Com 344 casos confirmados pela Direção-Geral da Saúde, Vila Nova de Gaia é esta segunda-feira (30) o terceiro município de Portugal com mais pessoas infetadas pelo novo coronavírus. O autarca Eduardo Vítor Rodrigues não esconde a preocupação que tem com “a capacidade de resposta dos hospitais e dos centros de ajuda para o que ainda aí vem”. Em alguns casos, admite que se começa a sentir uma exaustão por parte dos hospitais e dos profissionais de saúde, “que têm feito um trabalho extraordinário”. “Na verdade, nós ainda estamos numa fase inicial de todo este processo”, reconhece em declarações ao JPN.

A preocupação do presidente da Câmara de Gaia é também com o futuro do tecido empresarial local. “Já vemos empresas que vão ter muita dificuldade no final do mês de março e isto só afetou metade do mês. Agora imaginemos o mês de abril”, justifica. Gaia tem, principalmente, pequenas e médias empresas (PME) que, de uma forma geral, vão precisar de apoio. Para o autarca, tratam-se de preocupações socioeconómicas que é preciso “atalhar rapidamente”.

Contudo “mais do que identificar apoios é [necessário] identificar os setores vulneráveis”. Segundo Eduardo Vítor Rodrigues, é fundamental que os conjuntos de medidas lançados sejam direcionados para quem, efetivamente, perdeu rendimentos. “É bom que até em nome da coerência e do caráter finito do dinheiro – porque não há dinheiro para tudo – as medidas se direcionem àqueles que verdadeiramente precisam”, afirma.

Nesse sentido, destaca dois grupos: as famílias que têm perdido rendimentos e as PME – o tecido empresarial mais comum em Gaia e no país. “O que estamos a fazer é acompanhar as medidas do Governo com os nossos próprios serviços dentro do município e até fora do município”, garante o autarca.

“Uma resposta do município aos problemas concretos”

Como forma de apoio à população, a Câmara de Gaia tem desenvolvido algumas ações sociais. A oferta de cabazes a famílias carenciadas é um exemplo. Eduardo Vítor Rodrigues afirma que todas as iniciativas que têm sido lançadas são “previamente articuladas e validadas com os parceiros da rede social”. “É muito importante que as medidas não sejam uma ‘inspiração municipal’, mas sejam mais uma resposta do município aos problemas concretos”, acrescenta o autarca.

Destaca-se, neste sentido, o conjunto de medidas sociais avançadas pela Câmara Municipal já no dia 17 de março, que pretendem “apoiar os cidadãos, os mais vulneráveis e não só, e as empresas estabelecidas no concelho”, conforme se lê no site da autarquia. Entre estas medidas está, por exemplo, a criação de uma linha financeira municipal de apoio a juntas de freguesia e instituições sociais que promovam o apoio domiciliário a idosos isolados. A criação do centro de rastreios à COVID-19 foi também uma das ações implementadas.

Além do que já foi decretado, o presidente da Câmara de Gaia avançou ao JPN que está em avaliação “um conjunto de medidas direcionadas para alguns setores de atividade em concreto, por exemplo, a isenção da derrama [um imposto municipal] para as PME de Gaia”. O autarca falou ainda na possibilidade de isentar os taxistas de taxas municipais “como uma forma de apoio”, já que “são um grupo socioeconómico que tem sido profundamente abalado”, acrescenta.

No entanto, para Eduardo Vítor Rodrigues, mais importante do que estar a lançar pacotes de medidas é “perceber o que está a acontecer com o tecido social e rapidamente ir dando resposta às ‘novidades’ que surgem e aos dados novos que a realidade tem trazido”.

Centros de rastreio “a receber com uma cadência muito constante”

Gaia já tem dois postos de rastreio à COVID-19, um na Rua 14 de Outubro e o mais recente em Grijó. Segundo o presidente do município, ambos estão a cumprir o seu objetivo inicial: aliviar a pressão dos hospitais e ajudar a travar a progressão do coronavírus.

Desde o início é muito claro para o autarca que “os testes são, a seguir ao isolamento, o instrumento mais poderoso que existe no combate ao vírus”. Eduardo Vítor Rodrigues acha os testes de rastreio deviam ser feitos “até ao limite do possível, utilizando para isso recursos fora dos hospitais, porque os hospitais estão, neste momento, completamente focados – para não dizer atrofiados – com o tratamento dos infetados”.

Apesar de não saber dar números concretos, o autarca assegura que ambos os centros estão a funcionar bem e “a receber com uma cadência muito constante”. “A avaliação que me tem sido feita é muito positiva”, continua, “nunca há ali um aglomerado – até porque as marcações são previamente validadas pela Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte) e há uma cadência de horários para nunca haver filas – mas há uma constante circulação nos centros que é muito positiva”.

Além de Gaia, o JPN também tentou falar com os autarcas do Porto, Valongo, Matosinhos, Gondomar e Maia para avaliar impactos da crise e fazer um ponto de situação dos efeitos da pandemia em cada município, mas sem sucesso até ao fecho deste artigo.

Artigo editado por Filipa Silva