Os dirigentes das associações e federações académicas de várias universidades do país enviaram, esta quarta-feira, uma carta aberta ao ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. O documento exige respostas a questões relacionadas com a ação social. O JPN esteve à conversa com o presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Marcos Teixeira, e com o presidente da Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (AAUTAD), José Pinheiro, que descrevem as dificuldades financeiras dos estudantes no contexto de uma pandemia.

A carta, assinada pelos dirigentes de oito associações e federações académicas, apela a que “se evite uma crise no futuro”, para que “nenhum estudante abandone os estudos”. Além das dificuldades que alguns alunos têm “em ter computador e acesso à internet”, “em tempos de crise, quando as pessoas têm de fazer opções entre continuar os ciclos de estudo ou procurar emprego para assegurar algum rendimento, optam sempre pela segunda”, explica o presidente da FAP ao JPN.

Marcos Teixeira acredita que no mês de abril as famílias “vão sentir o verdadeiro efeito” da quebra de rendimento, visto que “em março, a maioria dos agregados familiares recebeu o rendimento normal”. Como tal, receia que a “taxa de abandono escolar” aumente, como aconteceu na “última crise financeira”, e que “os efeitos desta crise não desapareçam tão rápido como foram provocados”.

O presidente da AAUTAD partilha a mesma opinião e acrescenta que já nota este abandono. Existem também “pessoas que começam a colocar em questão por exemplo, o congelar da matrícula”, acrescenta. Para José Pinheiro, esta é “a maior preocupação” e acredita que tem de ser criada “uma linha de financiamento especifica para estes casos, mesmo para estudantes bolseiros e não bolseiros.”

O documento foi subscrito pelos presidentes de associações e federações de oito universidades:
Federação Académica do Porto (Marcos Teixeira);
Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (José Pinheiro);
Associação Académica da Universidade do Minho (Rui Oliveira);
Associação Académica da Universidade de Aveiro (António Alves);
Associação Académica da Universidade da Beira Interior (Ricardo Nora);
Associação Académica da Universidade do Algarve (Raquel Jacob);
Associação Académica da Universidade de Évora (Fernanda Barreiros);
Associação Académica de Lisboa (Bernardo Rodrigues).

Ambos os dirigentes apontam como objetivo da carta, para todos os subscritores, ter uma resposta às questões de ação social, para que seja possível “construir uma solução em conjunto”, declara o presidente da FAP. Contudo, considera que a resposta “depende só do Governo. Tem de ser o Governo a readaptar e a reforçar o sistema”.

Marcos Teixeira realça ainda que “no que toca ao sistema da ação social tem de haver uma resposta central, porque as instituições deixam de ter margem de manobra muito cedo”. Esta ideia é reforçada no texto dirigido ao ministro do Ensino Superior, onde se lê: “As IES [Instituições de Ensino Superior] e as estruturas académicas tudo têm feito para resolver todos os problemas que surgiram desta brusca mudança mas não nos peçam para fazer tudo”.

Quanto a questões académicas como as avaliações, aulas presenciais e laboratoriais e estágios, Marcos Teixeira afirma que “não são o foco da carta”. “Vão sendo resolvidas e têm vindo a ser resolvidas pelas instituições que têm autonomia para isso”, justifica.

O JPN tentou contactar todos os subscritores da carta, e também o Presidente da Associação Académica da Universidade de Coimbra, Daniel Azenha, para entender o motivo de não ter participado neste movimento, mas não teve sucesso.

Artigo editado por Filipa Silva.