A Direção-Geral da Saúde (DGS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm recebido críticas de profissionais do setor que acreditam que o uso de máscaras é essencial para conter o contágio do novo coronavírus.

Em entrevista a Lusa, o presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP) é o mais recente crítico da posição da DGS sobre esta questão. Fausto Pinto acredita que o uso da proteção nas áreas centrais de propagação do vírus é essencial para conter a disseminação.

Esta sexta-feira, em resposta às recentes críticas, a DGS publicou uma orientação na qual alarga as recomendações de uso de máscaras para outros grupos de profissionais e doentes imunodeprimidos, salientando que os profissionais de saúde continuam a ser prioritários para o uso do equipamento. A organização mantém uma posição contra o uso generalizado.

De acordo com a OMS, o uso deste equipamento também deve ser controlado. Recomenda a utilização em casos de suspeita ou de confirmação do vírus, além de o apontar como essencial para os profissionais da saúde. No entanto, esta posição é criticada, uma vez que as pessoas infetadas podem transmitir o vírus mesmo sem apresentar sintomas.

Carlos Martins, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que integra o Conselho de Escolas Médicas, afirma ao JPN que estas posições, tanto da DGS quanto da OMS, estão relacionadas com o receio de que “não existam máscaras em quantidades suficientes para assegurar a proteção dos profissionais de saúde.”

O professor defende o uso generalizado das máscaras e considera que cabe a estes organismos ensinar a população a utilizar o equipamento da forma correta, para que não haja propagação da doença.

“A máscara tem muito mais interesse do que aquilo que tem sido propagado pela OMS e a DGS. Há máscaras mais eficazes que outras, mas qualquer obstáculo que possa colocar à frente da boca, mesmo que um lenço, está a impedir na saída de gotículas da boca e dimunui o risco dessas pessoas infetarem ou se infetarem em sítios públicos”, explica por sua vez Altamiro da Costa Pereira, diretor da FMUP, ao JPN.

A OMS deixa disponível no seu site uma série de imagens informativas sobre o uso das máscaras cirúrgicas e explicando as situações em que devem ser utilizadas. Apesar da organização não defender o uso generalizado, os países da Ásia, que já têm uma cultura de utilização destas proteções, e alguns do ocidente, estão a adotar medidas que impõem o uso de máscaras. Esta sexta-feira, o governo de Espanha recomendou a todos os cidadãos que utilizem máscaras ou algum tipo de proteção nas vias aéreas ao sair de casa.

No Oriente, é comum a utilização destes equipamentos. Já “o ocidente foi apanhado sem nenhum plano de contingência”, nota Altamiro da Costa Pereira.

dois tipos principais de máscaras que estão a ser usadas no momento: máscaras cirúrgicas e as FFP2 (padrão europeu) ou N95 (padrão americano).

As FFP2 são máscaras com filtro e são capazes de bloquear qualquer propagação do vírus pelas vias aéreas, enquanto as máscaras cirúrgicas não conseguem garantir uma segurança de 100%. “Se todas as pessoas usarem uma proteção, mesmo que não 100% segura, vão dimunuir em muito a quantidade de gotículas que cada individuo liberta, reduzindo o número de contágio”, conclui Carlos Martins.

Mesmo os profissionais têm reclamado às autoridades mais materiais de proteção no contexto de uma doença muito contagiosa. O Governo tem feito anúncios quase diários de aquisição de equipamento e várias entidades do setor autárquico, privado, social e académico têm-se envolvido em projetos que visam reforçar os stocks portugueses. Na conferência de imprensa diária da DGS desta sexta-feira, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, anunciou a aquisição de 24 milhões de máscaras cirúrgicas até ao final de abril.

Artigo editado por Filipa Silva