpico – foi feita a pensar nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, os meus últimos. Mas sinceramente, embora saiba que é um desafio, fico feliz que a data dos Jogos Olímpicos tenha sido alterada. Porque agora honestamente não era possível pensar nos Jogos Olímpicos, agora está a acontecer algo maior do que isso. Algo que diz respeito a todos, e devemos continuar a focar-nos ainda mais nesta batalha mundial. E quando os jogos olímpicos chegarem vou fazer de tudo para estar pronta para honrar a minha bandeira, e o mundo vai estar pronto para desfrutar e vamos celebrar ainda mais, juntos. Vai ser uma festa ainda maior, ainda mais bonita, ainda mais significativa. E fazer parte de uns Jogos Olímpicos nunca terá sido tão especial como será no próximo ano. #stayhome ☀️ 🙏☀️The Olympic Games are any athlete’s dream, the highlight of any career. All the preparation of the last few years – as always in each Olympic cycle – was done thinking about the 2020 Olympic Games in Tokyo, my last. But honestly, although I know it is a challenge, I am happy that the date of the Olympic Games has been changed. Because now it was honestly not possible to think about the Olympic Games, now something bigger than tha5t, and is happening. Something that concerns everyone, and we must continue to focus even more on this global battle. And when the Olympic games arrive, I will do everything to be ready to honor my flag, and the world will be ready to enjoy and we will celebrate even more, together. It will be even a bigger party, even more beautiful, even more meaningful. And being part of an Olympic Games will never have been as special as it will be next year. #stayhome ☀️ 🙏☀️

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Para além de Jorge Fonseca e Telma Monteiro, também Catarina Costa, Joana Ramos, Patrícia Sampaio, Bárbara Timo, Rochele Nunes e Anri Egutidze estão em lugar de apuramento olímpico.

No mundo do ténis, também a Federação Internacional de Ténis (FIT) apoiou a decisão do adiamento e que “vai continuar a colaborar totalmente com o COI até 2021”. A mensagem foi publicada nas redes sociais. O presidente do organismo, David Haggerty, disse que “embora esta seja uma deceção amarga para todos aqueles que se prepararam e treinaram muito, todos nós entendemos que a proteção da vida, da saúde e da segurança humana vêm em primeiro lugar“.

Para o presidente da Federação Portuguesa de Ténis (FPT), Vasco Costa, a decisão era “inevitável” e a “mais segura, atendendo à evolução da pandemia”. O presidente da FPT falou ainda que a atual situação “não tem só implicações na realização dos Jogos Olímpicos”, como “compromete também as fases de apuramento”.

O tenista João Sousa diz mesmo que esta “é uma notícia triste”, “mas é uma medida necessária para que tudo volte à normalidade e possa acontecer da melhor maneira”. A cumprir a quarentena em Guimarães, de onde é natural, o “conquistador” tenta ainda recuperar de uma lesão no pé esquerdo, sofrida no final da temporada passada.

Artigo editado Por Filipa Silva