Depois do Governo anunciar no passado dia 30 de março o reforço na realização de testes à COVID-19 em lares de idosos – com início nos distritos de Évora, Guarda, Algarve, Aveiro e Lisboa -, a Câmara Municipal de Bragança (CMB) e as comunidades intermunicipais do Alto Minho, Cávado e do Ave apelaram ao reforço dos testes nos lares de idosos destes municípios. Ao JPN, o presidente da CMB, Hernâni Venâncio Dias, aponta a falta de testes a Norte e diz que, num meio onde a população é essencialmente idosa, os “lares são bombas-relógio”.

Em comunicado enviado à imprensa, a Câmara de Bragança classifica como “manifestamente insuficiente” o número de testes à COVID-19 previstos para Portugal (dez mil), “tendo em conta o número de idosos e profissionais que desempenham funções” em lares.

Ao JPN, o autarca lembra que os idosos são a faixa etária predominante no distrito e explica também que “os lares são considerados bombas-relógio, a qualquer momento podem estar a descambar”, devido à falta de rastreio feita à população que vive nos estabelecimentos.

“Recorde-se que, de acordo, com os últimos dados do INE, reportados ao ano de 2018, a NUT Alto Trás-os-Montes é a segunda mais envelhecida do país, com um índice de envelhecimento de 301,6, sendo a média nacional de 159,4 e da região Norte de 159,6. Os concelhos do distrito de Bragança têm um índice de envelhecimento superior à média nacional, sendo que em 8 dos 12 concelhos deste distrito esse índice situa-se entre os 330,4 e os 596,8 (o sexto mais envelhecido de Portugal)”, lê-se no mesmo comunicado.

Para Hernâni Dias, é necessário prevenir o futuro, “ter uma perceção objetiva e real, para que não venha a acontecer o que está a acontecer noutros países, nomeadamente os nossos vizinhos, Espanha”. “Vão-se seguindo as cadeias de contágio, apenas, e não se age por antecipação ao perceber qual é a realidade que devíamos ter nos lares, quer ao nível da população idosa, quer também ao nível dos trabalhadores que estão afetos às instituições”, sustenta.

O autarca nota ainda que o rastreio nos lares que foi prometido não está a ser cumprido devido à falta de testes a Norte. Quanto aos testes já realizados, classifica como tardio o seu resultado uma vez que, muitas vezes, só chega depois de 72 horas.

Bragança disponibiliza apenas de uma unidade móvel de colheita de amostras, que são encaminhadas para o Hospital de São João, no Porto. Esse fator implica “custos acrescidos e atrasos no conhecimento dos resultados (chegando a 72 horas), revelando-se insuficiente para as necessidades do Distrito”, como consta no comunicado. 

Nesse sentido, a autarquia tomou medidas preventivas e avançou com a instalação de dois centros de rastreio à COVID-19: um deles no Pavilhão de Arnaldo Pereira, em Bragança, e outro em Mirandela, localizado no Hospital Terra Quente.

O objetivo, diz, é o de corresponder às necessidades e prioridades dos residentes, assim como “complementar a atividade da ULSNE [Unidade Local de Saúde do Nordeste], acelerando o rastreio à população”. Vão ser realizados até 400 testes por semana de forma a minimizar os custos, evitar deslocações desnecessárias.

Na tomada de posição, a autarquia pede ao Governo que assegure, “de imediato, a realização de testes nos territórios mais envelhecidos e vulneráveis à COVID-19, por forma a evitar a perda de vidas e a propagação do vírus, dando, desse modo, um contributo positivo nesta pandemia que afeta todos, mas de forma mais alarmante os territórios de baixa densidade.”

“Se acontecer alguma desgraça, alguém terá de ser responsabilizado por essa incúria de não terem sido tomadas as medidas necessárias na altura adequada e, portanto, terá de haver responsabilidades a todos os níveis se as coisas correrem mal”, remata Hernâni Dias ao JPN.

Uma decisão “imprudente, incompreensível e pode ser, em última instância, irreversível”

As Comunidades Intermunicipais (CIMs) do Alto Minho, do Cávado e do Ave também mostraram o seu descontentamento perante a situação. Num comunicado enviado à imprensa este sábado (04), “pedem urgência ao Governo no reforço imediato das medidas de prevenção e resolução das situações de alto risco já detetadas nos lares do Minho“.

Ainda na semana passada, no dia 31 de março, a CIM do Ave referia em comunicado de imprensa que “a decisão de não começar a testar lares de idosos nos Distritos que registam mais casos de COVID-19 é imprudente, incompreensível e pode ser, em última instância, irreversível.

No novo documento, que vem reforçar a tomada de posição daqueles municípios, pode ainda ler-se que há um “elevado número de infetados pelo Covid-19 no Minho, com especial incidência em lares de idosos, e estando a verificar-se múltiplas dificuldades de resposta do setor da saúde na disponibilização de testes e na celeridade das respostas, bem como da segurança social no encaminhamento das situações críticas entretanto ocorridas”.

Nesse sentido os autarcas das CIMs do Alto Minho, do Cávado e do Ave pedem ao Governo:

  • A disponibilização de testes de despistagem para as situações críticas que sejam referenciadas pelas autoridades de saúde nos lares de idosos do Minho;
  • Implementação de medidas de prevenção e contenção mais rígidas nos lares, nomeadamente nas admissões, nos controlos de temperatura à entrada e no aumento dos turnos dos colaboradores/funcionários dos lares.

A CIM do Ave é constituída por oito municípiosCabeceiras de Basto, Fafe, Guimarães, Mondim de Basto, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão. Com o comunicado os autarcas pretendem “demonstrar o seu desagrado com esta decisão do Governo, afirmando a sua total solidariedade para com as instituições da Zona Norte”.

Até ao momento, a Região Norte continua a ser a mais afetada pela COVID-19 em Portugal, contabilizando um total de 7.052 infetados e 186 vítimas mortais, de acordo com o boletim epidemológico da Diração-Geral da Saúde (DGS) desta terça-feira. Portugal conta já com 12.442 casos confirmados e um total de 345 mortes.

Artigo editado por Filipa Silva.