Universidades, autarquias, ginásios, entre outras instituições já começaram a recorrer às redes sociais para combater o sedentarismo que pode estar inerente à quarentena. São vários os vídeos de aulas desportivas assistidas que qualquer pessoa pode seguir.
A expressão “mente sã em corpo são” lembra que a prática desportiva contribui para o bem-estar físico e psicológico do ser humanos. Em tempos de incerteza e de clausura, toda a ajuda é pouca no que a manter a sanidade mental diz respeito. Obrigados a passar muito tempo em casa devido à pandemia de COVID-19, alguns portugueses decidiram levar à letra a citação latina. Para tal, contam com a indispensável ajuda das redes sociais e do tão badalado “teletrabalho” de alguns instrutores para cumprir as metas de exercício físico que a si próprios impõem.
À primeira vista, pode ser encarado como um desafio, mas constitui também uma oportunidade. Segundo Enrique Oliveira, personal traniner (PT) de 32 anos, os dados falam por si. “Somos dos países da União Europeia com menos atividade física“, sustenta.
“Os portugueses foram colocados entre a espada e a parede e começam a perceber a urgência da situação, já que a DGS [Direção-Geral da Saúde] se farta de falar da importância da atividade física”, explica Enrique Oliveira. Apesar da quarentena profilática, o PT tem ajudado os seus seguidores de Instagram na prática de exercício físico através de aulas virtuais em direto e com planos de treino.
Aulas virtuais podem ser um mercado
Trabalhar à distância tem, para Enrique Oliveira, aspetos negativos. Contudo, também consegue encontrar o lado positivo: “não gosto de trabalhar à distância, mas a nível de trabalho pode ser uma janela de oportunidades. Há cada vez mais visualizações porque há muita gente que fica reticente a vir para o ginásio treinar, por várias razões. Essas pessoas, que nunca tinham treinado, começam por treinar em casa e isso pode ser um mercado: dar aulas virtuais”, conclui.
A Universidade do Porto e o Centro de Desporto da Universidade do Porto (CDUP) criaram o programa “UPFit em casa“. O programa dá a oportunidade a qualquer um de seguir aulas de instrução desportiva com instrutores profissionais. Para Bruno Almeida, diretor do CDUP, a experiência tem sido “muito positiva, temos tido feedbacks muito bons quer dos instrutores, quer dos alunos”, refere.
“Temos tido uma média de nove ou quase dez mil visualizações, o que é muito bom. Estamos a ganhar novas apetências e não somos só nós… Vejamos o que se passa nas escolas com alunos e professores. Estamos a reinventar a nossa forma de trabalhar“, reflete o diretor do CDUP.
Na mesma linha, já há autarquias a acompanhar a tendência. Esta segunda-feira, a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão informou que os famalicenses podem, através de diretos no facebook da Câmara Municipal, seguir aulas de atividade física online. A autarquia “não quer que o isolamento e distanciamento social sejam sinónimos de sedentarismo e falta de exercício físico”, segundo comunicado daquela entidade.
O documento dá conta de que o autarca, Paulo Cunha, procura com a iniciativa “chegar às pessoas que estão nas suas casas, levar-lhes alento e energia, porque o desporto cumpre uma função importantíssima na vida das pessoas, não só ao nível físico, mas também psicológico.”
Desportistas para todos os gostos
Há diferentes tipos de praticantes do desporto em casa. Como exemplifica Enrique Oliveira, há o praticante que aproveita o facto de não ter de ir ao ginásio para treinar a partir de casa; há quem já estivesse habituado a praticar exercício físico em contexto competitivo; e também há quem já treinasse regularmente no ginásio ou em casa.
Filipe Morais, nadador salvador de 23 anos, aproveitou o “conhecimento passado pelos profissionais no ginásio” e, hoje, consegue ser mais autónomo na hora de definir o treino. “Como já treino no ginásio há bastante tempo, cerca de dois ou três anos, não preciso de assistir às aulas online. Fiz o meu plano de treino, escrevi-o num papel e faço-o todos os dias”, explica.
Há também aqueles para quem a competição não pode parar. Apesar de ser aluna de mestrado de Genética Molecular na Universidade do Minho, Rafaela Oliveira, 21 anos, já representou Portugal num torneio europeu pela Liga Portuguesa de Karate Shotokan.
Em condições normais, conciliar as tarefas universitárias com as desportivas seria um problema para Rafaela mas, estando em casa, a karateca e estudante portuguesa consegue gerir melhor o tempo. “Estou a seguir treinos que um mestre de karate publica, apesar de não ser especificamente acompanhada por ele. Costumo treinar a meio da tarde para conciliar com os trabalhos da faculdade”, conta a jovem.
Em tempos difíceis, nos quais o sedentarismo se pode tornar numa realidade as aulas virtuais surgem como uma forma de o contornar. O exercício físico pode, assim, ser uma solução útil e saudável para fugir à monotonia de uma quarentena proflática.
Artigo editado por Filipa Silva.